21 agosto 2009

Ser consciente...

"Ser consciente é saber que posso ter tudo, mas conseguir viver com o essencial."
.
.
.
.
.
.
"Being conscious is that I can have everything, but can live with the essential"

18 agosto 2009

Que moda é essa?


Hoje tem Esquadrão da Moda versão da tevê do Sílvio Santos para o programa What Not to Wear dos canais Discovery Home & Health e BBC. Eu, que já tinha um amor declarado pelas séries de tevê, descobri uma simpatia muito grande por reality shows, daqueles que passam no canal People & Arts e que as emissoras tupiniquins vivem reproduzindo (mas nada de BBB, please!). O Esquadrão é basicamente assim: alguém, sem nenhum estilo ou de estilo duvidoso ao se vestir, é "denunciado" por amigos e parentes e tem a chance de renovar seu guarda-roupa. Para isso conta com a ajuda de dois consultores de moda e de um cartão com um crédito de dez mil reais.

É incrivel ver como existem pessoas sem nenhum parâmetro na hora de vestir. Não que eu seja modelo de classe e estilo, muito pelo contrário (mas essa e essa aqui tem muito disso que me falta), mas provavelmente eu não sairia por aí vestindo um terninho cor de catchup descombinando com uma bota marrom e uma bolsa amarela.

Existem pessoas que são fissuradas em manter-se "na moda" desde sempre. É bom andar bem vestido, claro, mas há de se ter bom senso. Por exemplo, na última coleção daquele estilista super famoso a tendência são vestidos hiper curtos em um tecido que marca bem as curvas. Então a indústria começa a produzir toneladas e mais toneladas desse tipo de roupa. Para cada vitrine que você olha lá está o vestido pedindo para ser comprado e usado. Até aí tudo bem mas, aquele vestido lá do desfile e esse que está na vitrine foram feitos para um biotipo específico, o das *mulheres-cabide, aquelas em que qualquer coisa que vestirem fica bem. Geralmente são mulheres magras, altas e com busto, cintura e quadris que obedecem as rigorosas leis dos estilistas. Eles não foram feitos para quem tem 1,50 m de altura, está acima do peso ideal e tem uns pneuzinhos distribuídos em algumas partes do corpo. Mas esse vestido "está na moda" então, contrariando as leis da física e do bom senso você vai lá e compra.

As pessoas confundem muito a noção de moda com a de indústria da moda. O objetivo principal da indústria não é lhe fazer mais bonita, e sim vender mais roupas e aí não importa se esta ou aquela vai lhe cair bem, o importante é que você consuma sempre mais. Eu por exemplo uso muita calça jeans mas toda vez que vou comprar uma calça nova é um sacrifício. Primeiro porque, ao invés da roupa ser feita para se adequar ao meu corpo é o meu corpo que tem que dar um jeito de ficar bem dentro da peça (lembram da mulher cabide?) e segundo porque as vendedoras sempre querem me empurrar calças cheias de bordados, brilhos e outros badulaques. A justificativa? "Tá na moda agora." ou Tá vendendo bastante desse modelo." Ou seja, além de usar algo que não fica bem em mim ainda vou sair por aí igual aos outros.

Outro tormento é quando tenho que comprar um sapato. Eu não uso salto alto, não gosto de salto alto e para mim ele não é nem um pouco prático, principalmente morando em Curitiba (quem conhece as calçadas daqui sabe do que estou falando), mas a bendita loja só tem sapatos com salto altíssimo porque agora "estão usando".

E a necessidade que implantam em nós de que, a cada lançamento de coleção primavera/verão ou outono/inverno, temos a obrigação de renovar nossos guarda-roupas? Será que aquela bota ou aquela blusa que comprei no inverno passado está tão ultrapassada assim? No final todo esse apelo comercial acaba dando um nó na cabeça e compramos um pouco de cada coisa, mas essas coisas não combinam entre si e talvez por isso um dia você saia com uma blusa amarelo ovo de bolinhas roxas e uma saia verde. Aí você vai dizer que não tem dinheiro para comprar roupas bacanas. É, mas para comprar aquela bota amarela que "estava na moda" e que você só usou uma vez, dinheiro não foi o problema.

