04 novembro 2010

Ei! Isso é importante!



Quando eu era criança morava longe da minha tia e só nos encontrávamos duas vezes por ano. Para todo o resto do tempo em que ficávamos longe a saudade era diminuída através de cartas. Minha mãe escrevia para meus avós todos os meses e, assim que eu aprendi a escrever, ela incentivou-me a também escrever para minha tia. Como muitas vezes eu não fazia ideia do que botar no papel era minha mãe que ditava algumas frases para me ajudar, mas o importante naquela época não era exatamente o conteúdo da carta e sim o fato de alguém de longe reservar um tempo da sua vida para pensar no outro. Receber uma carta no meu nome era uma alegria imensa. 


Depois da tia vieram as amigas de escola e os namorados, e as cartinhas continuavam ali, mostrando para alguém querido que mesmo longe eu não o esquecia. Até que veio a Internet. Chegaram os e-mails, o MSN, Orkut, Skype, Twitter  e todas as suas variações. Através dessas ferramentas reencontrei velhos amigos e fiz novos e agora posso falar com eles sempre que quiser. Posso? Com exceção dos atuais colegas da faculdade raramente escrevo para alguém e raramente alguém me escreve. Quando abro meu e-mail pela manhã sempre encontro umas cinco novas mensagens: são os clubes de desconto, as atualizações dos sites que leio e um recado da professora para a próxima aula, esses nunca  esquecem de mim. Já nem me lembro (se é que existiu) a última vez em que alguém escreveu para mim simplesmente para perguntar como eu estava ou para contar uma novidade. É claro que hoje tudo o que eu quiser saber posso encontrar no Twitter mas, e podem me chamar de antiquada, ainda que mensagens no Twitter e no Facebook sejam escritas especialmente para mim fica aquela sensação de coisa impessoal, instantânea. 

Tenho minha parcela de culpa. Achei que com o advento de tantas novas ferramentas eu conseguiria ficar mais próxima dos amigos e da família. Isso não aconteceu. Por ter quase sempre a garantia de acesso a tal pessoa a qualquer hora do dia, simplesmente esquecemos de uma coisa fundamental: usar tal acesso. Confesso, por preguiça e pressa muitas vezes deixei de responder algumas mensagens e também enviei mensagens que nunca tiveram resposta. Vez ou outra no Orkut ou no Facebook vou “visitar” algum amigo. Abro seu álbum de fotos para acompanhar as novidades, olho tudo com interesse e depois vou embora. É assim que todo mundo faz certo? Errado. Faltou alguma coisa. Faltou dizer “gostei do seu cabelo novo” “que legal a sua viagem, você se divertiu bastante?” “nossa, como seu filho está lindo” “quanto tempo não te vejo, senti sua falta”. Não vale comentário em foto ou escrever no Twitter. Se não pode ser olho no olho e se por carta dá muito trabalho, que seja pelo menos por e-mail, direcionado somente para mim. Não precisa colocar nenhum anexo, não precisa ser extenso. Uma frase bem escrita basta. Sinto falta de escrever e sinto mais ainda quando ninguém me escreve.

Da próxima vez que receber um e-mail meu leia com carinho e, antes de apagá-lo, considere a possibilidade de respondê-lo. Lembre-se somente de que isso é importante para nós.

31 outubro 2010

Capitão Nascimento, herói grego?


Uma coisa que venho notando é que, à medida que adquiro um conhecimento teórico sobre determinado assunto, mais difícil fica ocupar o papel de simples espectadora. Explico. Embora curse Letras e não Cinema, este é um assunto bastante discutido nas aulas de literatura uma vez que muitos filmes são adaptações de livros ou peças de teatro. Assim, comparando uma arte com a outra, é difícil não perceber algumas estratégias escondidas por trás das tramas.

Há duas semanas fui assistir ao filme Tropa de Elite 2. O que chamou minha atenção logo no início foi a cena quando, surpreendido em uma emboscada, ouvimos a voz do agora Comandante Nascimento dizendo (não recordo as palavras exatas) que na hora da morte vemos toda a nossa vida passar diante dos nossos olhos. Isso é clichê, obviamente, mas mesmo nisso o personagem adianta-se pois admite justamente que sim, isso é clichê.  Enquanto os créditos iniciais vão aparecendo na tela, são mostradas cenas do primeiro filme. Essas cenas servem como retomada (e mesmo promoção) do primeiro filme e também representam a vida que é revivida na hora da morte.

