25 maio 2007

O caçador de pipas

Certamente você já deve ter visto ou ouvido falar deste livro. Já faz um certo tempo que ele permanece na prateleira dos mais vendidos e parece que isso ainda vai longe. A príncipio este romance não chamou minha atenção das vezes em que eu fui dar minha volta habitual pelas livrarias. Mas acontece que eu tinha que fazer uma resenha pra faculdade (minha primeira resenha) e tinha que escolher um dentre os livros indicados. Tentei "O processo" do Kafka - sufocante (embora, é claro, que vou lê-lo ainda) - e o "Retrato de Dorian Gray" do Oscar Wilde - cansativo no início (mas é claro que está na minha lista). Tinha também "Madame Bovary" do Gustave Flaubert - não sei se vou lê-lo um dia pois aqueles que fizeram a resenha deste livro fizeram o favor de contar o final. Então escolhi "O caçador de pipas". Li duas vezes e lá fui eu fazer a resenha. Como nunca tinha feito isso tentei buscar inspiração na Revista Entre Livros - ela tem uma boa sessão de resenhas - mas as coisas por lá só me confundiram, cada resenha era de um jeito. O jeito era eu fazer do meu jeito. Devo dizer que nisso o Umberto Eco me ajudou muito com os seus "Seis passeios pelos bosques da ficção" (nota : Umberto Eco escritor italiano que escreveu O nome da Rosa. Sim, foi um livro antes de virar filme com o James Bond, digo, com o Sean Connery no papel principal. Vocês não sabiam disso? Nem eu! Até o dia que a professora pôs o título desse livro na lista para as resenhas. ) Continuando, consegui fazer a resenha e entreguei. Só estava então aguardando a nota pra saber se eu já podia encerrar a minha ainda não iniciada carreira de crítica literária. A professora então devolveu as resenhas corrigidas e não é que eu tirei um nove! Não me perguntem como. Só dêem uma olhadinha na resenha e se acharem boa leiam o livro e se não acharem, leiam também, afinal o livro é muito bom.

O caçador de pipas – Khaled Hosseini

Tradução : Maria Helena Rouanet
Editora Nova Fronteira


Meninos correndo atrás de pipas coloridas. É através de cenas como essa que Khaled Hosseini nos mostra em seu livro de estréia, O caçador de pipas, que crianças serão sempre crianças em qualquer parte do mundo. Apesar da narrativa ter como pano de fundo a invasão do Afeganistão pelos russos e seu posterior domínio pelo Talibã , o que nos dá a impressão de que a realidade vivida pelas personagens em Cabul é muito distante da nossa realidade, Hosseini consegue passar aos seus leitores a sensação de que os fatos ocorridos durante a infância de Amir e Hassan poderiam acontecer a qualquer tempo e com qualquer pessoa. Mas não é só da amizade entre dois meninos que o livro trata. O tempo todo a história nos põe em contato com valores e sentimentos diversos : lealdade, confiança, coragem, poder, covardia, egoísmo.

O caçador de pipas é o primeiro romance desse médico afegão que, juntamente com sua família, refugiou-se nos Estados Unidos após a invasão do Afeganistão pelos russos. Não é difícil pensar no livro como uma autobiografia. Amir, o narrador, e Hosseini nasceram na mesma época, tinham uma boa situação financeira quando viviam em seu país e buscaram abrigo na América quando tiveram que fugir do regime comunista. O fato é que, sendo ou não uma autobiografia, a história consegue ser verdadeira e até mesmo emocionar.

Nos primeiros capítulos do livro o autor impõe um ritmo agradável à narrativa e a leitura chega a ser bem prazerosa. Mas isso não se mantêm durante toda a história. Principalmente nos capítulos finais, quando é mostrado um Afeganistão destruído por guerras, temos a mesma sensação que tem Amir, o narrador, quando volta à sua pátria após muitos anos longe de casa, parece que estamos entrando em um outro mundo.

Amir, o menino privilegiado, filho de um bem sucedido comerciante, causa inveja aos outros garotos quando chega à escola no Ford Mustang preto de seu pai. Ele, embora tenha tudo o que precisa, não tem tudo o que gostaria de ter. Falta-lhe a mãe, que nem chegou a conhecer, e um pai mais presente. Essa falta faz com que ele se revele uma personagem frágil e carente de confiança. Esses fatos talvez até justificassem sua tendência à covardia não fosse a comparação inevitável com Hassan, seu empregado.

Hassan teria bons motivos para se mostrar uma personagem tão frágil quanto Amir : pobre, abandonado pela mãe, e considerado inferior por ser um hazara, um membro da etnia discriminada no Afeganistão. Apesar disso Hassan era corajoso e totalmente devotado à Amir.

