09 setembro 2010

Telemarketing


Eu sei que as pessoas tem que trabalhar e que nem todos podem ficar escolhendo de qual tipo de trabalho tirarão seu sustento, mas telemarketing está em uma das últimas colocações da lista "o que quero ser quando crescer".

Antes que os operadores de telemarketing comecem a me crucificar tenho a declarar a meu favor que já trabalhei com isso. Não era telemarketing ativo, eu apenas atendia as ligações dos consumidores e encaminhava ou resolvia as solicitações, mas o estresse era o mesmo: aguentar gente mau-humorada, nervosa, mau-educada gracinhas e de vez em quando até xingamentos.

Aconteceu dias desses. Eu estava trabalhando no escritório quando o telefone tocou. Era um rapaz oferecendo  uma nova, única e inédita promoção que um famoso jornal estava lançando. Falou sobre as vantagens, como funcionava e como eu era felizarda de poder aproveitar tudo aquilo. Eu ouvia tudo calmamente. 

Quando encerrou seu discurso perguntou:

- A senhora entendeu tudo?
- Sim

- A senhora tem alguma dúvida?
- Não

- A senhora mora en rua ou avenida?
- Rua

- Qual é o nome da rua?
- Por que você quer saber o nome da rua?

- Para cadastrá-la na promoção (entenda-se aqui para enviar jornais para minha casa e depois cobrar por isso)
- Mas você não perguntou se eu quero participar

- A senhora deseja participar?
- Não.

- Então obrigado e tenha uma boa tarde.


Confesso que a tentativa foi boa e tenho certeza de que muitos acabaram comprando o produto sem perceber. 

Infelizmente para o rapaz que ligou, uma das minhas manias é fazer análise do discurso.


06 setembro 2010

Destino: Buenos Aires - Dia 4 (parte B) : Jardín Japonês, sorvete e Barbie Store

A ideia, ao deixarmos o Jardín Botânico, era achar algum restaurante alí por perto. Pegamos uma das ruas próximas e fomos andando, andando, andando até que, quando nos demos conta, estávamos em pleno Palermo Viejo, o bairro dos moderninhos. Como a agitação por lá acontece à noite, o que encontramos foi um bairro de ruas calmas que estava ainda acordando (era pouco mais de meio-dia, hora que muitos ainda estão tomando o desayuno). Em algumas esquinas do bairro concentram-se restaurantes e bares e ao longo de algumas ruas namoramos vitrines de lojas moderninhas-cult-alternativas que definitivamente não eram para nossos bolsos. Já havíamos caminhado por uma hora quando, em uma esquina próxima à área dos outlets, encontramos um restaurante que parecia oferecer um bom custo-benefício. Infelizmente não gravei o nome do restaurante nem a localização exata. O restaurante era simples, não muito grande. 



Mais do que fome, tivemos que ter paciência, muita paciência. Lá dentro tudo acontecia em um ritmo mais lento. Vimos algumas pessoas (entre elas brasileiros) entrando, sentando, esperando um pouco e desistindo. Como não tínhamos pressa nos divertimos vendo quantas vezes a garçonete que estava atendendo nossa mesa simplesmente esquecia de nós. Daí era só olharmos bem fixamente para ela lembrar do que tínhamos pedido e vir correndo nos atender. Não sei o que ela fazia mas tinha horas que simplesmente sumia do restaurante.

Ainda bem que serviram alguns pãezinhos com patê para enganarmos a fome mas acho que a espera valeu a pena:

Esse prato imenso custou 45 pesos


Esse aí de cima era o prato para uma pessoa. Ainda bem que pedimos somente dois pratos para dividirmos em três. Esse é o famoso bife de chorizo. Na parte superior do prato temos anéis de cebola, batatas fritas, ovos fritos, presunto, ervilhas e pimentões. Definitivamente minha nutricionista não pode ver essa foto. Comendo desse jeito a gente imagina que vai engordar um monte, mas felizmente isso não aconteceu pois lá em BsAs também anda-se muito.

Saímos do restaurante por volta das três e meia à procura de um ônibus que nos levasse de volta à Plaza Itália e foi aí que descobrimos que existe um guia de ônibus que é vendido nas bancas de jornais por nove pesos. Eu diria que é bem prático principalmente para aqueles que ficarão vários dias na cidade e que querem economizar tempo e principalmente dinheiro optando por fazer os deslocamentos de ônibus. Além das linhas de ônibus o guia tem também um mapa com as linhas do metrô (os subtes) e dos trens (lá chamados de trenes).

Vou aproveitar para fazer um comentário sobre o transporte público de lá. Muitos que já foram para BsAS comentam que o melhor mesmo é optar pelos táxis cujos preços são bem mais baixos que os do Brasil. Usamos táxi duas vezes e realmente vale a pena. Mas por que não tentar os outros meios de transporte (fugindo, é claro, da hora do rush)? As tarifas tanto dos colectivos, quanto do subte e dos trenes são absurdamente menores que as daqui, isso porque são subsidiadas pelo governo. Pode-se imaginar que com o baixo valor talvez a qualidade do serviço seja inferior, mas não foi isso que vimos. Para todos os lugares que fomos havia ao menos uma linha do subte passando por perto, e quando não, com certeza haveria alguma linha de colectivo cobrindo aquela região. Mas o que me deixou impressionada foi que não esperamos mais de quatro ou cinco minutos pelo metrô e nunca, não importando o dia ou a hora, mais de dez minutos pelo ônibus. 