O filme prossegue, dessa vez com um pouco menos de violência gratuita e com uma trama mais elaborada. Nascimento segue tomando decisões e praticando ações que acredita estarem corretas. É essa sua ruína.
É claro que enquanto estava no cinema, acompanhava a ação como uma espectadora comum, com as mesmas reações das outras pessoas. Somente durante a semana um detalhe chamou a minha atenção.
Já no final do filme o Comandante Nascimento, derrotado e destituído de seu lugar, é chamado a depor em uma CPI e então, para alívio da audiência, finalmente abre o jogo e libera todos seus demônios. É a sua catarse.

Catarse, coisa difícil de entender e de explicar. Uma pesquisa rápida no Google trás que Catarse (do grego "kátharsis") é uma palavra utilizada em diversos contextos, como a tragédia, a medicina ou  a psicanálise, que significa "purificação", "evacuação" ou "purgação". Segundo Aristóteles, a catarse refere-se à purificação das almas por meio de uma descarga emocional provocada por um drama.  Segundo o filósofo, para suscitar a catarse era preciso que o herói passasse da dita para a desdita, ou seja, da graça  para a desgraça. E mais ainda: não pode ser por acaso, e sim por uma desmedida, ou seja, por uma ação ou escolha mal  feita do herói.

Um exemplo clássico de catarse é a história de Édipo-Rei que, acreditando estar tomando a ação correta, tenta fugir de uma maldição (Édipo mataria o próprio pai e casaria com a mãe) e acaba indo justamente de encontro a ela. Ao descobrir a verdade Édipo passa por um sofrimento supremo e depois alcança a libertação.

Em uma cena dramática, a catarse que acomete os personagens é “transferida” para a audiência que, de alguma forma, passa tanto pelo sofrimento quanto pela libertação. É essa a função do drama. E é isso o que acontece no filme.
Influenciada pelo primeiro Tropa de Elite, a audiência já sabe do lado de quem vai ficar e, ainda que esse lado seja tão violento quanto o dos bandidos, tudo pode ser justificado pois afinal de contas é o “bem” combatendo o “mal”.

Nascimento acredita que finalmente, ocupando um alto cargo no serviço de inteligência, terá o poder necessário para varrer da cidade do Rio de Janeiro tudo aquilo que a deteriora. Ele realmente crê estar no caminho certo (aqui está a “ação ou escolha mal feita do herói”). E estaria, não fosse um inimigo maior. Um inimigo que nos chama pelo nome, entra na nossa casa, aperta nossa mão e nos rouba sem pegar em armas. Os traficantes, sabemos que não estão a nosso favor, mas e os políticos? Publicamente tudo o que fazem é para o nosso bem. Para o nosso bem?

Com a “ajuda” dos políticos, Nascimento cai em desgraça. O público cai com ele. Durante toda a trama vemos o lado de lá em vantagem e sofremos sentados, sem ação. Para nosso alívio, já na CPI, Nascimento pede a palavra e, diante de uma platéia formada por políticos, despeja tudo o que estava enroscado na sua (nossa) garganta.

É a nossa purificação. Nossa catarse.

27 outubro 2010

Na sala de espera

Fui ao médico. Sentada na sala de espera do consultório aguardava a minha vez de ser atendida. Na mesma sala de espera havia um senhor de cabelos já brancos e uma mulher vestindo calça jeans, moletom e tênis. O senhor, se não me engano, foi consultar-se com a endocrinologista – algo relacionado com diabetes. Já a mulher foi até ali para uma sessão de acupuntura. Estávamos os três em silêncio (não puxo conversa em salas de espera). Providencialmente, como há em todas as salas de espera, naquela também havia revistas. O senhor de cabelos brancos lia uma edição antiga da Veja e a mulher de moletom folheava uma revista Caras. Eu não peguei nenhuma revista. Fiquei adiantando as leituras da faculdade. Não havia ainda me livrado da primeira página quando ouvi um barulho de papel sendo rasgado. Olhei para a mulher de moletom enquanto ela, bem lentamente, rasgava uma página da revista. Com a página já solta ela a dobrou no meio, e no meio novamente e guardou-a no bolso. Eu fiquei ali, olhando para aquela cena e pensando que aquilo era uma tremenda falta de educação. Não pelo valor da revista velha, que é com certeza quase nenhum, e nem pelas outras pessoas que não poderão ler aquela página pois certamente, ainda que pudessem, dificilmente o fariam. Foi simplesmente uma falta de educação. Ainda que não tenham valor, aquelas revistas estavam ali porque alguém se preocupou em deixá-las acessíveis para aqueles que quisessem lê-las. É um bem de uso comum e como tal deve ser usado, conservado e disponibilizado para o próximo. A mulher do moletom poderia, já que pareceu gostar tanto da tal página, ter ido até a recepcionista e perguntado se podia ficar com aquela página ou até com a revista inteira. Com certeza não haveria nenhum problema nisso.  Será que estou exagerando, afinal era só uma revista velha?


