23 fevereiro 2008

Vazio - parte II

Ele apareceu da mesma maneira que apareceram todas as outras pessoas em sua vida: calmamente, como se estivessem só de passagem. Nunca conheceu ninguém de modo inesperado. As pessoas simplesmente apareciam e por algum tempo compartilhavam uma pequena parte do seu mundo. E agora era hora dele compartilhar. Tudo começou com uma conversa e essa conversa foi tão boa que se estendeu por dias, semanas e meses. Quanto mais contato tinha com ele menos vazio sentia. Era incrível como de repente a simples existência daquela outra pessoa conseguia preencher tudo à sua volta. De uma hora para outra o mundo não era mais tão chato. Agora ele tinha cores, cores e sabores. E ela fazia questão de provar todos esses sabores e de se ver coberta de todas as cores. Ela ficou mais calma, até mais bondosa. De certa forma agora sentia-se grata com a vida por ela ter colocado em seu caminho alguém tão simples mais ao mesmo tempo tão imprevisível. Começou a perceber que não precisava fazer grandes conquistas para sentir-se viva. As pequenas conquistas diárias eram a sua grande conquista. Nas longas conversas que tinham talvez ela não conseguisse conhecê-lo muito bem mas de uma maneira que não compreendia ela estava se conhecendo cada vez mais. Sempre fora uma pessoa contida, paciente e que procurava colocar-se no lugar das outras pessoas. Com isso sempre acabava esquecendo dela mesma. Anulava-se tentando evitar confrontos, fossem eles de qualquer natureza. Agora sentia que tinha vontades e que tinha todo o direito de vê-las satisfeitas. Sentia-se viva e presente no mundo. Não sabia se tudo isso emanava dele ou se aquilo sempre esteve dentro dela só esperando que a pessoa certa a despertasse. Às vezes tentava entender isso mas logo desistia. Não queria desperdiçar seu tempo com pensamentos que não iam levá-la a lugar nenhum. Aceitava não saber a origem daquela transformação. Mas nem tudo era calmo naquela relação. Irritava-se muitas vezes com certas atitudes vindas dele nas quais não conseguia ver um propósito, uma lógica. Ele muitas vezes parecia querer desafiar o mundo e sempre criticava algo. Não era uma critica gratuita, percebia que não era mas mesmo assim a incomodava e chegava a irritá-la. Mas com a mesma facilidade com a que ele a chateava também a deixava feliz.

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