20 novembro 2007

Like a fish out of water


Para aqueles que como eu não suportam frescura, choradeira e reclamação é melhor parar a leitura por aqui pois aí vem o Momento Diarinho (até os mais duros corações passam por isso).

Desde que me conheço por gente existem momentos em que me sinto totalmente fora d´água. Nunca fui de falar muito. Provavelmente quando eu era criança muitos deviam achar que eu era muda. Mas como de criança tudo se perdôa, consegui sobreviver sem muitos traumas. Tinha as minhas amiguinhas na escola, brincávamos juntas, ficávamos de mal para o resto de nossas vidas e cinco minutos depois já fazíamos as pazes. Eu era feliz! Muda mas feliz.

Quando eu tinha dez anos e ia passar da quarta para a quinta série, meus pais cometeram aquilo que para uma criança é o pior dos pesadelos: eles mudaram de cidade. Basta dizer que eu fui um dia para a aula e nos três seguintes fiquei em casa, de cama, devido a uma crise de bronquite de fundo emocional. Se fiquei amiga de umas duas meninas foi muito. O restante da sala me odiava. Pelo menos eu descobri a leitura. Passava a hora do recreio inteira enfiada na biblioteca. Eu era infeliz! Nerd e infeliz.

Esse tormento durou um ano. No ano seguinte nós mudamos de casa (só de casa, desta vez continuei na mesma cidade) e eu de escola. Para mim não fazia muita diferença mudar de um lugar onde todos me odiavam para outro onde não notavam a minha existência. Até que desta vez foi um pouco melhor. Conheci uma menina chamada Kellen que tornou-se uma grande companheira e no condomínio onde eu morava todos se conheciam e eu passava as tardes me divertindo. Eu era feliz! Em parte feliz.

Após três anos e meio eu estava na metade da oitava série e adivinhem o que aconteceu? Mudança. Voltamos para São Paulo. Uma coisa ruim é ser transferida de uma escola para outra e iniciar o ano letivo com um monte de gente que você não conhece. Já uma tragédia é quando você é transferido de uma escola para outra na metade do ano. Chorei, chorei e chorei quando fui fazer a matrícula na nova escola e bati o pé dizendo que não voltaria a estudar. Preferia trabalhar a colocar meus pés naquela escola. Enfim, como pré-adolescente não tem vontade própria tive que freqüentar as aulas. O meu consolo é que seriam menos de seis meses. Eu era infeliz! Conformada e infeliz.

No ano seguinte estava eu em uma nova escola. Desta vez não foi por causa de nenhuma mudança. Eu já estava no segundo-grau (atual ensino médio) e entrei em uma escola técnica. Tinha aulas das 7:15 da manhã até as 4:15 da tarde. Pode parecer muito cansativo para alguns mas para mim era o paraíso. Hoje olho para trás e digo com certeza que foi a melhor época da minha vida. As amizades que fiz lá, e que não foram poucas, estarão para sempre guardadas no meu coração e na minha memória. Eu era feliz! Extremamente feliz!

Terminado o curso cada um teve que seguir seu rumo e o meu, por motivo de força maior, foi uma breve escala no interior de São Paulo (onde o peixinho aqui quase morreu de tanto ficar fora d´água) e depois para Curitiba. Foram sete anos com notícias esporádicas e até sem nenhuma notícia dos meus queridos amigos que ficaram lá longe. Teve uma época em que eu me sentia tão sozinha e com tanta saudade que eu chegava a sonhar com a turma toda. Quando acordava sentia uma sensação de vazio imensa. Fiz algumas amizades onde trabalhei, com uma pelo menos tenho contato de tempos em tempos. Onde trabalho atualmente tenho aquelas pessoas queridas também, que sentam junto para dar risada

Alguns anos se passaram do dia em que eu terminei meu curso técnico até o dia em que eu voltei a ter aulas, desta vez na faculdade. Novamente, não conheço muita gente. Continuo não falando muito e isso por vezes é mal interpretado. O que eu tenho raiva às vezes é de quem pega no meu pé por esta característica. Por que não vão encher o saco de quem fala demais? (ops! nível de agressividade subindo) Acho que posso dizer que tenho amigos no mundo acadêmico (só para ficar mais chique), pelo menos eu os considero assim. Mas continuo sentindo-me um peixinho numa bacia rasa. Talvez falte cuidado da minha parte, mais dedicação. Como qualquer outra relação humana a amizade deve ser cuidada, deve ter atenção. Eu poderia dizer que isso não é fácil nos dias de hoje e todo aquele papo que envolve mais tecnologia e menos tempo, mas isso não vai diminuir o vazio que sinto. Vontade de compartilhar segredos, de dar conselhos inúteis e rir de coisas bobas. Quero falar, quero gritar que me sinto sozinha, que preciso de companhia, que muitas vezes sinto meu coração apertado mas meu pedido de ajuda morre na garganta. E continuo muda.


Um comentário:

Cami disse...

Todo mundo tem esses momentos meio "diário". São bons porque a gente pára e reflete sobre o que fizemos até agora... Sempre que eu faço isso, é inevitável não lembrar dos "amigos acadêmicos", que, sem dúvida, são meus maiores tesouros!