A história tem início em Dezembro de 2001 com Amir já adulto vivendo nos Estados Unidos. A primeira frase do livro faz uma alusão a um fato ocorrido no inverno de 1975 que teria mudado bruscamente a vida de Amir fazendo-o fugir de seu passado:

“ Eu me tornei o que sou hoje aos doze anos, em um dia nublado e gélido do inverno de 1975.”

Durante os sete primeiros capítulos o narrador volta em torno de 28 anos no tempo, na época em que era apenas uma criança afegã, para narrar sua infância em Cabul. Em meio às brincadeiras e travessuras de Hassan e Amir vamos descobrindo pouco a pouco um Afeganistão bem diferente do que vemos hoje pela TV. O narrador sai de 2001 e volta à década de 70 quando Amir tem por volta de 10 a 12 anos de idade. A narrativa principal se mantêm entre os anos de 1973 até 1975 embora não exista uma seqüência clara de acontecimentos. É como se fosse uma grande colcha de retalhos. Os pedacinhos de lembrança vão vindo à mente do jovem Amir e vão sendo costurados uns aos outros. Em certos momentos a narrativa volta ainda mais no tempo para lembrar de cenas como o nascimento de Hassan ou até mesmo o casamento de Baba, pai de Amir. Embora sem uma ordem cronológica precisa o leitor em nenhum momento se sente perdido na narrativa. A impressão que se tem é que passamos junto com Amir e Hassan uma preguiçosa tarde de verão. Existem vários momentos divertidos como quando os meninos descobrem que seu grande ídolo do cinema, John Wayne, não falava farsi e não era iraniano. Existem também momentos tensos como aquele em que os garotos são ameaçados por Assef e seus colegas.

A narrativa é toda feita sob a perspectiva de um único personagem desta maneira não existe uma boa visão da diferença de classes daquela época e o que isso causava nos sentimentos das demais personagens. Como Amir era rico, filho de um pai que, embora acompanhasse algumas tradições, não levava a religião muito à sério, não há no livro uma visão aprofundada dos costumes afegãos.

Embora no princípio a história proporcione uma leitura leve, sem muitas descrições, detalhes ou conflitos psicológicos a todo momento o narrador deixa claro que algo ruim está para acontecer o que dá à trama uma crescente tensão que culmina com a agressão à Amir. A partir desse ponto a história perde a leveza e fica mais grave. O autor, nos sete primeiros capítulos vem pouco a pouco trabalhando com a delicada relação de Amir e Hassan e se não fosse desta maneira talvez o que aconteceu naquele dia de inverno de 1975 não tivesse um peso tão grande na narrativa. Hassan e Amir cresceram juntos, mamaram no mesmo peito, eram companheiros inseparáveis e a lealdade de Hassan era surpreendente. Mas mesmo assim Amir não considerava o empregado seu amigo. Na verdade existe aí um conflito entre o que a religião prega e os sentimentos cultivados desde o berço :

“Nada disso importa. Porque não é fácil superar a história. Tampouco a religião. Afinal de contas, eu era pashtun, e ele, hazara; eu era sunita, e ele, xiita, e nada conseguiria modificar isso. Nada.”

“Mas éramos duas crianças que tinham aprendido a engatinhar juntas, e não havia história, etnia, sociedade ou religião que pudesse alterar isso.”


Na primeira parte da história a narrativa vai até o ano de 1976. Após isso há um salto no tempo e vamos encontrar o narrador já com 18 anos em Março de 1981, fugindo com Baba para os Estados Unidos. Desse ponto em diante tem-se uma narrativa linear até alguns anos após a casamento de Amir com Soraya então tem-se um novo salto no tempo da narrativa até Junho de 2001, quando Amir recebe um telefonema do Paquistão.

A chegada de Amir aos Estados Unidos confere um novo ar à narrativa. Por incrível que pareça é na América e não no Afeganistão que o leitor tem um contato um pouco maior com a cultura afegã. Esse contato porém, não é muito estreito já que o autor não se preocupa em aprofundar as explicações acerca da tradição de seu povo. Isso é coerente uma vez que o narrador nunca manteve uma proximidade com os costumes de sua terra natal.

Hosseini por pelo menos duas vezes usa de um artifício muito interressante para “quebrar” o fluxo da narrativa num momento importante da história. A primeira interrupção acontece no dia do campeonato de pipas quando Amir está prestes a presenciar a cena que o acompanharia pelo resto da vida. A segunda é quando Amir, já adulto, volta ao Afeganistão e acaba sendo agredido. Nesses dois momentos o desenvolvimento normal da ação é interrompido para dar lugar às lembranças do narrador. Isso faz com que aumente a atenção do leitor e o sue interesse em saber o que aconteceu.

