15 agosto 2008

Why drums?

Why drums?

Estávamos em mais uma aula de Língua Inglesa Oral e essa era a pergunta que Larry King, em seu programa de entrevistas, fazia a Ringo Starr. A resposta era algo do tipo “porque eu sempre gostei de bateria” ou “porque eu gostava do barulho e de fazer barulho”, resumindo: porque sim.

Porque sim também seria a minha resposta caso alguém perguntasse: por que Letras? Claro que uma resposta aparentemente sem nenhuma fundamentação não satisfaz muita gente. Algumas questões possíveis poderiam ser: Você quer escrever um livro? Tem certeza de que você quer ser professora? Confessa, você escolheu este curso porque a concorrência no vestibular era menor né? Mas, isso dá dinheiro?

Aliás a questão do dinheiro é que impulsiona muitas decisões. Se tal carreira está em alta e com possibilidade de oferecer boas remunerações, pipocam por aí cursos e candidatos a futuros profissionais bem sucedidos. Nada contra ganhar dinheiro, é claro, mas nem sempre é possível conciliar um bom salário com a satisfação de trabalhar naquilo que você ama.

Ouvindo conversas aqui e ali sempre me deparo com a seguinte situação: fulano cursou a faculdade por quatro, cinco anos, fez das tripas coração para pagar a mensalidade caríssima, formou-se, pegou o diploma e não consegue emprego na área ou ainda, quando consegue, o valor de seu salário nem chega perto àquele anunciado como piso inicial da carreira no guia de profissões. Isso desanima qualquer mortal, ainda mais aquele que passou toda a graduação somente pensando no dia da formatura. Com certeza eu não quero demorar mais que o necessário para me formar mas ao invés de ficar somente pensando em o que eu vou fazer quando sair da faculdade, tento “curtir” os momentos que passo lá dentro. Claro que não é fácil trabalhar o dia todo e ainda encarar aulas até as dez da noite. Uma prática muito comum entre os membros da minha turma é, naqueles momentos em que o professor fala algo que para nós parece grego (e acreditem, muitas vezes é), nós nos olharmos com aquela cara de “Meu Deus! O que ele tá dizendo?”. São filósofos, escritores, pensadores, teorias e toneladas de livros que você deveria ter lido, ter conhecido.

Aí vem a crise existencial que no meu caso e dos meus mais caros colegas acontece pelo menos uma vez por semana. Você quer desaparecer, fazer uma fogueira para queimar aquela montanha imensa de xerox que guarda em casa e ficar trancado no seu quarto lendo Sabrina e ouvindo Alexandre Pires.

Mas existem recompensas. Ter aula com professores que já hoje e daqui alguns anos serão considerados os melhores (ou alguns dos) em suas áreas de atuação. Não se sentir perdido ao ouvir alguém citar a Poética de Aristóteles (ainda que tenha lido apenas um capítulo). Conhecer coisas que nem em seus sonhos mais delirantes pensou existirem e melhor ainda, perceber que fazem sentido. Sentir-se burro e esperto, culto e ignorante quase ao mesmo tempo e saber que não está só nesta dicotomia.

O que eu tenho agora é satisfação pessoal. Dinheiro (sem ele não sobrevivemos) é uma meta e tentarei direcionar minha carreira para atingi-la. Ainda acho ser possível. Quem sabe não me torno uma super especialista em alguma área da linguística, uma renomada crítica literária ou publico um best seller? Afinal, quando Ringo começou a tocar bateria ele só queria fazer barulho.



Neste fim de semana acontece no campus Botânico da UFPR a Feira de Profissões. Através de palestras os candidatos à uma vaga nas universidades podem ter uma idéia de como é o curso que escolheram além de visitar os estandes para esclarecer dúvidas com os alunos da graduação

7 comentários:

Anônimo disse...

Talvez a melhor parte do curso de Letras sejam as "viagens": discutir se "gordinho" é a mesma coisa que "roliço", tratar as personagens de ficção como "pessoas" de verdade e analisar seus comportamentos e sentimentos, assim como entrar em contato com diversas culturas sem sair do lugar.

