21 fevereiro 2008

A carona

Sábado à tarde o telefone toca. É minha amiga convidando-me para ir a uma festa perto da casa dela. Não tenho o que fazer mesmo então resolvo aceitar o convite. Ela mora pertinho de um parque onde tem uma represa. Sempre ouvi dizer que lá pelas redondesas as coisas podem ficar perigosas de vez em quando (talvez alguns corpos desovados no local colaborem com esta crença). Mas afinal, qual lugar não é perigoso hoje em dia? Quando chego ao terminal de ônibus ligo para minha amiga para saber qual ônibus devo pegar. Pela casa dela passam várias linhas então aproveito um que já estava saindo e lá vou eu. Nunca fui na casa dela e, seguindo as instruções passadas por telefone, peço ao cobrador para me avisar onde descer: na praça ao lado da escola e do posto de saúde. Quantas praças ao lado da escola e do posto de saúde existem no trajeto daquele ônibus? A lógica me diz que não muitas mas parece que o cobrador não sabe disso. Minha amiga mora bem no começo da represa então temos: casa da amiga - represa - lugar desconhecido. Como está escuro e eu não conheço nada acho até estranho aquele monte de água passando do outro lado da janela, mas o cobrador faz aquele caminho todo dia certo? Então quem sou eu para desconfiar que ele não faz a mínima idéia de onde fica a praça ao lado da escola e do posto de saúde? De repente (e depois que a represa já tinha ficado lá para trás) o cobrador fala: é aqui. Eu desço. Assim que coloco meu pézinho no chão uma frase vem na minha mente: me ferrei, desci no lugar errado. E logo em seguida: cobrador filho da mãe! Onde eu estou? Imagine uma estrada, umas casas aqui, outras acolá, silêncio e nenhuma viva alma num raio de um quilômetro? Ah sim, e o escuro. Só aquela fraca iluminação dos postes da rua. Um telefone! Preciso de um telefone! Tento ligar para minha amiga e só dá ocupado. Tô perdida (em todos os sentidos). Finalmente o telefone chama, é a mãe da minha amiga. Onde você está, ela pergunta. Eu não tenho a mínima idéia, acabei descendo no lugar desconhecido. Ela me aconselha a ir para o ponto de ônibus e esperar que ele volte. Olho em volta e tenho a sensação de que estou num daqueles filmes de suspense: lugar deserto, tudo em silêncio, e a qualquer momento um louco de machadinha na mão vai aparecer do nada e começar a correr atrás de mim e eu, apesar de correr mais rápido que ele, vou tropeçar, começar agritar e... Mas voltando à realidade, eu tinha que descobrir um jeito de sair dalí. Olho para o lugar de onde estou ligando e adivinha o que é? Um posto da polícia militar. Olho na garagem a alí está uma viatura. Estou salva! Respiro fundo e bato na porta. Um policial vem me atender. Conto a minha triste história. A princípio ele não parece muito propenso a me ajudar e o fato de eu não saber o nome da rua e o número da casa da minha amiga não melhora as coisas. Depois de alguma negociação e de ele perceber que, ou ele me leva embora ou eu durmo alí, ele resolve me dar uma carona. Chama o outro policial do posto e lá vamos nós. Fazemos então o trajeto contrário ao do ônibus pois sabemos, ao contrário do tapado do cobrador, que naquele caminho só existe uma praça ao lado da escola e do posto de saúde. Assim que o carro passa em frente à praça vejo minha amiga subindo a rua com um ar de preocupação estampado no rosto (por que será?). O policial, só de sacanagem, pára o carro ao lado dela (ela não tinha me visto) e pergunta com aquele tom de Capitão Nascimento: A senhora é a senhora Valéria? E ela com os olhos arregalados: S-s-ou. Quando salto do carro e vou ao encontro dela ela diz: Nossa, que chique, não sabia que você ia chegar na minha casa em grande estilo.
Pois é, da próxima vez chegarei de helicóptero.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lição: não acredite em cobradores de ônibus.