15 julho 2008

Renato Russo - A Peça

De tarde quero descansar
Chegar até a praia e ver
Se o vento ainda está forte
E vai ser bom subir nas pedras
Sei!
Que faço isso prá esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando
Tudo embora...
Vento no Litoral - Renato Russo
- Você ouvia muita Legião Urbana?
- Bem, na casa da minha tia eu tinha duas opções: Legião Urbana ou Vando. Escolhi a primeira.
E esta escolha de muitos anos (não tinha como ser diferente) levou-me até o Teatro Fernanda Montenegro no último domingo. Casa lotada dos mais diferentes tipos, levados até ali por qual motivo? Fãs da Legião, fãs do Renato ou fãs das letras tão marcantes? Não importa. Para quem esperava um amontoado de tietes até que esses foram discretos. A única manifestação mais acalorada foi de uma fã que, assim que Bruce Gomlevsky (que interpreta o músico) pisou no palco, soltou um sonoro "Renatooooooo", já confundindo criador e criatura. E como não confundir? Como não deixar-se levar pela músicas e principalmente pelas letras que tanto fizeram-se presentes no passado da maioria de nós?
No palco somente ele com suas roupas, seus óculos e sua dança inconfundíveis. No fundo a banda Arte Profana, separada de Renato por uma espécie de vitrine que mais do que a função de distanciar a banda e colocar o ator em primeiro plano serviu de tela para a projeção de imagens relacionadas a cada uma das passagens da vida do líder da Legião. Desde dos quinze anos de idade do futuro músico, época em que ele amargou dois anos preso a uma cadeira de rodas, passando pela sua primeira banda, o Aborto Elétrico até o sucesso com a Legião Urbana a descoberta da sua sexualidade, o nascimento do seu filho e sua morte prematura, todas as falas, choro e euforia do artista eram intercaladas pela apresentação de suas canções.
As músicas, que na sua maioria traziam-me de volta lembranças diversas, ali, naquele momento, costuradas uma a uma nas fases da vida de Renato, passaram a ter outro significado. Talvez até o verdadeiro ou o mais verdadeiro possível. Percebi então que uma mesma música toca diferentes pessoas de diferentes maneiras, mas não deixa nunca de transmitir algo, fosse esse algo a vontade inicial do artista ou não.
Infelizmente não fui a nenhum show da banda. Quando comecei a ouvi-la a maioria dos álbuns já havia sido lançada. Não vi Renato pessoalmente mas domingo, durante aquelas duas horas de peça, posso dizer que fiquei a menos de dois passos de Renato Russo.

02 julho 2008

Preciso de pilhas novas

Sabe aqueles brinquedos eletrônicos “importados” que antigamente dizíamos que eram made in Paraguay mas que hoje são todos (sem exceção) made in China? Cheios de luzinhas piscando, sons de diversos timbres e alturas e que corriam para lá e para cá? Eram tão requisitados pelas crianças que um dia iam ficando fraquinhos, fraquinhos (pilhas também made in China) com os movimentos cada vez mais lentos, o som cada vez mais slooooooooow até que um dia paravam de vez. Eu estou neste estágio. Está na hora de trocar as pilhas, recarregar a bateria. Preciso de férias urgente. Estou quase (esse quase é graças a uma professora que me deixou de final) livre da faculdade, já encerrei mais um semestre de aulas do curso de inglês mas continuo acordando todos os dias às 6 da manhã para ir trabalhar. Tenho um calendário em cima da mesa e nem dava tanta importância à ele mas, nas últimas semanas a vontade de que o dia 11/07/2008 às 16:59 horas chegue logo é tão grande que tenho, religiosamente, riscado do calendário os dia que já se foram. Mas não adianta, por mais que eu os elimine ainda falta uma boa quantidade de dias a serem enfrentados. Até que pela manhã consigo sobreviver com o pouco de energia que me resta. O pior é quando chega lá pelas quatro da tarde, meu dedos simplesmente se recusam a continuar digitando e muitas vezes minhas pálpebras resistem bravamente a permanecerem abertas. Um só pensamento vem à minha mente: dormir, dormir, dormir...

Não tem jeito. Levanto, estico braços e pernas, dou uma volta pela sala, bebo um gole d’água.
Volto para minha mesa e olho para o calendário louca para riscar mais um dia.