Sinto que não. O que me fez pensar foi a atitude totalmente desprovida de cuidado e atenção com uma coisa que, apesar  de não ser de ninguém, é de todos. Ela rasgou aquela folha com um descaso que fazia tempo eu não notava em alguém. Foi  um pequeno ato egoísta, um quase imperceptível ato egoísta, concordo. 

Mas tudo começa pequeno, não é verdade?

15 outubro 2010

Hoje é o dia deles (e o meu também)

Quando eu tinha uns oito ou nove anos de vez em quando alguém aparecia com a seguinte pergunta: O que você quer ser quando crescer? Não tenho uma boa lembrança do que os garotos respondiam, mas poucos, felizmente, diziam querer ser jogadores de futebol. Já as meninas variavam suas respostas entre modelo e professora, algumas chegando até mesmo a querer ser as duas coisas ao mesmo tempo (hoje eu teria medo de fazer tal pergunta pois a resposta poderia ser algo do tipo participante de reality show ou mulher de pagodeiro e/ou de jogador de futebol).

Devo confessar que eu e minhas amigas sempre brincávamos de “modelo”. Inventávamos uma passarela, criávamos nomes artísticos e esbanjávamos toda a graça e o charme que somente uma menina de oito anos pode ter. Mas bem lá no fundo o que eu queria mesmo era ser professora. As professoras eram para mim um porto seguro fora de casa. Algumas eram bravas, outras exigentes, mas todas tinham algo em comum: demonstravam ter amor pela profissão, coisa rara nos dias de hoje. Não vou aqui discutir questões como remuneração, reconhecimento e qualidade do ensino, mas se o número de pessoas que escolhem essa profissão diminuiu, algum bom motivo existe para isso.

Mas quero falar hoje sobre minha troca de papéis: de aluna passei a (quase) professora. Aquele desejo de criança ficou ali guardado por muitos anos. Terminei o ensino fundamental, o médio, fiquei grávida, fui trabalhar e um dia me deu aquela vontade louca de voltar a estudar. Fiz vestibular e passei para cursar Letras na UFPR, mais especificamente Inglês. Quero deixar claro que quase sempre estudei em escolas públicas e, sendo assim, o ensino de Língua Inglesa nunca foi prioridade. Ano após ano aprendia e desaprendia o verbo to be, uma eterna recorrência. Avanço significativo no aprendizado da língua estrangeira não tive quase nenhum. Fiz aqui e ali, quando sobrava algum dinheiro, cursos em escolas de idioma, mas nunca passei do segundo nível. Foi assim, com pouco inglês mas muita vontade, que entrei na faculdade. O primeiro dia de aula, lembro-me bem, foi um dos piores dias do curso. A professora despejava seu inglês em cima dos alunos e os alunos faziam uma cara do tipo “o que eu estou fazendo aqui?”. Havia na turma alunos com um inglês mais avançado, o que tornava as aulas ainda mais difíceis para mim. Terminei aquele meu primeiro dia na faculdade com uma certeza: aqueles próximos cinco anos não seriam fáceis.

Decidi correr por fora e me matriculei no curso de inglês do centro de línguas da Universidade. Trabalhava durante todo o dia, ia para a faculdade à noite e aos sábados para o curso de inglês. Os avanços aconteciam, mas eram tímidos. Muitas vezes pensei em desistir do Inglês e cursar somente o Português. Mas eu não podia fazer isso. Desde de criança, nas minhas brincadeiras, eu fingia falar inglês, ou algo que eu pensava ser isso. Enrolava bem a língua e saía conversando com bonecas e amigos imaginários.

