17 fevereiro 2009

Caindo fora da folia



Eu devia ter uns cinco ou seis anos. Meu tio sentado na soleira da porta e eu, em pé atrás dele, vasculhando sua imensa cabeleira black power tentando livrá-la de alguns punhados de confete ali  depositados. Essa é a lembrança mais antiga que tenho sobre o carnaval. Nunca fui a um baile ou a um desfile e posso garantir com quase cem por cento de certeza que vocês nunca me verão vestida em um abadá correndo atrás de um trio elétrico. Quando criança eu tinha uma pontinha de vontade de participar de um baile, mas não por causa da dança ou das marchinhas, o que eu queria mesmo era me fantasiar de odalisca. Mas eu cresci e a vontade de sair por aí como uma nova versão de Jeanne é o gênio ficou para trás. Não vou dizer que odeio carnaval pois estaria mentindo: eu adoro ficar do sábado até a quarta-feira de cinzas à toa, sem ter que me preocupar com trabalho ou escola, mas minha simpatia por esta festa pagã vai só até aí. Tenho pena daquelas pessoas que, como eu, não simpatizam com a data mas moram em zonas críticas como Rio de Janeiro, Salvador ou Recife. Eu fui agraciada com o privilégio de morar em Curitiba (a capital ecológica onde tudo pode acontecer, menos o carnaval). Aqui não tem trio elétrico ou bloco carnavalesco. A cidade fica tão silenciosa que dá pra ouvir até os pássaros. Embora reze a lenda que em algum lugar no centro da cidade, nas noites de carnaval aconteçam desfiles de escolas de samba, nunca conheci alguém que tenha desfilado ou pelo menos assistido a um desses desfiles. Até ano passado essa história de que os moradores de Curitiba não gostam de carnaval era um tipo de lenda urbana, mas isso foi mais que comprovado com uma pesquisa divulgada esta semana: 

"Quem já desconfiava que curitibano não gosta de carnaval agora pode ter certeza. Sondagem do instituto Paraná Pesquisas confirma o que até agora era uma lenda urbana. De acordo com a pesquisa, 66,62% dos curitibanos não gostam de Carnaval contra apenas 33,38% que afirmam gostar da festa pagã. A mesma sondagem revela que ao contrário do que parece, 68,28% das pessoas que moram em Curitiba costumam passar o feriado da folia na cidade, contra 31,72%, que costumam viajar."


Fonte: http://www.bemparana.com.br  em 16/02/2009

Então se você não aguenta mais a batucada, a bagunça e os trios elétricos tocadores de axé e procura um lugar calmo para um retiro espiritual venha para Curitiba!



07 fevereiro 2009

para Francisco

De desencontros e encontros o amor nasceu. Desse amor um fruto cresceu. Da dor da perda  e da felicidade da chegada a ideia de transmitir aquele amor tomou forma, primeiro em um blog e agora em um livro. para Francisco, livro de Cristiana Guerra, lançado ano passado e baseado em seu blog para Francisco, é delicadamente emocionante.

Muitos ao assistirem um filme torcem para que tudo acabe com "...e viveram felizes para sempre" e se decepcionam ao constatar que alguns roteiristas não são fãs de contos de fadas: o casal não fica junto no final, aquela pessoa não retorna e alguém muito querido morre. Nessa hora queremos sentar na cadeira do diretor, gritar um sonoro "corta" e regravar a cena com um final feliz. Tive essa vontade ao ler para Francisco. Já acompanhava o blog a algum tempo mas fiz questão de comprar o livro. 

Após algumas idas e vindas Cris e Guilherme ficam juntos, ela engravida e dois meses antes do filho nascer Gui tem morte súbita. Cris decide então, através de "cartas", apresentar ao filho o pai que ele não pode conhecer. Mas Cris é generosa e também apresenta aos leitores um ser humano maravilhoso. No início da leitura pode haver revolta: "por que ele teve que partir tão cedo, por que naquela hora, por quê?" Essa pergunta talvez permaneça durante toda a leitura, mas, à medida ela avança, vai surgindo uma alegria, um contentamento por ver que o que Cris faz em seus textos não é lamentar a perda e assim agradecer a oportunidade ser amada, ontem e hoje, e de por em prática a capacidade de continuar amando, mesmo que de maneiras diferentes.

Ao ver as fotos, ler os emails trocados e as pequenas narrativas do dia-a-dia em que paira sempre um ar amoroso, vemos que os roteiristas têm razão: o fim da história não tem que ser "felizes para sempre". É preciso ser "felizes hoje, agora". Guilherme sabia disso, Cris aprendeu e agora nos ensina.


"A vida segue rápida e emocionante, o perigo é enorme, mas a paisagem compensa." (para Francisco)

Meme literário

Meme super atrasado. Desculpe Camila.


1. Livro/Autor(a) que marcou sua infância: uma edição infantil ilustrada de Alice no País das Maravilhas. Nem sabia ler mas já sabia a história de cor. Depois disso, ainda na infância, li a versão traduzida do original. 

2. Livro/Autor(a) que marcou sua adolescência: Vale das Vertentes de Giselda Laporta Nicolelis e muitos, muitos outros nesta linha juvenil. Sou uma aluna de letras que não nasceu lendo os clássicos. Mas não posso deixar de dizer que li Vidas Secas do Graciliano Ramos e simplesmente me apaixonei pela história. E é claro Agatha Christie, creio que li quase todos os seus livros.

3. Autor(a) que mais admira: Machado de Assis, Ruy Tapioca.

4. Autor(a) contemporâneo: Milton HatoumKalled Housseni, apesar da tristeza e raiva que dá do que acontece nas histórias, Luiz Vilela, por conseguir escrever (e bem) uma novela inteira só com diálogos, e Ruy Tapioca pelo  excelente República dos Bugres.

5. Leu e não gostou: Molecagem de Luiz Claudio Cardoso, é um livro infanto-juvenil que li na adolescência. Antes de lê-lo tinha a certeza de que nenhum livro era totalmente ruim, todos tinham alguma coisa boa a acrescentar. Me enganei.

6. Lê e relê: Gosto de reler alguns livros mas atualmente não estou nem conseguindo ler a primeira vez.

7. Manias: Não ter coragem de me desfazer dos meus livros. Por mim eles nunca sairão do meu lado. Outra: penso mil vezes antes do gastar dinheito com roupa, perfume, sapato e até com comida (quando é mais cara), mas não penso duas vezes antes de comprar um livro que eu queira.