Personal Friend

Tempos atrás eu andei reclamando de falta de atenção, falta de companhia. Se eu tivesse conhecido o site desse sujeito antes, não teria perdido tempo reclamando da minha solidão.
Seus amigos não te procuram mais? Tem uma festa para ir mas está sem companhia? Está louca para dançar mas ninguém topa? Já existe a solução: contrate um Personal Friend e divirta-se. Falta de companhia, nunca mais!

01 julho 2008

WALL·E

este é para o Wally

Não existem mais habitantes na Terra. Seus moradores não conseguiram conviver com seu próprio lixo, embarcaram em um cruzeiro galáctico de luxo na estação espacial Axiom e agora viajam através do espaço. Entregaram-se a uma vida ociosa e passam dias e noites sentados em suas poltronas à beira da piscina.

Na Terra a paisagem é marrom. Os prédios das grandes cidades ainda resistem mas são facilmente alcançados pelas montanhas de lixo. Não existe mais água, não existem mais plantas. Só a areia cerca tudo.

No meio desta paisagem agreste está WALL·E (Waste Allocation Load Lifters - Earth Class – algo do tipo “Empilhadeira de Lixo de Uso Terrestre”), um robô programado para juntar todo o lixo abandonado pelos humanos. Diariamente ele segue sua diretriz: juntar, compactar e empilhar blocos e mais blocos de lixo.

Nada mais de humano restou, mas só aparentemente. Por uma ironia, as atitudes mais humanas vêm exatamente de uma máquina. WALL·E, após ficar trabalhando sozinho na Terra durante 700 anos, desenvolveu consciência e personalidade. É doce e inocente e sua única companhia naquele lugar é uma barata, simpática até, considerando que estamos falando de uma barata. Ao chegar em sua “casa”, o robô se distrai assistindo filmes antigos, colecionando quinquilharias e ouvindo música. Sua rotina é alterada no dia em que chega à Terra EVE, uma sonda que tem como missão rastrear o local à procura de uma forma vegetal, um sinal que indicaria aos humanos que a Terra se regenerou e já é hora de regressar.

WALL·E apaixona-se por EVE e tenta de tudo para chamar sua atenção. Ele até consegue arrancar uns minutos da atenção da sonda mas, ao encontrar uma planta, EVE “reseta” e fica à espera da nave que virá buscá-la. WALL·E não sabe o que está acontecendo e é a partir daí que vemos quanto humano o robô é. Ele faz de tudo para acordá-la. Desesperado não sabe o que está acontecendo com sua amada mas não a abandona, mesmo embaixo de chuva e raios até o dia em que a nave retorna e WALL·E deixa tudo para trás para acompanhá-la.


WALL·E é a nova animação da Disney/Pixar. Tem cenas engraçadas e situações divertidas mas por trás de toda a comédia existe um pano de fundo que nos leva à reflexão. Sentimentos como solidão, amor e doação estão lá para serem lidos nas entrelinhas. Não é mais um alerta sobre “o que acontecerá se não cuidarmos bem do nosso planeta”. Todos nós já sabemos disso e só não tomamos uma atitude porque talvez nos falte a sensibilidade que sobra em WALL·E. Em 2.700, ano em que se passa a história, o que havia sido previsto já aconteceu. Fomos expulsos da nossa própria casa pelo lixo que nós mesmos produzimos. Incapazes de fugir aos comandos de BEBA, COMA, COMPRE, CONSUMA fizemos de nosso lar um imenso aterro sanitário. Acostumados ao mundo dos descartáveis simplesmente jogamos fora um planeta inteiro.

Ao contrário das últimas animações que assisti, recheadas de personagens cômicos, falas engraçadas e piadas, na maioria das vezes, bem construídas, WALL·E quase não tem diálogos e as vozes dos personagens foram criadas eletronicamente, dispensando o trabalho dos dubladores. A evolução do enredo se dá quase totalmente através das situações vivenciadas pelo protagonista onde gestos, expressões e comportamentos valem mais que palavras. Talvez aí esteja o grande sucesso do robô empilhador de lixo. Através de seu comportamento consegue ser transmitir sentimentos que vão da felicidade à solidão.


Entre as muitas boas cenas de WALL·E a mais bonita é aquela em que, auxiliado por um extintor conta incêndio, ele dança com EVE pelo espaço. Um verdadeiro balé nas estrelas.

Site oficial: http://www.disney.com.br/cinema/walle/