E eu acho que além de especialista em lingüística, você escreverá um best-seller. Vai por mim.

Anônimo disse...

Sou eu ali em cima. Testei o "Open ID" e deu mais ou menos certo.

Kátia disse...

Oh! Obrigada pela confiança. Já tem um lugar reservado na minha dedicatória.

Anônimo disse...

Kátia, se um dia eu me formar, vou te dar um pedaço do meu diploma...
Eu também acho que você vai escrever um best-seller!

Kátia disse...

Cris, tire essa conjunção subordinativa condicional SE da sua frase (não se assutem, eu olhei na minha velhíssima Novíssima Gramática). Nós vamos nos formar, só não sei quando ainda.

É claro que você também já tem cadeira cativa na minha dedicatória.

Felipe disse...

"Why Economics?"

"Why Mechatronics?"

;-)

Anônimo disse...

lilian disse...
Dinheiro é conseqüência e não causa.
Abandonei a faculdade aos 18 anos, quando já estava no quinto semestre de Psicologia da PUC-PR. Escolhi casar e viver na cidade do meu marido, no interior paulista. Prestei concurso para a Caixa Econômica Federal e aí permaneci 12 anos. Mas, quando estava no sétimo ano desse trabalho, voltei a estudar. Fiz um cursinho semi-extensivo noturno e prestei 4 vestibulares para Psicologia. Passei numa pública, em Bauru/Sp e numa particular, em Piracicaba. Acabei optando pela particular para poder continuar trabalhando.
Os sacrifícios foram muitos. O cansaço, nem se fala. Mas a alegria de concluir valeu todos os esforços. Tive a sorte de entrar na demissão voluntária proposta pela minha empresa, no início de 1996, anos em que concluí a faculdadee e, assim, pude me dedicar exclusivamente à clínica psicanalítica - práxis pela qual me enveredei desde o início da faculdade. Depois, cursei 4 anos de uma Escola de Psicanálise, em São Paulo. Ia toda semana para Sampa e trabalhava em Piracicaba e Tietê, na clínica. Em 2000, após ter concluído a Escola de Psicanálise, foi a vez da especialização. Escolhi a USP e foram mais dois anos de estudos e mais dois anos de escrita da monografia que acabei defendendo em Fevereiro de 2005.
Toda essa trajetória me fez ganhar dinheiro suficiente para bem viver. Atualmente, a situação é outra. Mas, levando-se em conta que trabalhei muito durante esses 12 anos de consultório, diminuí minha carga horária em meados de 2007. Trabalhando menos ganha-se menos. O importante é não desistir do sonho. Alimentá-lo sempre, mesmo frente às dificuldades.
Hoje foi um dia especial. Fui a São Paulo buscar meu certificado de pó-graduação na USP. Quando você vê seu nome em letras garrafais naquele papel bonito, o coração se enche de uma emoção indescritível. Não é o papel em si, é a metáfora que ele traduz de um tempo precioso de seua vida, de uma conquista em que somente você é o protagonista.
Com este certificado, inicio um novo em minha carreira profissional. Pela primeira vez farei credenciamento junto a um sistema de saúde empresarial, a convite de uma grande empresa existente na cidade vizinha de onde moro. Só esta empresa tem 2.300 funcionários! É um novo desafio, um novo aprendizado e uma forma de se trabalhar e se ganhar.
Também quero escrever um livro que já está em fase de "tecer os vocábulos". A escrita de um livro é um projeto de vida e, para mim, vale mais que um mestrado ou um doutorado. Escrever um livro é cifrar o desejo por sua conta e risco.
Trocaremos autógrafos no futuro, que tal?
A felicidade não é completa. Ela é construída e partilhada.
Kátia, continue a alimentar os seus sonhos. Lacan é imperativo ao dizer: "Não ceda de seu desejo."
Confio na sua capacidade e coragem.