Enfim, conseguimos achar um colectivo que nos deixou perto da nossa próxima parada, o Jardín Japonês.

A colônia japonesa da cidade o projetou em 1967 para agradecer o acolhimento recebido. Dez anos depois, ima paisagista o redesenhou inspirando-se nos jardins zen, que antecedem os templos no Japão. Há 350 espécies  de plantas nativas japonesas (bonsais, inclusive), carpários, lagos, pontes e recantos para meditação. (Guia O melhor de Buenos Aires - Editora Abril)

Paga-se para entrar, se não me engano foram 8 pesos por pessoa, mas achei justo. O lugar é muito bem cuidado. Tem de tudo que se pode esperar de um jardim: plantas, lago, ponte de madeira, pequenas quedas d'água, passarinhos, peixes. Tem também um restaurante, uma lojinha de lembranças e uma sala com espaço para esposições que fica dentro de uma espécie de centro cultural, que, creio, seja usado para ministrar os cursos que são oferecidos por lá. Só acho que a parte da meditação fica de fora pois o movimento de pessoas estava grande nesse dia.

















Saindo do Jardín Japonês atravessamos as 12 (!) pistas da Avenida Del Libertador e fomos, apesar do frio, tomar um sorvete na Un Altra Volta.

Avenida Del Libertador
Essa casquinha chama-se "cucurucho" e, mesmo sendo a menor opção, vem MUITO sorvete!
 E para terminar bem o dia que havia começado meio torto fui visitar a Barbie Store, porque afinal de contas eu também sou menina.

E a Barbie Store não vende...Barbies! Mas tem loja de roupas (quase todas cor-de-rosa), salão de beleza  para as meninas (quase tudo é cor-de-rosa), café da Barbie (onde até os doces são cor-de-rosa) e um salão de festas (onde provavelmente  tudo deve ser cor-de-rosa)


Seria esse o Fusca da Barbie?


E o melhor e o pior do dia vai para


Thumbs up  Jardín Botânico e Jardín Japonês

Angry  O colectivo para o Temaiken

05 setembro 2010

Colírio

Alerta: Mulherzinha MODE ON

Já é de conhecimento comum que não só os homens ficam alvoroçados quando aparece uma mulher bonita, seja ao vivo ou na tevê. As mulheres também fazem isso. Algumas são mais recatadas, já outras... A questão é que, tirando meu tempo de adolescente, quando eu colecionava os "Colírios" da revista Capricho, nunca fui de reparar muito nos tais atributos masculinos que geralmente fazem uma mulher virar (quando não, perder) a cabeça. Trabalhei por alguns meses em uma loja de artigos para policiais militares. Éramos quatro, três vendedoras mais a moça do caixa, e sempre quando aparecia um policial mais bonitão eu era a última a perceber algo de mais, enquanto as outras três já estavam comendo o coitado com os olhos. 

E assim vivia eu, me importando mais com o conjunto da obra (e isso inclui cérebro) do que com coxas, bundas e músculos. Vivia, até a última aula de Literatura Inglesa.

Estamos estudando algumas peças em inglês e entre elas está "A streetcar named desire". Para facilitar o entendimento a professora leva, a cada aula, uma versão fílmica da peça estudada. No final da última aula foi dada uma rápida explicação sobre o enredo e os personagens desta peça. A professora falou sobre o filme que foi feito baseado na obra e sobre alguns personagens dando especial ênfase para o personagem interpretado por Marlon Brando, mais especificamente para a cena em que ele troca de camisa.

Eu, que não sou muito atenta a esses detalhes, pensei: tá, Marlon Brando me lembra O Poderoso Chefão. Acho que é um pouco de exagero, afinal uma troca de camisa em um filme preto e branco de 1951 não pode ter nada de tão extraordinário.

Bem, está na hora de eu rever meus conceitos. 

O olhar, o tórax, os braços, o ar de não-tô-nem-aí, a troca de camisa, tudo isso cria um conjunto da obra perfeito. E quem se preocupa com cérebro nessa hora? 

Se eu ainda tivesse um mural com os Colírios da Capricho esse aqui teria um lugar de honra:




Mulherzinha MODE OFF

04 setembro 2010

Destino: Buenos Aires - Dia 4 (parte A) : passeio cancelado, Jardín Botânico e gatos, muitos gatos

(Este post ficou bem extenso. Para facilitar a leitura resolvi dividí-lo em duas partes - A e B. Aqui vai a parte A.)


 Como fiquei desde o começo do ano pesquisando, lendo e pensando nesta viagem eu já tinha em mente alguns lugares que  gostaria de visitar, além daqueles óbvios do tipo Obelisco e Casa Rosada. Um deles era o Temaiken, uma mistura de zoológico e parque ecológico, que fica fora de Buenos Aires. Para chegar até lá a linha de ônibus indicada é a do  semirrápido 60 que parte da Plaza Itália e deixa os visitantes na entrada do parque. Neste quarto dia de viagem saímos  cedo do apartamento, pegamos o metrô e chegamos até a praça. O problema é que não tínhamos moedas, item de primeira  necessidade no quesito transporte coletivo.


