07 novembro 2007

Paiol Literário

No último post (e lá se vão alguns meses) eu comentei sobre o jornal literário Rascunho e sobre o Paiol Literário. Ontem eu tive a oportunidade de ir até o teatro Paiol e conhecer de perto o escritor Luiz Vilela. Na verdade fui descobrir a existência de Vilela este ano quando tive que fazer um trabalho de Teoria da Literatura para a faculdade e o tema era o Modo Dramático. Traduzindo: em teoria da literatura estudamos os vários recursos usados pelo autor para escrever um livro. Ele pode narrar a história em terceira pessoa, pode criar um narrador protagonista (como o Bentinho em Dom Casmurro), pode fazer a história ser contada por mais de um personagem e muitas outras formas. Entender o modo dramático é bem simples, basta lembrar das peças de teatro onde a história se conta predominantemente através dos diálogos. O difícil é achar uma obra de ficção, que não seja uma peça mas que seja quase toda em forma de diálogos. Para minha sorte existe o Luiz Vilela. Seus contos são recheados de diálogos e sua novela mais recente, Bóris e Dóris é toda construída em cima da conversa de um casal. Com esse livro e alguns outros contos de outros autores conseguimos (sim, porque não posso deixar de fora meu grupo de trabalho, ainda mais porque a Cris de vez em quando lê este blog) apresentar nosso trabalho e conseguir uma boa nota. Resumindo: eu não podia deixar de comparecer ao Paiol Literário desse mês.

Cheguei lá por volta das sete e quarenta da noite e como o início estava marcado para as oito horas, achei que eu estava no horário. Mas como não estamos em Londres, a palestra começou após as oito e vinte. Parte desse atraso (não sei é assim sempre) foi causado pela equipe de TV que iria filmar o evento. A produtora procurava por voluntários que estivessem dispostos a ler trechos de contos do autor (sem cachê, é claro, tudo pela arte) enquanto eram filmados. Não sei se vocês já foram ao Paiol mas ele é um teatro no mínimo “aconchegante”, mas sem deixar de ser charmoso. Ele é quase uma mini arena onde a platéia se distribui em volta do pequeno palco. E era um tal de iluminação pra cá, câmera pra lá e microfone na lapela que eu não via a hora da “entrevista” começar.

Entra então o convidado da noite, tranqüilo, sossegado, mineiro. Falou sobre como e porque começou a escrever. Contou que desde sempre se viu rodeado de livros, tantos que até no galinheiro tinha alguns. Fez sua estréia aos treze anos de idade e não parou mais. Quando criança gostava de inventar histórias com seus brinquedos. Depois de grande continua brincando, só que de inventar livros. Lembrou com carinho de um professor que teve e que o motivou a continuar escrevendo quando ainda estava no colégio. Disse que uma das técnicas que usa ( se é que eu posso chamar assim) é a de ler em voz alta tudo o que escreve para ver se está bom. Outra é que quando escreve um conto e começa a ler e reler muito e a achar que não está bom o suficiente joga-o numa gaveta e espera o tempo passar. Vilela também falou sobre seu novo livro intitulado Redenção que será lançado no ano que vem. Mas não falou só sobre literatura. Contou também um pouco sobre sua cidade: Ituiutaba que apesar de ter recebido durante muito tempo o título de “uma cidadezinha do interior de Minas”, hoje já é igual a qualquer “cidade grande”. Reclamou da violência que lá existe, tráfico de drogas, roubos, como há em outros lugares.

Um ponto a meu favor foi que descobri que os grandes escritores também não conseguem ler tudo o que “deveriam” ler. Vilela conta que atualmente dedica-se a ler aqueles livros, muitos deles clássicos, que foram ficando para trás. Diz ele: “se eu não ler agora, não leio nunca mais”. Ufa! Não sou só eu que leio menos do que deveria/gostaria. Também falou sobre a situação que temos hoje: muita informação para pouco tempo disponível. Um dos momentos engraçados foi quando Vilela revelou que chega a desconfiar que os livros copulam à noite pois não para de aparecer livro em sua casa.

Assistir a esta palestra me deu vontade de escrever. Acho que porque Vilela fala de um jeito tão gostoso da arte de escrever...Mas isso não quer dizer que não exija trabalho e dedicação. Não sei por que mas sempre tive a idéia de que o livro simplesmente “nasce”. Um belo dia o escritor está sossegado, então tem uma revelação e a história simplesmente se materializa. Tudo bem que isso pode acontecer porém ele me mostrou que por trás do livro pronto e editado existe um grande trabalho. É claro que eu não poderia perder a oportunidade de sair de lá com meu livro autografado. Espero que seja o primeiro de muitos. Para terminar a noite o entrevistador agradeceu a presença de todos e disse : “Peço agora que Vilela se despeça com algumas palavras.” E Vilela: “Boa noite”.

7 comentários:

Anônimo disse...

Gostei de ver nome citado no texto... Mas tenho uma correção a fazer: Eu não leio de vez em quando, eu leio sempre. A questão é que nem sempre eu deixo comentários.E quando eu deixo, nem sempre eles são pertinentes...
Acho que esse comentário aqui é um exemplo de comentário impertinente!

Anônimo disse...

Conta o próprio Mario Quintana em um texto de seus livros (que agora não me lembro qual :( ) que também utilizava a técnica da gaveta.

Acho essa técnica muito interessante. Costumo fazer isso, principalmente se acho que algo que fiz está muito bom! Mas a minha gaveta, é certo, não se compara à gaveta do Vilela, muito menos com a do Quintana.

Cami disse...

Lembrei agora que você tinha me falado do Paiol Literário... Acho que teria sido uma ótima oportunidade para o Jefferson conhecer o "ídolo" do seminário de TL I. rsrsrs

Anônimo disse...

Não, Cami! O ídolo do Jefferson não é o Luiz Vilela, é o Fernado Sabino! Tanto na seara pessoal, quanto na profisional!

Anônimo disse...

Não, Cami! O ídolo do Jefferson não é o Luiz Vilela, é o Fernado Sabino! Tanto na seara pessoal, quanto na profissional!

Anônimo disse...

Não é sempre que temos a oportunidade de ler um texto tão fluente que comente as impressões de uma noite com Luiz Vilela.

Suas impressões se assemelham às de outras dezenas de alunos/escritores/leitores/críticos literários. Excelente texto.

Isaias de Faria disse...

olá kátia, tudobem ? espero que tudo. sou leitor e (re)leitor assíduo do luiz vilela. ficou ótima sua forma de descrever a palestra do vilela. muito fluente, e prende a leitor. eu fui um deles (lógico). publiquei um trechinho do conto "momento" do livro "no bar" para ilustrar uma resenha que fiz do filme "o eclipse" do diretor italiano m. antonioni. faça-nos uma visita lá pra ver quando tiver um tempo aí:
dissertandosobrecinema.blogspot.com
um abraço, isaias