26 junho 2009

M.J.

Quantos anos eu devia ter, oito, nove? Na sala de aula, em frente ao quadro branco e aproveitando que a professora não estava, alguns meninos tentavam andar na lua. Impossível. Só ele conseguia fazer aquilo com tamanha perfeição. Cada novo detalhe adotado virava sua marca, uma extensão de sua própria pessoa. O gesto feito com o chapéu, inclinando a cabeça para frente escondendo e revelando o rosto, a mão envolta na luva prateada dançando pelo ar, os pés indo de lado para o outro, incansáveis, e o passo, aquele passo, inimitável.

Cada nova música e principalmente cada novo vídeo-clip, eram ansiosamente aguardados com a certeza de que o que seria mostrado nunca nos decepcionaria. Nunca nos decepcionava. O melhor de todos eles, o mais feio e mais belo que já vi dava-me um medo muito grande. Eu, criança, não gostava de ver monstros e mortos-vivos levantando dos túmulos. Mas eu, criança , não resistia à toda aquela beleza. Eu tinha que olhar. Olhava. Olhava e sentia um misto de medo e prazer (felizmente a risada tenebrosa estava somente no final).

Da cozinha minha mãe dizia: tinha que ver quando ele era criança, uma graça, e que voz! Eu, criança, não dava muita importância a isso: tempo bom é tempo presente.

Meses atrás assisti a um DVD com uma aparições dele criança e aí entendi o que minha mãe dizia. Tempo bom é tempo que transcende.

Daqui algum tempo, quando forem comemorados os dez ou vinte anos de sua morte, talvez meus filhos não entendam porque parei tudo o que estava fazendo para ficar em frente à TV assistindo a um menino dançar e cantar com seus irmãos. Mas se eles prestarem bem atenção irão compreender, assim como eu compreendi o que minha mãe sentia.