El colectivo






 Explico: os colectivos (como são chamados os ônibus em BsAs) não têm cobrador e nem catracas, somente motorista. Quem  cobra a passagem é uma máquina de moedas posicionada logo após o assento do motorista. E sendo uma máquina de moedas  ela só aceita, moedas! Descobrimos isso em nosso segundo dia quando tentamos pegar um ônibus e pagar com cédulas ao  que o motorista apenas repetia “monedas, monedas!” Funciona assim, você entra no colectivo, diz para o motorista o  cruzamento mais próximo do lugar em que quer desembarcar e quantas pessoas são (no nosso caso a frase decorada para


 voltar para o apartamento era “três hasta pena” ou “três pueyrredon com pena"). Ele então aperta uma maquininha que  fica no painel do colectivo e imediatamente o valor da viagem aparece no visor da maquina de moedas. Daí é só ir  colocando as moedas até alcançar o valor cobrado (o mesmo principio das máquinas de refrigerante). É devolvido troco  quando necessário e sai até um minirrecibo.



 Trocamos algumas moedas na bilheteria do metrô mas precisávamos de mais pois não sabíamos o valor exato da passagem.  Tentamos então uma banca de revistas e um kiosco, sem sucesso: eles não trocaram nem um peso sequer e nos indicaram o  banco. Fomos então até a agência do Banco de La Nación que fica próximo à Plaza Itália.



Plaza Itália e lá atrás a agência do Banco de La Nación Argentina





 O Banco de La Nación merece um parêntese: sem caixas eletrônicos ou terminais de autosserviço, nesta agência que fui  só havia um caixa eletrônico na entrada. Também não havia detectores de metal e nem aquela irritante porta giratória  que te faz tirar quase toda a roupa. Como alerta, somente um recado grudado na parede “Desligue o celular”.  Inacreditavelmente em um canto, ao lado da porta de entrada, havia uma barraquinha onde uma mulher vendia água,  biscoito, chocolates e balas. Um camelô dentro da agência! As pessoas que trabalham no banco ficam atrás de longo balcão  de madeira e existe uma fila somente para a troca de moedas. Você entrega uma cédula de 20 pesos e recebe em troca um  saquinho já preparado com moedas de 1 peso. Estava explicado porque ninguém fora do banco trocava moedas.





 Saindo do banco fomos procurar o ponto da linha 60. Depois de contornar toda a praça e entrar no ônibus errado (era 60  mas fazia outro trajeto, vai entender), achamos o ponto final, compramos os bilhetes (AR$ 6,50 por pessoa ida e volta)  e ficamos esperando o motorista aparecer. Quando entramos no ônibus eu tive uma leve desconfiança de que aquilo não ia  dar certo. Como este ônibus vai além dos limites de BsAs o veículo era um daqueles usados em viagens intermunicipais  (os chamados “ônibus de viagem”) mas na minha modesta opinião aquilo não deveria transitar nem dentro da cidade. Por  fora as laterais e as janelas eram todas cobertas com propagandas o que fazia com que o interior do ônibus, além de  ser sujo e abafado, ficasse escuro também. As poltronas eram todas velhas e gastas e alguns assentos estavam  quebrados. Um dos membros da nossa viagem,  que já não passa bem em viagens de ônibus, provavelmente não iria sobreviver às quase duas horas que separavam o  centro de BsAs do Temaiken. Enquanto decidíamos se continuávamos ou não, o ônibus se afastava do centro da cidade e,  antes que ficássemos no meio da estrada decidimos descer. Não seria dessa vez que conheceríamos o bioparque.





 Voltando para a Plaza Itália decidimos fazer um passeio mais ameno: o Jardín Botânico.



São cinco mil espécies de plantas dos cinco continentes, agrupadas pelo local de origem em um terreno de 87 mil metros quadrados. Inaugurado em 1898, foi idealizado e desenhado pelo paisagistas francês Charles Thays. Há três estilos no jardim: o simétrico (de inspiração francesa), o paisagista (com estilo inglês) e o misto. Também há uma seção com a flora argentina, exibindo espécies típicas de cada província. Tem ainda jardim romano, escola de jardinagem e museu botânico. As incontáveis esculturas são de autoria de artistas locais. (Guia O Melhor de Buenos Aires - Editora Abril)




Algumas partes do local estavam em reforma com a construção de novos caminhos entre os canteiros, mas isso não tirou a beleza do lugar. Quando se está lá dentro nem parece que estamos cercados de prédios e ruas movimentadas tamanha a tranquilidade do lugar. As poucas pessoas que se animaram a dar uma caminhada naquela manhã gelada tentavam se aquecer um pouco descansando sob o sol, sentadas nos bancos espalhados pelo jardim. 

Além dos canteiros e estufas com plantas das mais diferentes espécies, também enfeitam o local inúmeras estátuas. Algumas delas são reproduções de obras famosas.





Outra coisa que não falta por lá são gatos. Eu nunca havia visto tantos gatos em um só local. E eles são abusados. Basta você sentar em um dos bancos para que um apareça, vá ganhando sua confiança até se instalar no seu colo. 


Já era meio-dia quando deixamos o Jardín Botânico e fomos procurar um restaurante.


continua no próximo post 

03 setembro 2010

The Raven

Eu sei. Agosto já se foi e meus posts sobre Buenos Aires pararam no tempo. Desta vez eu tenho uma boa desculpa. Passei os últimos dois dias quebrando a cabeça para fazer um resumo do texto "The Philosopy of Composition" em que o senhor Edgar A. Poe explica como foi o processo de criação do poema The Raven. Para aumentar o grau de dificuldade o resumo teria que ser em inglês. Ontem entreguei o texto e agora estou dependendo da generosidade da professora.