Guardei a insegurança num cantinho, segui em frente e acho, tive mais acertos que erros. A prova de fogo aconteceu este semestre. Quando se está na posição de aluno, ainda que as coisas sejam difíceis, você tem a desculpa de que ainda está aprendendo ou, a justificativa mais fácil, que a culpa é do professor. Mas quando se está do lado de cá da sala de aula? Para qual lado correr quando se tem uma turma inteira com a confiança de que você sabe tudo (lembram? minhas professoras eram meu porto seguro fora de casa)?. Pela primeira vez estive do lado de cá da sala de aula e senti um misto de medo e realização. Medo, pois hoje sei que professores não sabem tudo e, ainda que não tenha saído da faculdade (o fim está próximo, e com isso me vem um misto de alívio e tristeza), sinto-me realizada por saber que aquela caloura que não sabia quase nada hoje sabe que precisa aprender mais a cada momento para quem sabe, um dia, ser o porto seguro de alguém.


16 setembro 2010

Destino: Buenos Aires - Dia 5: Muito frio, Parque de La Costa e passeio de catamarã

Seguíamos nosso ritual diário de conferir a sensação térmica:



E nem sempre tínhamos boas notícias (menos 0,4! já que era pra sentir frio, podia ao menos nevar)

Esse foi o dia mais volta-à-infância de toda a viagem. Nosso passeio de hoje? Parque de la Costa.

Para chegar até lá fomos de subte até a Estación de Trenes Retiro (uma belíssima estação, por sinal) e de lá pegamos um tren até Mitre. Na estación Mitre basta atravessar uma passarela para chegar até a estación Maipú, ponto de partida do Tren de la Costa.

Gastamos cerca de uma hora entre um trem e outro. Em Retiro pode-se comprar o bilhete de trem no guichê ou então direto numa máquina se você tiver moedas (e nós tínhamos muitas), o que te livra das filas. E foi em Retiro mesmo que quase pegamos o trem errado. O painel indicava a plataforma tal e na plataforma tal havia um trem parado, logo, concluímos, deve ser esse. Só esquecemos de conferir o horário e se não fosse um senhor que vendia café dentro do trem nos avisar do engano, sabe-se lá onde teríamos parado.

Apesar do frio a viagem de Retiro até Mitre foi muito agradável. O trem estava vazio e volta e meia passava algum ambulante vendendo algo.

Estación de Trenes Retiro


Estación de Trenes Retiro
Já em Maipú compramos os bilhetes e embarcamos no Tren de la Costa. Esse é um trem turístico inaugurado em 1995 e que percorre uma distância de 15,5 km atravessando bairros residenciais em um trajeto paralelo ao Rio de la Plata. Desde Maipú até Delta são onze estações e um bilhete dá direito a subir e descer do trem em qualquer uma das estações, quantas vezes quiser. Segundo relato de outras pessoas que já fizeram este passeio vale a pena descer na estacão de San Isidro (possui vários restaurantes e cafés, sorveteria Fredo e, se não me engano, tem até um cinema) e na estação Barrancas (essa tem feirinha aos finais de semana).





A única coisa ruim do Tren de la Costa é que tivemos que ir de pé pois o trem estava lotado. Mas mesmo assim valeu a pena principalmente porque passamos pertinho do Rio de la Plata.

Rio de la Plata - se não soubesse pensaria que é o mar, cadê a outra margem?
Chegando à estação Delta há duas opções, o parque de diversões ou o cassino.


Escolhemos o parque.





O Parque de la Costa não é "O" parque de diversões mas o passeio vale a pena. Tem brinquedos para todas as idades, tem alguns shows (foi aí que eu descobri que Cenicienta é a Cinderela), tem daquelas atrações que as pessoas fazem o trajeto a pé (com nomes sugestivos como "Mina Abandonada" e "El Infierno"), tem roda gigante, tem algodão doce e tem uma montanha-russa chamada de "El Desafio". Antes eu tinha dúvidas se ir numa dessas montanhas-russas que te jogam pra cima e pra baixo seria uma coisa boa ou ruim. Agora eu tenho certeza de que nunca mais vou.

"Montaña rusa invertida. Tiene um recorrido de 600 mts, con 5 vueltas invertidas, logrando una velocidad máxima de 80 km/h y 36 mts de altura." - por que eu não li isso antes de ir?






Mas um dos brinquedos que eu mais gostei foi o Bote en el Nilo, uma espécie de carrinho de bate-bate só que na água. Tudo bem que eu saí de lá com minha calça molhada, mas foi legal.