Eu não tive uma educação para a moda. Quando criança usava o que meus pais compravam para mim. Na adolescência usava o que todos os adolescentes usavam e posso dizer que fui do gótico ao grunge sem escalas (ah... mas na adolescência a gente pode). Agora tento ter bom senso e me vestir na medida do meu salário, das minhas medidas e principalmente do que gosto. Nem sempre acerto e devo confessar que tenho uma preguiça imensa de ir de loja em loja para comprar uma roupa, mas às vezes é inevitável. E como não tenho um personal stylist tenho que treinar meu bom gosto porque às vezes aquele vestido maravilhoso que você olha pela vitrine esteja lá só para ser olhado.


* nada contra as mulheres que vestem bem qualquer roupa, talvez um pouco de inveja, afinal por que tudo tem que ficar bem nelas?

29 julho 2009

O Clube do Filme

Hoje consegui terminar mais um livro daqueles que tenho na estante a espera de leitura : O clube do filme de David Gilmore. Este livro foi uma indicação do professor Paulo Venturelli (quando uma pessoa trabalha a anos com leitura e tem uma biblioteca com 16 mil livros, sua indicação merece um pouco de atenção).

O livro conta a história de David Gilmore, um crítico de cinema desempregado que, diante do fracasso escolare do filho adolescente Jesse, toma uma decisão surpreendente: o filho poderia largar a escola, ficar sem fazer absolutamente nada desde que assistisse com o pai a três filmes por semana. Esta seria toda a educação que ele teria.

Essa foi uma atitude ao mesmo tempo corajosa e irresponsável. Como o fato aconteceu em Toronto, no Canadá não sei se lá a educação é vista e transmitida da mesma forma que é aqui, no Brasil, mas, para um jovem de 15 anos repleto de saúde simplesmente detestar ir à escola, creio que lá também deve existir aquela sucessão de fórmulas que você decora para uma prova e depois nunca mais usa.

A maioria das pessoas acharia esta atitude uma loucura principalmente porque a idéia de educação está totalmente colada à idéia de escola como se somente lá, entre aquelas paredes, pudéssemos receber educação (em muitos casos é somente lá que temos um pouco de educação, mas longe de ser o suficiente). Ontem mesmo discutíamos em aula se o ensino de gramática é realmente necessário. Quanto do que você decorou nas aulas de português realmente foi útil depois da prova? Quanto de tudo aquilo que diziam os livros didáticos você ainda lembra? E não é somente em relação à gramática que isso acontece. Matemática, geografia, química, física, boa parte do que "aprendemos" não fará diferença para nossa educação.

David fez uma aposta alta, se tivesse sucesso poderia estreitar sua relação com o filho em uma época difícil, a adolescência, tempo em que o que a maioria dos jovens quer é manter uma distância segura dos pais, além de oferecer algo mais do que a mentalização repetitiva dos bancos escolares.

Mas, se nada desse certo só lhe restaria um filho jovem e fracassado e toda a culpa por este fracasso seria atribuída ao pai.

Quantos pais teriam a mesma coragem e quantos deles estariam dispostos e se sentiriam capazes de assumir, sozinhos, a educação dos próprios filhos?

"Lembro minha última entrevista com David Cronenberg, durante a qual comentei, com um pouco de melancolia, que educar filhos era uma sequência de despedidas, um adeus após o outro – às fraldas, aos agasalhos de neve, depois às próprias crianças. ‘Eles passam a vida partindo’, eu falei, e Cronenberg, que também tem filhos adultos, me interrompeu: ‘Sim, mas será que eles realmente partem?’"

28 julho 2009

Chove chuva, chove sem parar...


Existem pessoas que adoram calor, outras preferem o frio e até algumas que gostam de ficar olhando a chuva. Um pouco de cada coisa eu acho bom, nem muito quente, nem muito cinza e com um pouquinho de chuva que faz bem para as plantas.


Quando era criança tinha uma relação saudável com os diferentes climas. Uma manhã de sol era boa para brincar até cansar, mas calor demais não caía bem.


Não era bom ir para escola em um dia chuvoso, ainda mais porque, por cima do meu uniforme da escola, minha mãe me obrigava a usar uma roupa velha que impedisse a chuva de molhar meu uniforme vermelho. Isso sem falar no guarda-chuva, na capa de chuva e nas botas plásticas. Mas tudo era recompensado quando, ao chegar em casa eu tomava um banho quentinho e minha mãe ma servia um chocolate quente. Não existia momento mais aconchegante.