Mas agora eu terei pela frente cinco dias de folga e prometi a mim mesma que colocarei tudo em dia.

Se não for dessa vez...

18 agosto 2010

Dia 3 - Destino: Buenos Aires - Medialunas, Casa Rosada e Galerias Pacífico


Para começar bem o dia e espantar o frio resolvemos tomar nosso café da manhã - o desayuno - no Frattempo - um restaurante-pizzaria que fica a meia quadra de distância de onde estávamos hospedados. 

Para quem for ficar na região da Pueyrredon, eu recomendo. A comida é muito boa e o atendimento também. Aproveitamos e pedimos uma das promoções de desayuno que estava estampada na porta: uma xícara de café com leite + um copo pequeno de suco de  laranja + três medialunas; tudo isso por 10 pesos (R$ 5,00). Se tem uma coisa que não se pode deixar de provar é a  medialuna, pode ser com ou sem recheio, não importa, coma quantas puder. A medialuna lembra um croissant só que é  deliciosamente doce e pode ser servida com ou sem recheio, fria ou tostada. Eu comi sem recheio, fria e também tostada  com recheio de queijo e presunto. Além do café-com-leite, do suco e das medialunas o garçon também nos trouxe um  pratinho com mini-churros açucarados. Uma delícia!



Saindo do restaurante aproveitamos para conhecer um pouco mais o bairro e fomos a pé até a El Ateneo Grand Splendid. Esta livraria está localizada onde antes era um velho cinema. O prédio foi reformado e hoje, se não me engano, ela é a segunda mais famosa livraria do mundo. Eu já considerava a Livraria Cultura do Conjunto Nacional uma coisa fora de série mas a El Ateneo roubou meu coração.


 Como estava ficando cada vez mais frio decidimos comprar mais blusas e fomos para o centro. Antes das compras, porém  tentamos visitar o prédio dos correios – uma construção gigantesca que ocupa uma quadra inteira – mas estava em  reforma. Então fomos andando até alcançar a Casa Rosada mas, como só abre para visitação nos fins de semana, ficamos  devendo uma visita para a dona Cristina. Seguimos pela Plaza de Mayo e chegamos até a Catedral Metropolitana. 

Casa Rosada

Plaza de Mayo

La Catedral Metropolitana

Dentro da Catedral
Saindo da Catedral rumamos para a famosa Calle Florida que se espalha por dez quarteirões exclusivos para pedestres. A Florida é uma das ruas comerciais mais movimentadas de Buenos Aires. Pense em uma rua do centro de São Paulo ou Rio de Janeiro e imagine a confusão: quiosques, ambulantes, apresentações de música, vendedores de show de tango e principalmente, muitos, mas muitos brasileiros. Para vocês terem uma ideia, até uma das moças que estava anunciando um show de tango era brasileira.

Saímos da confusão da Florida e caímos na aglomeração da Galerías Pacífico. Ela é chamada de galeria mas lembra muito mais um shopping com lojas de marcas famosas e praça de alimentação. Como já era tarde resolvemos almoçar por lá. Péssima idéia. Escolhemos um restaurante que servia basicamente carne - diversos tipos de corte - e, apesar da carne ser bem macia, a quantidade não satisfez e o preço era salgado.
Ainda na Galerias Pacífico fica o Centro Cultural Borges onde são realizadas exposições de fotografia, escultura e pintura bem como apresentações teatrais para adultos e crianças.

Como os preços não estavam muito convidativos fomos até as Lojas Falabella, uma espécie de loja de departamentos bem famosa por lá. Na própria Calle Florida há três filiais da loja, uma de produtos femininos, outra de produtos masculinos e a terceira somente com artigos de decoração. Arrematamos duas blusas de frio para os rapazes e como já passava das oito da noite pegamos o metrô e voltamos para o apartamento. 

Dica preciosa: Se você não quer tumulto e principalmente, não quer encontrar um monte de brasileiros fuja de lugares como a Calle Florida. Agora, se você curte uma muvuca, aquele é o lugar certo.

E o melhor e o pior do dia vai para...

Thumbs up  As medialunas da Frattempo.

Angry  O almoço nas Galerias Pacífico.


12 agosto 2010

Gripe



As postagens sobre minhas férias em Buenos Aires estão atrasadas devido ao início das aulas na faculdade (o semestre promete ser bem cansativo), ao frio que chegou em Curitiba sem ter dia certo para partir mas, principalmente, a uma gripe que resolveu aparecer de última hora.

Mas não se preocupem pois até o final da semana um post com o relato do Dia 3 estará no ar.
Até lá, muito agasalho e chá de limão.

04 agosto 2010

Destino: Buenos Aires - Dia 2: Metrô, Starbucks e outlets

Depois de uma boa noite de sono estávamos prontos para outra. Por mim acordaria cedo, tomaria café e já sairia para a rua, mas em BsAs as coisas acontecem em um ritmo diferente. Primeiro que o sol só dava as caras depois das sete e meia da manhã, as lojas só começam a abrir depois das dez e muitas atrações turísticas ficam fechadas de segunda e terça-feira. Outro detalhe importante era o frio e foi isso o que fez com que saíssemos de casa à procura de roupas de inverno. Aliás, nunca saia sem conferir na tv qual é a sensação térmica. As emissoras de tv de lá sempre estampam na tela a temperatura e a sensação térmica (identificada pela sigla ST). A partir da ST é que decidíamos o quanto de roupa vestiríamos naquele dia e a quantidade era sempre inversamente proporcional à temperatura.