Ainda dentro do parque é possível sair para um passeio de catamarã pelo rio Tigre. Esse passeio é pago à parte e dura meia hora. Sinceramente eu não estava com muita vontade de fazer por causa do frio, mas quem tá na chuva...

Recomendo muitíssimo. Mesmo fora do parque, na margem do rio, há outros barcos que oferecem o mesmo serviço e com um tempo maior de duração. A ida até Tigre ainda valerá a pena mesmo se for só pra passear de catamarã.

Nas duas margens do rio há inúmeras casas de veraneio, uma mais bonita que a outra, com garagem de barco e pier particular. Um luxo.

Catamarã

Muito frio!











Devia ser umas quatro horas da tarde quando voltamos do passeio pelo rio. Fomos em outra montanha-russa - desta vez uma de criança - e demos mais uma volta pelo parque. No inverno o parque fecha às seis da tarde e aproveitamos para pegar o trem de volta antes que ficasse muito lotado.

Voltamos para Maipú, pegamos o trem em Mitre com direção à Retiro. Desta vez havia um homem vendendo luvas no trem (dez pesos cada se não me engano). Os rapazes não resistiram ao frio e cada um comprou um par.


Muitos subtes tem assentos estofados.


Felizes e cansados chegamos em Retiro e pegamos o subte até a estação Carlos Gardel onde fica o Shopping Abasto. Jantamos Mc Donalds (mais barato que no Brasil) e fomos para casa assistir um pouco de tv e tentar entender os Simpsons falando em castelhano. Sabiam que em espanhol o Homer se chama Homero?

Mais informações sobre o Tren de la Costa aqui e aqui.


Dica preciosa: pergunte aonde o trem vai antes de embarcar.


E o melhor e o pior do dia vai para:

Thumbs up O passeio de catamarã - mesmo no frio vale a pena

Angry  A El Desafio - descobri que não sirvo para esse tipo de coisa.

09 setembro 2010

Telemarketing


Eu sei que as pessoas tem que trabalhar e que nem todos podem ficar escolhendo de qual tipo de trabalho tirarão seu sustento, mas telemarketing está em uma das últimas colocações da lista "o que quero ser quando crescer".

Antes que os operadores de telemarketing comecem a me crucificar tenho a declarar a meu favor que já trabalhei com isso. Não era telemarketing ativo, eu apenas atendia as ligações dos consumidores e encaminhava ou resolvia as solicitações, mas o estresse era o mesmo: aguentar gente mau-humorada, nervosa, mau-educada gracinhas e de vez em quando até xingamentos.

Aconteceu dias desses. Eu estava trabalhando no escritório quando o telefone tocou. Era um rapaz oferecendo  uma nova, única e inédita promoção que um famoso jornal estava lançando. Falou sobre as vantagens, como funcionava e como eu era felizarda de poder aproveitar tudo aquilo. Eu ouvia tudo calmamente. 

Quando encerrou seu discurso perguntou:

- A senhora entendeu tudo?
- Sim

- A senhora tem alguma dúvida?
- Não

- A senhora mora en rua ou avenida?
- Rua

- Qual é o nome da rua?
- Por que você quer saber o nome da rua?

- Para cadastrá-la na promoção (entenda-se aqui para enviar jornais para minha casa e depois cobrar por isso)
- Mas você não perguntou se eu quero participar

- A senhora deseja participar?
- Não.

- Então obrigado e tenha uma boa tarde.


Confesso que a tentativa foi boa e tenho certeza de que muitos acabaram comprando o produto sem perceber. 

Infelizmente para o rapaz que ligou, uma das minhas manias é fazer análise do discurso.


06 setembro 2010

Destino: Buenos Aires - Dia 4 (parte B) : Jardín Japonês, sorvete e Barbie Store

A ideia, ao deixarmos o Jardín Botânico, era achar algum restaurante alí por perto. Pegamos uma das ruas próximas e fomos andando, andando, andando até que, quando nos demos conta, estávamos em pleno Palermo Viejo, o bairro dos moderninhos. Como a agitação por lá acontece à noite, o que encontramos foi um bairro de ruas calmas que estava ainda acordando (era pouco mais de meio-dia, hora que muitos ainda estão tomando o desayuno). Em algumas esquinas do bairro concentram-se restaurantes e bares e ao longo de algumas ruas namoramos vitrines de lojas moderninhas-cult-alternativas que definitivamente não eram para nossos bolsos. Já havíamos caminhado por uma hora quando, em uma esquina próxima à área dos outlets, encontramos um restaurante que parecia oferecer um bom custo-benefício. Infelizmente não gravei o nome do restaurante nem a localização exata. O restaurante era simples, não muito grande. 