Quando lembro do frio eu lembro das tardes de sábado em que eu vestia um agasalho de moletom e ia visitar algum parente que morava na vizinhança. É claro que nem todas as tardes de sábado eram geladas mas esse friozinho gostoso ficou marcado na minha memória. O frio de São Paulo realmente não se comparava ao de outras regiões, mas uma coisa que não podia faltar era a garoa.


Mas o que me levou a este clima de nostalgia? O simples fato de eu ter entrado de férias, viajado, voltado a trabalhar e o tempo em Curitiba ter permanecido o mesmo: chuvoso, frio e nublado, desafiando o bom humor de quase todos que aqui vivem. O sol está parecendo até aquele tio distante que você encontra somente algumas vezes por ano num almoço de família.


Tempo cinza não tem graça nenhuma.

26 junho 2009

M.J.

Quantos anos eu devia ter, oito, nove? Na sala de aula, em frente ao quadro branco e aproveitando que a professora não estava, alguns meninos tentavam andar na lua. Impossível. Só ele conseguia fazer aquilo com tamanha perfeição. Cada novo detalhe adotado virava sua marca, uma extensão de sua própria pessoa. O gesto feito com o chapéu, inclinando a cabeça para frente escondendo e revelando o rosto, a mão envolta na luva prateada dançando pelo ar, os pés indo de lado para o outro, incansáveis, e o passo, aquele passo, inimitável.

Cada nova música e principalmente cada novo vídeo-clip, eram ansiosamente aguardados com a certeza de que o que seria mostrado nunca nos decepcionaria. Nunca nos decepcionava. O melhor de todos eles, o mais feio e mais belo que já vi dava-me um medo muito grande. Eu, criança, não gostava de ver monstros e mortos-vivos levantando dos túmulos. Mas eu, criança , não resistia à toda aquela beleza. Eu tinha que olhar. Olhava. Olhava e sentia um misto de medo e prazer (felizmente a risada tenebrosa estava somente no final).

Da cozinha minha mãe dizia: tinha que ver quando ele era criança, uma graça, e que voz! Eu, criança, não dava muita importância a isso: tempo bom é tempo presente.

Meses atrás assisti a um DVD com uma aparições dele criança e aí entendi o que minha mãe dizia. Tempo bom é tempo que transcende.

Daqui algum tempo, quando forem comemorados os dez ou vinte anos de sua morte, talvez meus filhos não entendam porque parei tudo o que estava fazendo para ficar em frente à TV assistindo a um menino dançar e cantar com seus irmãos. Mas se eles prestarem bem atenção irão compreender, assim como eu compreendi o que minha mãe sentia.

17 fevereiro 2009

Caindo fora da folia



Eu devia ter uns cinco ou seis anos. Meu tio sentado na soleira da porta e eu, em pé atrás dele, vasculhando sua imensa cabeleira black power tentando livrá-la de alguns punhados de confete ali  depositados. Essa é a lembrança mais antiga que tenho sobre o carnaval. Nunca fui a um baile ou a um desfile e posso garantir com quase cem por cento de certeza que vocês nunca me verão vestida em um abadá correndo atrás de um trio elétrico. Quando criança eu tinha uma pontinha de vontade de participar de um baile, mas não por causa da dança ou das marchinhas, o que eu queria mesmo era me fantasiar de odalisca. Mas eu cresci e a vontade de sair por aí como uma nova versão de Jeanne é o gênio ficou para trás. Não vou dizer que odeio carnaval pois estaria mentindo: eu adoro ficar do sábado até a quarta-feira de cinzas à toa, sem ter que me preocupar com trabalho ou escola, mas minha simpatia por esta festa pagã vai só até aí. Tenho pena daquelas pessoas que, como eu, não simpatizam com a data mas moram em zonas críticas como Rio de Janeiro, Salvador ou Recife. Eu fui agraciada com o privilégio de morar em Curitiba (a capital ecológica onde tudo pode acontecer, menos o carnaval). Aqui não tem trio elétrico ou bloco carnavalesco. A cidade fica tão silenciosa que dá pra ouvir até os pássaros. Embora reze a lenda que em algum lugar no centro da cidade, nas noites de carnaval aconteçam desfiles de escolas de samba, nunca conheci alguém que tenha desfilado ou pelo menos assistido a um desses desfiles. Até ano passado essa história de que os moradores de Curitiba não gostam de carnaval era um tipo de lenda urbana, mas isso foi mais que comprovado com uma pesquisa divulgada esta semana: 

"Quem já desconfiava que curitibano não gosta de carnaval agora pode ter certeza. Sondagem do instituto Paraná Pesquisas confirma o que até agora era uma lenda urbana. De acordo com a pesquisa, 66,62% dos curitibanos não gostam de Carnaval contra apenas 33,38% que afirmam gostar da festa pagã. A mesma sondagem revela que ao contrário do que parece, 68,28% das pessoas que moram em Curitiba costumam passar o feriado da folia na cidade, contra 31,72%, que costumam viajar."