Conferindo a ST na Crônica TV - quase oito da manhã e la térmica estava abaixo de zero
A região de outlets fica em Palermo, mas antes de chegar até lá fomos conhecer o Shopping Abasto e realizar uma pesquisa de preços.

"O maior shopping da cidade já foi um importante mercado municipal, de frutas de verduras, erguido no fim do século 19. Remodelado em 1934, ajudou a fazer florescer o tango. Gardel era um dos que frequentavam o lugar.(...) Há um monumento a ele em frente ao shopping. Entre outros detalhes, mantém as abóbodas e os grandes vãos livres. É lindo. (...)" - Guia O melhor de Buenos Aires - Editora Abril

As abóbodas do Shopping Abasto
Realmente o Abasto chama a atenção. Além da bela arquitetura possui 12 salas de cinema (espalhadas por 3 andares!), o Museo de los niños (um museu feito especialmente para as crianças) e uma loja da Starbucks. Como essa franquia ainda não chegou aqui em Curitiba é claro que fui lá conferir se o café é tão bom quanto a fama da marca. E não é que é bom mesmo! (detalhe: eu não gosto de café). 

Não era bem café mas valeu mesmo assim.
Já esse aqui era café mesmo.
Outra vantagem do Abasto é que existe uma saída do metrô que vai dar direto dentro do shopping. Aliás, andar de metrô (lá chamado de Subte) por BsAs é muito útil pois as estações ficam próximas a quase todas as atrações turísticas. As linhas são identificadas por cores e por letras e é possível fazer conexão entre uma linha e outra. Além disso é rápido - não ficamos esperando na estação por mais de cinco minutos - e barato, 1,10 pesos, menos de sessenta centavos de real! Na bilheteria é possível comprar bilhetes com 1, 2, 5 ou 10 passagens. E é claro que, como em qualquer outra grande cidade, é aconselhável evitar a hora do rush.

Filas no Subte na hora do "rush"

Subte - Estación Carlos Gardel

Deixando o Abasto pegamos o Subte e rumamos para Palermo. A região dos outlets fica concentrada basicamente ao redor do cruzamento da Calle Aguirre com a Calle Gurruchaga e ao longo da Avenida Córdoba. Estando lá é só escolher desde Puma e Nike passando por Brooksfield e La Coste até Christian Dior e Yves Saint Laurent. A lista de outlets tanto de marcas internacionais quanto nacionais é imensa e os preços são realmente mais em conta. 
Essa parte de Palermo pode ser tanto um paraíso de compras como pode transformar-se em perdição para os consumistas de plantão, especialmente aqueles que tem uma quedinha por roupas de grife. Mas se você sempre sonhou em ter uma roupa de determinada marca e nunca pode por falta de verba, lá é o lugar certo para realizar seu sonho de consumo. Mas veja bem, os preços das marcas famosas não são uma pechincha, para mim continuam caros, mas o que é caro-inatingível para você aqui no Brasil pode tornar-se um caro-mais-tolerável lá em BsAs.

Com apenas dez minutos de caminhada pela Córdoba percebemos que a região havia sido tomada por brasileiros atrás de ofertas. Nas ruas e nas lojas ouvíamos mais português do que castelhano. Comprovação de que realmente está todo mundo querendo aproveitar a valorização do real perante o peso.

Já estava começando a escurecer quando nos demos conta de que não havíamos passado por uma determinada loja (lembram do que eu falei sobre pessoas com quedinha por roupas de grife?) e começamos a procurar em algumas ruas mais afastadas. Como estava difícil de achar a tal loja fomos pedir informação. Pedimos ajuda para três pessoas diferentes e cada uma delas nos mandava para um lugar distinto. O relógio já marcava quase oito da noite quando decidimos parar de andar em círculos e, antes que fossêmos assaltados pois as ruas estavam ficando cada vez mais desertas, decidimos ir embora. 

Para o jantar saboreamos uma pizza deliciosa no Frattempo, a apenas meia quadra do apartamento, na Pueyrredon, 1907.

Uma das melhores pizzas que já comi.


Dica preciosa: se for aos outlets calce um sapato confortável e separe somente um dia (inteiro se possível) para isso, caso contrário você se empolga e acaba deixando outros passeios legais de lado.

E o melhor e o pior do dia vai para...

Thumbs up  A pizza da Frattempo.

Angry  Ficar feito barata tonta atrás de uma loja à noite correndo o risco de ser assaltado.

02 agosto 2010

Destino: Buenos Aires

Dia 1 - Filas, final da Copa do Mundo e comprovação da Lei de Murph

Onze de Julho, final da Copa do Mundo. Nosso itinerário era Curitiba - Porto Alegre - Buenos Aires. O voo saiu no horário previsto, 10:00 da manhã, e, se tudo corresse bem, chegaríamos no apartamento a tempo de assistir ao jogo. Como o horário previsto para chegada no aeroporto de Ezeiza era as 14:00 agendamos nossa chegada ao apartamento para as 15:30. Um funcionário da empresa que fez a locação do imóvel estaria nos aguardando no local para entregar as chaves e receber o valor do aluguel. Para facilitar as coisas também havia contratado um carro para nos levar do aeroporto até o apartamento. Como tínhamos horário marcado não podíamos perder tempo. Mas Murph é nosso amigo...