Mais do que fome, tivemos que ter paciência, muita paciência. Lá dentro tudo acontecia em um ritmo mais lento. Vimos algumas pessoas (entre elas brasileiros) entrando, sentando, esperando um pouco e desistindo. Como não tínhamos pressa nos divertimos vendo quantas vezes a garçonete que estava atendendo nossa mesa simplesmente esquecia de nós. Daí era só olharmos bem fixamente para ela lembrar do que tínhamos pedido e vir correndo nos atender. Não sei o que ela fazia mas tinha horas que simplesmente sumia do restaurante.

Ainda bem que serviram alguns pãezinhos com patê para enganarmos a fome mas acho que a espera valeu a pena:

Esse prato imenso custou 45 pesos


Esse aí de cima era o prato para uma pessoa. Ainda bem que pedimos somente dois pratos para dividirmos em três. Esse é o famoso bife de chorizo. Na parte superior do prato temos anéis de cebola, batatas fritas, ovos fritos, presunto, ervilhas e pimentões. Definitivamente minha nutricionista não pode ver essa foto. Comendo desse jeito a gente imagina que vai engordar um monte, mas felizmente isso não aconteceu pois lá em BsAs também anda-se muito.

Saímos do restaurante por volta das três e meia à procura de um ônibus que nos levasse de volta à Plaza Itália e foi aí que descobrimos que existe um guia de ônibus que é vendido nas bancas de jornais por nove pesos. Eu diria que é bem prático principalmente para aqueles que ficarão vários dias na cidade e que querem economizar tempo e principalmente dinheiro optando por fazer os deslocamentos de ônibus. Além das linhas de ônibus o guia tem também um mapa com as linhas do metrô (os subtes) e dos trens (lá chamados de trenes).

Vou aproveitar para fazer um comentário sobre o transporte público de lá. Muitos que já foram para BsAS comentam que o melhor mesmo é optar pelos táxis cujos preços são bem mais baixos que os do Brasil. Usamos táxi duas vezes e realmente vale a pena. Mas por que não tentar os outros meios de transporte (fugindo, é claro, da hora do rush)? As tarifas tanto dos colectivos, quanto do subte e dos trenes são absurdamente menores que as daqui, isso porque são subsidiadas pelo governo. Pode-se imaginar que com o baixo valor talvez a qualidade do serviço seja inferior, mas não foi isso que vimos. Para todos os lugares que fomos havia ao menos uma linha do subte passando por perto, e quando não, com certeza haveria alguma linha de colectivo cobrindo aquela região. Mas o que me deixou impressionada foi que não esperamos mais de quatro ou cinco minutos pelo metrô e nunca, não importando o dia ou a hora, mais de dez minutos pelo ônibus. 

Enfim, conseguimos achar um colectivo que nos deixou perto da nossa próxima parada, o Jardín Japonês.

A colônia japonesa da cidade o projetou em 1967 para agradecer o acolhimento recebido. Dez anos depois, ima paisagista o redesenhou inspirando-se nos jardins zen, que antecedem os templos no Japão. Há 350 espécies  de plantas nativas japonesas (bonsais, inclusive), carpários, lagos, pontes e recantos para meditação. (Guia O melhor de Buenos Aires - Editora Abril)

Paga-se para entrar, se não me engano foram 8 pesos por pessoa, mas achei justo. O lugar é muito bem cuidado. Tem de tudo que se pode esperar de um jardim: plantas, lago, ponte de madeira, pequenas quedas d'água, passarinhos, peixes. Tem também um restaurante, uma lojinha de lembranças e uma sala com espaço para esposições que fica dentro de uma espécie de centro cultural, que, creio, seja usado para ministrar os cursos que são oferecidos por lá. Só acho que a parte da meditação fica de fora pois o movimento de pessoas estava grande nesse dia.

















Saindo do Jardín Japonês atravessamos as 12 (!) pistas da Avenida Del Libertador e fomos, apesar do frio, tomar um sorvete na Un Altra Volta.

Avenida Del Libertador
Essa casquinha chama-se "cucurucho" e, mesmo sendo a menor opção, vem MUITO sorvete!
 E para terminar bem o dia que havia começado meio torto fui visitar a Barbie Store, porque afinal de contas eu também sou menina.

