20 fevereiro 2008

Vazio - parte I

Vazio. Novamente aquele vazio. Nunca falou disso com ninguém. Também, quem iria entender? Só mesmo alguém que já tivesse sentido o mesmo. Ultimamente este vazio deixara de ser um sentimento abstrato. Cada vez mais ela podia senti-lo alí, bem no meio do peito. Parecia mesmo que faltava algo, que quando seu corpo estava se formando faltou colocar alguma coisa alí. Tentava definir racionalmente uma coisa que lhe parecia totalmente irracional. Era um vazio mas era também um misto de saudade e tristeza. Vazio, saudade e tristeza. A combinação desses três elementos lhe dava aquela sensação estranha mas ao mesmo tempo tão familiar. O vazio lhe dizia que deveria preencher a sua vida com alguma coisa, que estava faltando algo. Mas o quê? Dinheiro, realização profissional? Poderia até ser, mas não era só isso. Havia mudado de emprego algumas vezes e conquistado coisas melhores mas logo a empolgação pelo novo ia diminuindo até cessar totalmente. Precisava de algo além do plano material. Um amor. Um novo amor deveria completá-la, mas acontecia a mesma coisa. Com o passar dos dias a paixão ia enfraquecendo até ela perceber que o que tinha não bastava. E ela conseguia viver muito bem sem alguém a quem amar. Realmente ela nadava contra a correnteza. Enquanto a maioria das pessoas sentia-se sozinha e entrava numa busca frenética pelo amor de suas vidas ela não fazia o menor esforço para isso. A solidão era sua companhia e isso bastava. Já a saudade e a tristeza eram dois sentimentos intimamente ligados. Toda saudade traz em si uma pontinha de tristeza. Tristeza por gostar muito de alguém mas não poder estar próximo o bastante ou então não ter a possibilidade de voltar no tempo para reviver algo bom. Mas a sua saudade também era diferente. Ela sentia saudade mas não sabia do quê. Não é lógico alguém sentir falta de algo que não teve, que não conheceu. Mas o que era lógico nesse emaranhado de sentimentos estranhos? Algumas vezes tinha vontade de se esconder, não falar com ninguém. Em outras sentia-se carente, deixada de lado mas não tinha a mínima idéia de como aproximar-se de alguém e então desistia. Foi num momento assim que ele apareceu.

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