Já estávamos em Porto Alegre, dentro do avião, quando o comandante resolveu dar boas vindas aos passageiros e informar que, devido a um congestionamento no espaço aéreo do Uruguai (ou algo assim) teríamos que aguardar 40 minutos na pista até que a decolagem fosse autorizada. E o pior é nem dava para avisar a pessoa que estava nos aguardando em BsAs.
O avião pousou em Ezeiza com uns 40 ou 50 minutos de atraso, se fôssemos rápidos ainda daria para chegar   ao apartamento dentro do prazo. Mas todo esse pensamento positivo foi por água abaixo ao nos depararmos  com a fila na imigração, a fila para pegar a bagagem e a fila para sair da área de desembarque. Havíamos levado dólares para pagar o apartamento mas precisávamos de pesos para pagar o carro e eu ainda precisava dar um jeito de avisar que chegaríamos atrasados em BsAs. A primeira alternativa seria trocar os dólares por pesos na agência do Banco de La Nación que funciona dentro do aeroporto. Mas adivinhem se não tinha fila lá? A segunda alternativa era sacar pesos diretamente em um caixa eletrônico usando um cartão de débito que a moça do banco, aqui no Brasil, garantiu que estaria desbloqueado para saques. Mas ao invés de pesos o que recebemos foi uma mensagem informando que tal operação estava bloqueada. Resolvemos então ir até o balcão da locadora de veículos tentar fazer o pagamento em dólares mesmo. Felizmente eles aceitaram e ainda ligaram para o apartamento avisando que estávamos atrasados. Nisso apareceu um rapazote de nome Leandro que nos acompanhou até o carro. O engraçado foi que, depois de devidamente instalados no veículo e prontos para partir, o rapaz postou-se ao lado da porta do carro, olhando para meu namorado com a mão estendida - haviámos esquecido da propina (Não me entendam mal, lá "gorjeta" é chamada de "propina"). Para nossa sorte tínhamos alguns pesos dados como troco no free-shop.

Ufa! Finalmente estávamos a caminho. Enquanto olhava a paisagem, ouvia a narração da final da Copa do Mundo no rádio do carro abafada vez por outra pelo sotaque carregado do nosso chofer - o simpático Florentim - que nos dava dicas de passeios, informava qual era a rede de supermercado mais barateira e já avisava que a Recoleta era um bairro muito bonito, porém um pouco mais caro que os demais. 

Olha, pode até ser mais caro, mas que é bonito pra caramba, disso eu não tenho dúvidas. Ao entrarmos no bairro entendi porque muitas pessoas recomendam a Recoleta para hospedagem: as ruas e avenidas principais são largas e bem arborizadas, além de limpas; há pelo menos dois cafés em cada quarterão e as construções são um show à parte. Tem desde prédios grandes e modernos onde funcionam os chamados sanatórios (para nós hospitais) que mais parecem hotéis até construções bem antigas com a arquitetura bem datada, e muito bem conservadas. Mas, o que mais me chamou a atenção foram os prédios residenciais (na Recoleta quase não existem casas ou construções de um só nível) quase todos de seis a oito andares e todos, não importando se tivessem uma fachada larga ou uma bem limitada, têm pelo menos um balcão, o que dá um ar todo romântico ao local. E mesmo com a arquitetura das fachadas variando de prédio para prédio o fato das construções serem quase todas da mesma altura garante uma visão harmônica.

Avenida Pueyrredon com Peña - Recoleta


Quando dei por mim já estávamos em frente ao prédio onde iríamos "morar" pelos próximo dez dias. Combinamos com o senhor Florentin de ele vir nos pegar no dia do nosso retorno e caminhamos até a porta do edifício. Alí, ao lado da campainha, estava um bilhete endereçado a mim. O tal bilhete informava que Jorge - o funcionário da empresa que aluga os apartamentos - havia nos aguardado das 15:30 às 16:30 mas teve que ir a outro local atender outro check in e pedia que ligássemos para um determinado número de telefone a fim de remarcar um horário para a entrega das chaves. Sabe que horas eram? 16:35. Por apenas cinco minutos havíamos nos desencontrado. Resumindo: eu estava cansada, com fome e na rua.

Com os pesos que nos restavam compramos um chip para celular mais alguns créditos para ligar para o Jorge e... o celular não funcionou! (o maldito chip só foi ativado três horas depois). Também não tínhamos moedas para ligar do telefone público e quando eu estava quase perdendo as esperanças a simpática dona da banca de revistas que fica em frente ao prédio (beijo dona Marta!), e que estava acompanhando todo nosso drama, se apiedou da nossa situação (ou percebeu que poderíamos espantar seu clientes, sei lá) e nos emprestou seu celular. Ligação feita, dalí meia hora o Jorge estaria ali novamente. Resolvemos então gastar essa meia hora dentro de um café que ficava na mesma quadra, comendo medialunas e assistindo à final da Copa. 