E a Barbie Store não vende...Barbies! Mas tem loja de roupas (quase todas cor-de-rosa), salão de beleza  para as meninas (quase tudo é cor-de-rosa), café da Barbie (onde até os doces são cor-de-rosa) e um salão de festas (onde provavelmente  tudo deve ser cor-de-rosa)


Seria esse o Fusca da Barbie?


E o melhor e o pior do dia vai para


Thumbs up  Jardín Botânico e Jardín Japonês

Angry  O colectivo para o Temaiken

05 setembro 2010

Colírio

Alerta: Mulherzinha MODE ON

Já é de conhecimento comum que não só os homens ficam alvoroçados quando aparece uma mulher bonita, seja ao vivo ou na tevê. As mulheres também fazem isso. Algumas são mais recatadas, já outras... A questão é que, tirando meu tempo de adolescente, quando eu colecionava os "Colírios" da revista Capricho, nunca fui de reparar muito nos tais atributos masculinos que geralmente fazem uma mulher virar (quando não, perder) a cabeça. Trabalhei por alguns meses em uma loja de artigos para policiais militares. Éramos quatro, três vendedoras mais a moça do caixa, e sempre quando aparecia um policial mais bonitão eu era a última a perceber algo de mais, enquanto as outras três já estavam comendo o coitado com os olhos. 

E assim vivia eu, me importando mais com o conjunto da obra (e isso inclui cérebro) do que com coxas, bundas e músculos. Vivia, até a última aula de Literatura Inglesa.

Estamos estudando algumas peças em inglês e entre elas está "A streetcar named desire". Para facilitar o entendimento a professora leva, a cada aula, uma versão fílmica da peça estudada. No final da última aula foi dada uma rápida explicação sobre o enredo e os personagens desta peça. A professora falou sobre o filme que foi feito baseado na obra e sobre alguns personagens dando especial ênfase para o personagem interpretado por Marlon Brando, mais especificamente para a cena em que ele troca de camisa.

Eu, que não sou muito atenta a esses detalhes, pensei: tá, Marlon Brando me lembra O Poderoso Chefão. Acho que é um pouco de exagero, afinal uma troca de camisa em um filme preto e branco de 1951 não pode ter nada de tão extraordinário.

Bem, está na hora de eu rever meus conceitos. 

O olhar, o tórax, os braços, o ar de não-tô-nem-aí, a troca de camisa, tudo isso cria um conjunto da obra perfeito. E quem se preocupa com cérebro nessa hora? 

Se eu ainda tivesse um mural com os Colírios da Capricho esse aqui teria um lugar de honra:




Mulherzinha MODE OFF

04 setembro 2010

Destino: Buenos Aires - Dia 4 (parte A) : passeio cancelado, Jardín Botânico e gatos, muitos gatos

(Este post ficou bem extenso. Para facilitar a leitura resolvi dividí-lo em duas partes - A e B. Aqui vai a parte A.)


 Como fiquei desde o começo do ano pesquisando, lendo e pensando nesta viagem eu já tinha em mente alguns lugares que  gostaria de visitar, além daqueles óbvios do tipo Obelisco e Casa Rosada. Um deles era o Temaiken, uma mistura de zoológico e parque ecológico, que fica fora de Buenos Aires. Para chegar até lá a linha de ônibus indicada é a do  semirrápido 60 que parte da Plaza Itália e deixa os visitantes na entrada do parque. Neste quarto dia de viagem saímos  cedo do apartamento, pegamos o metrô e chegamos até a praça. O problema é que não tínhamos moedas, item de primeira  necessidade no quesito transporte coletivo.


El colectivo






 Explico: os colectivos (como são chamados os ônibus em BsAs) não têm cobrador e nem catracas, somente motorista. Quem  cobra a passagem é uma máquina de moedas posicionada logo após o assento do motorista. E sendo uma máquina de moedas  ela só aceita, moedas! Descobrimos isso em nosso segundo dia quando tentamos pegar um ônibus e pagar com cédulas ao  que o motorista apenas repetia “monedas, monedas!” Funciona assim, você entra no colectivo, diz para o motorista o  cruzamento mais próximo do lugar em que quer desembarcar e quantas pessoas são (no nosso caso a frase decorada para


 voltar para o apartamento era “três hasta pena” ou “três pueyrredon com pena"). Ele então aperta uma maquininha que  fica no painel do colectivo e imediatamente o valor da viagem aparece no visor da maquina de moedas. Daí é só ir  colocando as moedas até alcançar o valor cobrado (o mesmo principio das máquinas de refrigerante). É devolvido troco  quando necessário e sai até um minirrecibo.