Fonte: http://www.bemparana.com.br  em 16/02/2009

Então se você não aguenta mais a batucada, a bagunça e os trios elétricos tocadores de axé e procura um lugar calmo para um retiro espiritual venha para Curitiba!



07 fevereiro 2009

para Francisco

De desencontros e encontros o amor nasceu. Desse amor um fruto cresceu. Da dor da perda  e da felicidade da chegada a ideia de transmitir aquele amor tomou forma, primeiro em um blog e agora em um livro. para Francisco, livro de Cristiana Guerra, lançado ano passado e baseado em seu blog para Francisco, é delicadamente emocionante.

Muitos ao assistirem um filme torcem para que tudo acabe com "...e viveram felizes para sempre" e se decepcionam ao constatar que alguns roteiristas não são fãs de contos de fadas: o casal não fica junto no final, aquela pessoa não retorna e alguém muito querido morre. Nessa hora queremos sentar na cadeira do diretor, gritar um sonoro "corta" e regravar a cena com um final feliz. Tive essa vontade ao ler para Francisco. Já acompanhava o blog a algum tempo mas fiz questão de comprar o livro. 

Após algumas idas e vindas Cris e Guilherme ficam juntos, ela engravida e dois meses antes do filho nascer Gui tem morte súbita. Cris decide então, através de "cartas", apresentar ao filho o pai que ele não pode conhecer. Mas Cris é generosa e também apresenta aos leitores um ser humano maravilhoso. No início da leitura pode haver revolta: "por que ele teve que partir tão cedo, por que naquela hora, por quê?" Essa pergunta talvez permaneça durante toda a leitura, mas, à medida ela avança, vai surgindo uma alegria, um contentamento por ver que o que Cris faz em seus textos não é lamentar a perda e assim agradecer a oportunidade ser amada, ontem e hoje, e de por em prática a capacidade de continuar amando, mesmo que de maneiras diferentes.

Ao ver as fotos, ler os emails trocados e as pequenas narrativas do dia-a-dia em que paira sempre um ar amoroso, vemos que os roteiristas têm razão: o fim da história não tem que ser "felizes para sempre". É preciso ser "felizes hoje, agora". Guilherme sabia disso, Cris aprendeu e agora nos ensina.


"A vida segue rápida e emocionante, o perigo é enorme, mas a paisagem compensa." (para Francisco)

Meme literário

Meme super atrasado. Desculpe Camila.


1. Livro/Autor(a) que marcou sua infância: uma edição infantil ilustrada de Alice no País das Maravilhas. Nem sabia ler mas já sabia a história de cor. Depois disso, ainda na infância, li a versão traduzida do original. 

2. Livro/Autor(a) que marcou sua adolescência: Vale das Vertentes de Giselda Laporta Nicolelis e muitos, muitos outros nesta linha juvenil. Sou uma aluna de letras que não nasceu lendo os clássicos. Mas não posso deixar de dizer que li Vidas Secas do Graciliano Ramos e simplesmente me apaixonei pela história. E é claro Agatha Christie, creio que li quase todos os seus livros.

3. Autor(a) que mais admira: Machado de Assis, Ruy Tapioca.

4. Autor(a) contemporâneo: Milton HatoumKalled Housseni, apesar da tristeza e raiva que dá do que acontece nas histórias, Luiz Vilela, por conseguir escrever (e bem) uma novela inteira só com diálogos, e Ruy Tapioca pelo  excelente República dos Bugres.

5. Leu e não gostou: Molecagem de Luiz Claudio Cardoso, é um livro infanto-juvenil que li na adolescência. Antes de lê-lo tinha a certeza de que nenhum livro era totalmente ruim, todos tinham alguma coisa boa a acrescentar. Me enganei.

