Ontem no final da tarde estava indo em direção à Universidade. Leram bem? U-ni-ver-si-da-de, lugar que agrega estudiosos, doutores, mestres, pesquisadores e até um Magnífico Reitor. Melhor ainda, a Universidade não é só Universidade, ela é também Federal. Como soa bem, Universidade Federal do Paraná. Aquela, com seu prédio histórico e pomposo de colunas sólidas e imponentes. Meca do conhecimento, sonho de milhares e realidade para poucos. Estava direcionando meus passos para aquele local quando, como num passe de mágica tudo perdeu o sentido, tudo ficou pequeno, insignificante. Ali na esquina, a poucos metros do centro do saber e vejam só, ao lado do Teatro Guaíra – palco da cultura refinada e de espetáculos tão bons quanto dispendiosos e elitistas – estava uma família de catadores de papel. Esses com os quais esbarramos a todo momento pelas ruas da cidade. Eram pai, mãe e filho. O menino, com no máximo quatro anos, estava sentado em uma espécie de cestinha que seu pai instalara na frente do carrinho. Ele estava feliz, sorria e conversava, provavelmente com um amigo imaginário tão pobre e carente quanto ele. Com certeza nem ele nem seus pais se davam conta de que estavam entre dois dos maiores símbolos da cidade, duas instituições tradicionais onde filhos de boas famílias têm o privilégio de adentrar. Quero estar errada mas este privilégio talvez nunca se estenda àquele menino. Ele nunca irá acompanhar uma palestra com um importante mestre nem ocupará uma confortável poltrona para prestigiar uma apresentação da Orquestra Sinfônica. Mas ele ainda voltará muitas vezes à mesma esquina, tantas que um dia aprenderá o caminho e não precisará do pai para acompanhá-lo. Poderá juntar suas próprias caixas de papelão. Diante desta quase constatação, toda a arte e conhecimento protegidos por aquelas edificações perdeu o sentido e a universidade e o teatro não eram mais do que um amontoado de paredes frias. Paredes que ao mesmo tempo em que preservam a sabedoria também mantém distante dela aqueles que a deveriam possuir.
Flickr Fábio Ferreira
Um comentário:
Já vi vários carrinheiros por ali. Uma vez, vi dois meninos que não deveriam ter nem 8 anos com aqueles imensos carrinhos de papel. Muito provavelmente os pais estavam por ali vigiando o trabalho deles. A guarda municipal apareceu, provavelmente porque alguém denunciou trabalho infantil, e não vi o que aconteceu depois. O contraste de realidades no centro de Curitiba é muito forte; no trânsito, você pode ver um Ford Fusion e ao lado dele uma família de catadores de papel. Enquanto muitos gastam muito, outros nem tem o que gastar.
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