Para encurtar esse longo post devo informar que tudo acabou bem e terminamos nosso Domingo comendo o chocolate comprado no free-shop e assistindo ao Homer Simpson (ou Homero como é conhecido por lá) na tevê a cabo.

Dica preciosa: mesmo que dê trabalho e que o câmbio não esteja favorável LEVE PESOS do Brasil e não confie que seu cartão vai funcionar no caixa eletrônico do aeroporto, em pleno Domingo. 

E o melhor e o pior do dia vai para...

Thumbs up  O primeiro contato com Buenos Aires; a simpatia do senhor Florentim e a ajuda da dona Marta.


Angry  Chegar em Buenos Aires sem nenhum peso.

31 julho 2010

Férias!

Finalmente, depois de alguns desencontros, consegui coordenar as minhas férias com as do meu namorado e do meu filho. Nada de encher o saco na casa de parentes ou "curtir uma praia" em Matinhos (quem mora em Curitiba me entenderá), desta vez as férias seriam com "efe" maiúsculo. O destino? Buenos Aires.

Como grande parte da viagem foi planejada através de dicas que li em blogs e sites de pessoas que moram ou já foram para lá, achei que seria legal eu também fazer o meu relato de viagem (não sei porque isso me lembrou aquelas redações: O que você fez nas suas férias?). Como ficamos em BsAs por dez dias vou elaborar um post para cada um dos dias contando tudo (ou quase) o que fizemos e o que vimos por lá.

Chegamos na cidade no dia 11 de julho mas a viagem já havia começado alguns meses antes com os preparativos...

Alguém me disse ou eu li em algum lugar que toda viagem começa na internet. Isso é verdade. Foi navegando pelos sites que defini dois ítens fundamentais: passagem e hospedagem. Uma ferramenta útil para pesquisar e comparar o valor de passagens aéreas é o site do Submarino Viagens. Você escreve lá para onde quer ir e as datas de saída e retorno e como resposta vem uma lista com os valores das passagens e das companhias aéreas que operam no trecho solicitado. O site faz até uma comparação de valores. Dá pra pedir também uma pesquisa combinando passagem mais hospedagem. A partir desses valores de referência já dá para  ter uma idéia de quanto vai custar a sua viagem. Não posso dizer se o serviço desse site é realmente bom pois acabei comprando as passagens direto da companhia aérea, por ter um valor um pouco menor que o anunciado pelo Submarino. 

Já para a hospedagem a pesquisa foi um pouco mais demorada. Após ler alguns guias e sites de viagem fugimos do óbvio e, ao invés de procurarmos um hotel no centro de BsAs, decidimos que ficaríamos hospedados no bairro da Recoleta. Alguns motivos para esta escolha estão aqui.

Bairro escolhido agora era a hora de ir atrás do melhor custo-benefício. Pensando com mente de muquirana procurei por algum aparthotel pois, se a grana ficasse curta, poderíamos sobreviver à base de miojo e pão com margarina e para isso uma minicozinha seria essencial. Já estava ficando cansada de pesquisar preços quando sem querer descobri este site, decididamente um achado. Para saber se o negócio era bom mesmo fiz mais algumas pesquisas e achei até um dossiê sobre o aluguel de apartamentos em BsAs. Então era só somar 1+1. Fazendo uma pesquisa rápida no Submarino encontrei hotéis com valores a partir de R$ 154,00 a diária para duas pessoas. Alugamos um apartamento na Recoleta e economizamos pelo menos a metade do valor que pagaríamos em um hotel. Ah, o apartamento escolhido foi esse aqui. E sim, as fotos e a descrição são fiéis à realidade. Eu recomendo muitíssimo o aluguel de um apartamento em BsAs se você for ficar pelo menos de 5 a 7 dias. No link que eu coloquei ali em cima (dossiê sobre aluguel de apartamento) existem várias opções de empresas que oferecem esse serviço. A escolha por uma delas ficará por conta do seu bolso e do seu gosto.

Passagens compradas e apartamento alugado, me restava esperar o grande dia.

                                                                      foto tirada daqui

17 fevereiro 2010

Beco


Poema do Beco - Manuel Bandeira



Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do horizonte?

- O que eu vejo é o beco.




23 janeiro 2010

Na Natureza Selvagem

Busca pela essência da vida. Este é o tema principal do filme Na Natureza Selvagem (Into the Wild), lançado em 2007 e dirigido por Sean Penn. O filme reproduz a história real de Chistopher McCandless (Emile Hirsch), jovem recém-formado que, contrariando a vontade dos pais, abre mão do curso de direito em Harvard, coloca uma mochila nas costas e, durante dois anos, viaja pelos estados da Dakota do Sul, Arizona e Califórnia.

Durante sua jornada Christopher muda seu nome para Alexander Supertramp e tem a oportunidade de conviver com pessoas diferentes daquelas a que estava habituado: um casal hippie, um fazendeiro e um senhor que lutou na guerra. De algum modo Christopher consegue provocar uma mudança na vida dessas pessoas e, em contrapartida, o relacionamento com essas personagens faz com que aumente nele o desejo de alcançar a sua essência fazendo com que ele, após dois anos vivendo como andarilho, parta para seu destino final: o Alasca selvagem. Neste distante estado americano Christopher se vê cercado de nada além de neve e tem como único companheiro seu diário de viagem, no qual registra seus fracassos, reflexões, descobertas e conquistas. Aos poucos ele vai eliminando qualquer resquício da sociedade à qual pertencia, e que não aceitava, e tenta integrar-se à natureza.