6. Lê e relê: Gosto de reler alguns livros mas atualmente não estou nem conseguindo ler a primeira vez.

7. Manias: Não ter coragem de me desfazer dos meus livros. Por mim eles nunca sairão do meu lado. Outra: penso mil vezes antes do gastar dinheito com roupa, perfume, sapato e até com comida (quando é mais cara), mas não penso duas vezes antes de comprar um livro que eu queira.

21 janeiro 2009

Donde

Este aqui saiu daqui.



Donde saiu este homem? Não peço que me digam onde nasceu, quem foram os seus pais, que estudos fez, que projecto de vida desenhou para si e para a sua família. Tudo isso mais ou menos o sabemos, tenho aí a sua autobiografia, livro sério e sincero, além de inteligentemente escrito. Quando pergunto donde saiu Barack Obama estou a manifestar a minha perplexidade por este tempo que vivemos, cínico, desesperançado, sombrio, terrível em mil dos seus aspectos, ter gerado uma pessoa (é um homem, podia ser uma mulher) que levanta a voz para falar de valores, de responsabilidade pessoal e colectiva, de respeito pelo trabalho, também pela memória daqueles que nos antecederam na vida. Estes conceitos que alguma vez foram o cimento da melhor convivência humana sofreram por muito tempo o desprezo dos poderosos, esses mesmos que, a partir de hoje (tenham-no por certo), vão vestir à pressa o novo figurino e clamar em todos os tons: "Eu também, eu também." Barack Obama, no seu discurso, deu-nos razões (as razões) para que não nos deixemos enganar. O mundo pode ser melhor do que isto a que parecemos ter sido condenados. No fundo, o que Obama nos veio dizer é que outro mundo é possível. Muitos de nós já o vinhamos dizendo há muito. Talvez a ocasião seja boa para que tentemos pôr-nos de acordo sobre o modo e a maneira. Para começar.

Sabedoria pré-adolescente

Era uma conversa corriqueira em que minha mãe brincava com meu irmão dizendo: "Não quero saber de cunhada tão cedo pois você é muito novo para casar." Eis que de um canto da sala surge o seguinte diálogo:

meu filho: "Mas tem é que casar cedo mesmo."

eu: "Por quê?"

meu filho: "Porque se alguém casa tarde e depois de dez anos se separa já vai estar *muito velho para casar novamente. Agora, se você casar bem cedo quando se separar ainda vai estar novo e será mais fácil casar de novo."


* na verdade aqui ele usou a palavra "acabado" ao invés de "muito velho". Qual imagem as crianças têm de pessoas com mais de quarenta?

15 janeiro 2009

O filho eterno

Livro comprado, autógrafo devidamente registrado mas nada de conseguir chegar à última página. Confesso que minha capacidade de leitura já foi bem melhor. Mas enfim cheguei ao fim de O Filho Eterno de Cristovão Tezza, ganhador, entre outros prêmios, do Jabuti na categoria melhor romance.

A história de um pai e seu filho com síndrome de Down. Talvez apenas por essa minúscula descrição poderia-se pensar em uma historia de doação, coragem e amor incondicional. Tomará um choque quem assim pensar. Temos um pai sem nome e seu filho Felipe, um filho incompleto, um filho que não satisfaz a idéia de filho criada pelo pai, e esse pai claramente se recusa a aceitar um filho pela metade.  Mas será que o correto, ou antes,  será uma reação humana normal um pai aceitar pacificamente que seu filho nunca será aquilo que todos os filhos devem ser? O filho nunca crescerá, será uma eterna criança, sempre dependente em algum aspecto. Qual pai ou mãe não sonha com um filho perfeito, que nasça forte e se desenvolva bem? Pensar o contrario disso é hipocrisia, afinal o importante não é nascer com saúde? Definitivamente para o pai de Felipe, aquela criança que ele carrega nos braços não condiz com a idéia de "nascer com saúde". Mas a criança alí está e precisa ser cuidada. O pai passa a aplicar no filho algumas terapias para que ele se desenvolva e lá no íntimo sonha que as repetidas sessões criem uma criança normal. Isso não vai acontecer, o pai sabe, mas a aceitação dessa realidade que será "eterna" leva tempo. Entre as lembranças de sua juventude e o inconformismo com sua medíocre vida presente o homem vai abandonando a ideia de criar um filho perfeito e transforma-se no pai que Felipe precisa. 

Esta é uma historia de doação, coragem e amor incondicional, mas não nos moldes folhetinescos e é aí que ela se faz tão verdadeira.