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22 janeiro 2008

O caso da Bala Soft

Ao lerem esse título muitos irão lembrar-se, primeiro com saudade e nostalgia e logo em seguida com horror e desespero, dessa famosa guloseima. Quando abríamos um pacotinho de balas Soft tínhamos a mesma sensação de um pirata que abre o baú do tesouro: aquelas jóias, digo, balas tão coloridas ofuscavam nossa visão, entorpeciam nossos sentidos e só pensávamos em uma coisa: degustá-las, uma após a outra, até o fim do pacote. Mas aquelas balas traziam com elas um perigo mortal. Seu formato anatômico fora desenvolvido especialmente para um encaixe perfeito na traquéia das vítimas. Lembro que sempre que ia chupar uma bala meus pais diziam: cuidado para não engolir. Tá, tudo bem demonstrar preocupação mas, diante do perigo iminente, não seria mais sensato parar de comprar as balas e assim afastar definitivamente a ameaça de sufocamento seguido de morte? Eu consegui escapar ilesa por muito tempo. Algumas vezes, estando a bala bem lisa e escorregadia em minha boca, ela sorrateiramente deslisava em direção a minha garganta mas eu sempre conseguia evitar o pior. Na verdade eu tinha medo pois ela era realmente muito escorregadia e sempre chupava com atenção redobrada. Mas o gosto da bala era tão bom que lá estava eu novamente com uma na boca. E depois de algum tempo fui me acostumando com o formato das balas e já sabia controlá-las muito bem. Infelizmente é quando você se sente mais confiante que os acidentes acontecem. Era uma bela tarde de sol (na verdade não lembro se era uma bela tarde de sol, mas assim fica mais poético) e eu brincava na sala da casa do meu avô. Minha mãe e minha avó também estavam lá (hoje tenho quase certeza que elas foram enviadas por Deus para estarem no lugar certo, na hora certa). Como sempre eu chupava uma bala Soft, ela era vermelha, sabor morango. De repente, numa fração de segundo, a bala escorregou goela abaixo. Primeiro foi o susto, em seguida o desespero. Minha mãe e minha avó perceberam o que estava acontecendo e começaram a tentar me desengasgar dando tapinhas nas minhas costas e mandando que eu cuspisse a bala. Não adiantou. Eu estava ficando sem ar e de repente o mundo ficou de ponta cabeça. Estaria eu desmaiando ou morrendo? Não. Num ato de desespero minha mãe me agarrou pelos tornozelos, segurou bem firme para que eu ficasse suspensa no ar de ponta cabeça e começou a me chacoalhar para cima e para abaixo. Após alguns segundos vendo o tapete ficar perto e longe, perto e longe, perto e longe, a bala finalmente saiu da minha garganta e caiu no chão. Foi a minha última experiência com aquelas balas.
Fico pensando se quem criou esta bala não pensou um dia em utilizá-la como arma de guerra.

16 janeiro 2008

O dia em que roubaram meu trono

"Meus oito anos

Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!... "

Casimiro de Abreu

Se eu fosse escrever um poema sobre a minha infância, ao invés de "Meus oito anos" eu o chamaria de "Meus seis anos". Por quê? Pelo simples fato de que até os meus seis anos eu era a criança da casa, a dona da bola, a única soberana que reinava deslumbrante naquele reino chamado Lar. Tudo era meu: bandejas de Danoninho, barras de chocolate, pacotinhos de Cheetos... Tudo era para mim: brinquedos, mimos, passeios, festinhas de aniversário... Depois dos meus seis anos vieram meus irmãos e meus primos para pôr em risco o meu trono. Muitos devem estar pensando "nossa, que menina mais egoísta!", mas aqueles que são primogênitos concordarão comigo. O mundo nunca mais é o mesmo após o nascimento do seu primeiro, segundo, terceiro irmão. Não que isso seja ruim. É sempre bom ter irmãos, alguém com quem brincar e principalmente brigar. É sempre bom ter companhia. O problema é que, ao contrário dos filhos que se multiplicam, o danoninho e o chocolate não. Não existe mais o meu, agora tudo é nosso e será assim até a idade adulta. Minha mãe vive falando que quando a minha irmã nasceu eu fazia questão de não chegar perto. Não era por maldade (eu acho), nas eu tinha que defender meu território e mostrar àquele bebê com cara de joelho quem é que dava as ordens alí. A verdade é que, por mais que você faça birra e manha, um dia vai ter que se acostumar a dividir suas coisas e (tentar) viver em harmonia.

Os anos passaram, nasceu também meu irmão e acho que conseguimos superar nossas crises infantis. Atualmente só brigamos por coisas sérias como quem vai usar o computador ou comer a última fatia de bolo.

ps.: Para que não fiquem pensando mal de mim, esclareço que amo meus irmãos. Isso é só um desabafo pois a história do Danoninho me marcou profundamente.
Irmãzinha, não fique brava pela "cara de joelho" pois você era o joelho mais lindo do berçário.