A busca pela essência, ou pelo sentido da vida, é um tema bastante explorado pela arte seja através da literatura, da música ou de filmes e, principalmente no cinema, o risco de um filme transformar-se em uma obra puramente motivacional é muito grande. No entanto, o diretor conseguiu tornar a história de um homem que seria considerado simplesmente um maluco em algo altamente reflexivo. O ser humano inúmeras vezes sente-se insatisfeito com a sociedade da qual faz parte, mas ainda assim precisa dela para sobreviver. Cria-se assim uma relação de negação e submissão. Uma vez que o poder da sociedade sobre o indivíduo é quase sempre maior que o poder do homem sobre ele mesmo, torna-se menos doloroso submeter-se à sociedade do que confrontá-la ou abandoná-la. Na Natureza Selvagem consegue despertar na mente do telespectador mais atento questionamentos e reflexões acerca do papel da sociedade e dos indivíduos dentro dela, que permanecem ativos por alguns dias após o contato com a história de Christopher. Não é um filme que se resolve com a exibição dos créditos. Pelo contrário, ele continua sendo reprisado dentro da mente de quem o assiste e esse é seu grande mérito.

22 janeiro 2010

Filosofia de restaurante a quilo


Quem trabalha fora o dia inteiro fatalmente terá que almoçar em um restaurante a quilo – os famosos self-service. Dos mais simples aos mais sofisticados todos são unânimes em um aspecto: a grande quantidade de opções. Em um só prato você poderá dispor lado a lado as culinárias brasileira, francesa, italiana, espanhola, árabe, chinesa, japonesa e ucraniana. É praticamente a volta ao mundo em menos de 20 garfadas. Por um lado isso é bom pois dá o poder de escolha: num dia podemos almoçar somente sushi e sashimi, já no outro é possível desenhar no prato um verdadeiro mapa múndi. Mas existe uma desvantagem. Imaginem a seguinte cena: a pessoa chega ao restaurante, pega seu prato e se coloca no início daquele interminável buffet, começa a andar e escolher quais tipos de comida farão parte do seu almoço. Pega um pouco disso, um pouco daquilo, uma salada, um pedaço de carne e acha que já é suficiente Mas, um pouco adiante há um pedaço de empadão de frango com uma aparência bem apetitosa e ainda uma farofa que merece ser degustada. Então, apesar de já ter no prato risoto, batatas assadas, bife à parmegiana e um pouquinho de talharim ao molho branco (só para provar), não será justo deixar o empadão e a farofa fora da festa e assim lá vão eles para a mesa. Isso sem falar na sobremesa. Só quando nos sentamos à mesa e encaramos nosso prato é que nos damos conta que exageramos, tanto na quantidade quanto na variedade.

A vida parece um longo e interminável buffet de restaurante a quilo. Com o passar do tempo mais e mais opções vão surgindo. De bandas de rock à roteiros de viagens, nada é pouco ou comedido; tudo é muito e grandioso. Acho que todos concordamos que a vida é curta e sendo assim deve ser bem aproveitada. O problema é que por ser “bem aproveitada” entende-se “fazer-tudo-ao-mesmo-tempo-agora”. Ler o máximo de livros que conseguir, assistir a todos os lançamentos de filmes nos cinemas mas sem esquecer dos clássicos, acompanhar todas as séries e novelas na tv, ir a todo e qualquer novo ou velho restaurante que recomendarem, viajar para todos os “100 lugares que você deve conhecer antes de morrer” (mesmo que você tenha apenas um mês de férias por ano), comparecer a todos os aniversários sem esquecer dos presentes, fazer cursos de fotografia, teatro, artesanato, culinária, floricultura, maquiagem definitiva e etiqueta social, ter aulas de kung-fu, natação, boxe, piano, bandolin, equitação e trabalhos manuais sem esquecer de reservar meia hora por dia para a meditação. E todas essas coisas são apenas os acompanhamentos pois ainda há o arroz com feijão: trabalho, família, amigos, amores e desamores.

Quando crianças somos apresentados a este grande banquete mas ainda não nos servimos sozinhos. Sempre há um adulto ajudando a escolher e, na maioria das vezes, decidindo qual o melhor alimento. Mas, à medida que nos tornamos independentes, as escolhas ficam por nossa conta.

O problema é que somos gulosos, comemos com os olhos, queremos provar de tudo. Fazemos tal mistura em nosso prato que no final não conseguimos identificar o gosto de nenhum alimento. A vida torna-se uma verdadeira bagunça. Iniciamos várias coisas mas não conseguimos continuar com todas elas. Umas porque não são tão gostosas como pensávamos e outras porque tornaram-se indigestas. No final ficamos com um prato cheio de sobras.

Mas como resistir ao pecado da gula?

Tudo é uma questão de escolha. Ao invés de seguir uma dieta recheada de festas, comida e bebida por que não optar por uma mais ligth? Você não vai morrer se ficar sem comer brigadeiro. A satisfação de iniciar e terminar um projeto e vê-lo bem feito é bem maior do que estar em vários outros mas não conseguir chegar ao fim da metade deles.

Tem dias que tudo o que quero é comer um bom feijão com arroz e ovo frito.


*foto Flickr - Galeria de Qlis