 Trocamos algumas moedas na bilheteria do metrô mas precisávamos de mais pois não sabíamos o valor exato da passagem.  Tentamos então uma banca de revistas e um kiosco, sem sucesso: eles não trocaram nem um peso sequer e nos indicaram o  banco. Fomos então até a agência do Banco de La Nación que fica próximo à Plaza Itália.



Plaza Itália e lá atrás a agência do Banco de La Nación Argentina





 O Banco de La Nación merece um parêntese: sem caixas eletrônicos ou terminais de autosserviço, nesta agência que fui  só havia um caixa eletrônico na entrada. Também não havia detectores de metal e nem aquela irritante porta giratória  que te faz tirar quase toda a roupa. Como alerta, somente um recado grudado na parede “Desligue o celular”.  Inacreditavelmente em um canto, ao lado da porta de entrada, havia uma barraquinha onde uma mulher vendia água,  biscoito, chocolates e balas. Um camelô dentro da agência! As pessoas que trabalham no banco ficam atrás de longo balcão  de madeira e existe uma fila somente para a troca de moedas. Você entrega uma cédula de 20 pesos e recebe em troca um  saquinho já preparado com moedas de 1 peso. Estava explicado porque ninguém fora do banco trocava moedas.





 Saindo do banco fomos procurar o ponto da linha 60. Depois de contornar toda a praça e entrar no ônibus errado (era 60  mas fazia outro trajeto, vai entender), achamos o ponto final, compramos os bilhetes (AR$ 6,50 por pessoa ida e volta)  e ficamos esperando o motorista aparecer. Quando entramos no ônibus eu tive uma leve desconfiança de que aquilo não ia  dar certo. Como este ônibus vai além dos limites de BsAs o veículo era um daqueles usados em viagens intermunicipais  (os chamados “ônibus de viagem”) mas na minha modesta opinião aquilo não deveria transitar nem dentro da cidade. Por  fora as laterais e as janelas eram todas cobertas com propagandas o que fazia com que o interior do ônibus, além de  ser sujo e abafado, ficasse escuro também. As poltronas eram todas velhas e gastas e alguns assentos estavam  quebrados. Um dos membros da nossa viagem,  que já não passa bem em viagens de ônibus, provavelmente não iria sobreviver às quase duas horas que separavam o  centro de BsAs do Temaiken. Enquanto decidíamos se continuávamos ou não, o ônibus se afastava do centro da cidade e,  antes que ficássemos no meio da estrada decidimos descer. Não seria dessa vez que conheceríamos o bioparque.





 Voltando para a Plaza Itália decidimos fazer um passeio mais ameno: o Jardín Botânico.



São cinco mil espécies de plantas dos cinco continentes, agrupadas pelo local de origem em um terreno de 87 mil metros quadrados. Inaugurado em 1898, foi idealizado e desenhado pelo paisagistas francês Charles Thays. Há três estilos no jardim: o simétrico (de inspiração francesa), o paisagista (com estilo inglês) e o misto. Também há uma seção com a flora argentina, exibindo espécies típicas de cada província. Tem ainda jardim romano, escola de jardinagem e museu botânico. As incontáveis esculturas são de autoria de artistas locais. (Guia O Melhor de Buenos Aires - Editora Abril)




Algumas partes do local estavam em reforma com a construção de novos caminhos entre os canteiros, mas isso não tirou a beleza do lugar. Quando se está lá dentro nem parece que estamos cercados de prédios e ruas movimentadas tamanha a tranquilidade do lugar. As poucas pessoas que se animaram a dar uma caminhada naquela manhã gelada tentavam se aquecer um pouco descansando sob o sol, sentadas nos bancos espalhados pelo jardim. 

Além dos canteiros e estufas com plantas das mais diferentes espécies, também enfeitam o local inúmeras estátuas. Algumas delas são reproduções de obras famosas.





Outra coisa que não falta por lá são gatos. Eu nunca havia visto tantos gatos em um só local. E eles são abusados. Basta você sentar em um dos bancos para que um apareça, vá ganhando sua confiança até se instalar no seu colo. 


Já era meio-dia quando deixamos o Jardín Botânico e fomos procurar um restaurante.


continua no próximo post