A narrativa fica tensa e pesada com a volta de Amir ao Afeganistão anos após sua partida. Nesse momento é apresentado um país totalmente destruído. Nem mesmo Amir consegue reconhecê-lo. O que acontece a partir desse ponto é uma aceleração da narrativa devido a um aumento cada vez maior da tensão:

“ – Bismillah! Bismillah! – exclamou ele, arregalando os olhos ao me ver. Passou meu braço pelos seus ombros e me levantou no colo. Sempre correndo, me levou para o furgão. Acho que gritei. Vi as suas sandálias golpeando o chão e batendo em seus calcanhares escuros e calejados. Respirar doía. Depois, lá estava eu olhando para o teto do Land Cruiser, deitado no banco de trás, naquele estofamento bege e rasgado, e ouvindo o “bip, bip, bip” indicando que as portas estavam abertas. Ouvi passos apressados em redor do carro. Farid e Sohrab trocando algumas palavras rapidamente. As portas batendo e o barulho do motor sendo ligado. O carro arrancou e senti uma mão pequenina na minha testa. Sohrab soluçava. Farid continuava repetindo ‘Bismillah! Bismillah!’. “

O caçador de pipas consegue manter a narrativa bem próxima à realidade. Não existem grandes reviravoltas, tais como o bandido que se transforma em mocinho no final, ou algo do gênero. O único senão está na maneira como Amir consegue salvar-se nos capítulos finais do livro mas nada que comprometa a história como um todo. O livro é um grande sucesso de público pois tem uma linguagem acessível; os fatos acontecem em sua maioria em um país do oriente médio o que parece ser uma tendência nos últimos dois anos e fala de sentimentos comuns a qualquer pessoa estando ou não no Afeganistão. Apesar da grande aceitação e de vários comentários favoráveis certamente O caçador de pipas não se tornará um clássico, mas, é um livro que merece atenção.

21 maio 2007

Os dias estão passando mais rápido?

Um dia você para, olha para o calendário e diz "Nossa! Já estamos em Maio! Mas ainda ontem era Janeiro!" Será que tem algum gatuno furtando as horas dos nossos dias, fazendo com que o mês se vá num piscar de olhos? E quando chega aquela famosa e já batida retrospectica de fim de ano você, incrédulo, percebe que aquela notícia bombástica que você jurava não ter mais que um mês de vida já ficou velha e foi passada para trás. O que será que acontece com o Tempo? será que a Terra se revoltou (mais) e resolveu girar mais rápido? Falta tempo pra tudo : estudar, trabalhar, passear, namorar, ser mãe, filha, irmã e principalmente dormir. Ah...dormir... Mas eu não posso me dar a esse luxo! Uma hora de sono a mais significa uma hora a menos que eu terei para tentar cumprir aquela lista interminável de tarefas a que eu me propus. Tudo bem que hoje realmente o mundo está mais acelerado, exigindo que você seja mais e mais rápido mas será que não é hora de pisar no freio? Nem que seja um pouquinho só. Sábado aconteceu uma coisa, digamos, engraçada. Eu tinha aula às oito da manhã então como sempre faço coloquei o celular para despertar às seis e quinze para dar tempo de me arrumar, tomar café, não ter que pagar ônibus muito lotado, etc. Pois bem, minha irmã esqueceu de desprogramar o celular dela e às vinte pras seis da madrugada de um sábado o tal celular me acordou. Felizmente consegui pegar no sono de novo só que daí cadê do meu celular despertar? Acordei às quinze pras sete (hora de estar quase saindo de casa) e aí já viu : troca de roupa, escova os dentes, arruma a bolsa e tenta engolir um potinho de iogurte tudo isso simultâneamente e em no máximo cinco minutos. Bom, consegui pegar o ônibus perto de casa e podia muito bem seguir com o mesmo até meu destino final mas daí vejo um outro ônibus que é mais rápido e vem aquela idéia brilhante "Vou descer aqui e pegar o outro ônibus que eu chego mais rápido". Resultado : o tal ônibus não era o que eu achava ser. Toca esperar o próximo ônibus. Pensei "paciência, já estou atrasada mesmo, agora vou bem sossegada". E assim fui. Consegui pegar outro ônibus vazio (coisa quase sobrenatural naquele horário) e cheguei na aula às oito em ponto.

Depois disso resolvi fazer as pazes com o Tempo : não adianta querer fazer com que ele se adapte à mim, eu é que tenho que me adaptar à ele, assim quem sabe paramos de brigar e ele colabora comigo.

20 maio 2007

Hora de dormir...

Eu ia escrever alguma coisa bem interessante mas como o sono bloqueia minha parte criativa e eu, pra variar, estou com sono só vou deixar registrado aqui meu agradecimento às duas mãozinhas que me ajudaram a dar uma roupinha mais "clean" pras Minhas Fabulosidades.