22 novembro 2007

Mentiras

Recebi esta mensagem por email. Normalmente leio as mensagens que me enviam e deleto, não tenho paciência de ficar repassando. Mas esta mensagem casou com muitas coisas que penso e achei uma coisa legal de compartilhar (pelo menos com as mulheres). É uma crônica da escritora e colunista Danuza Leão. Não sei quando nem onde foi publicada mas vale a pena ser lida.

"Quantas mentiras nos contaram; foram tantas, que a gente bem cedo começa a acreditar e, ainda por cima, a se achar culpada por ser burra, incompetente e sem condições de fazer da vida uma sucessão de vitórias e felicidades.

Uma das mentiras:

É a que nós, mulheres, podemos conciliar perfeitamente as funções de mãe, esposa, companheira e amante, e ainda por cima ter uma carreira profissional brilhante .

É muito simples: não podemos.

Não podemos. Quando você se dedica de corpo e alma a seu filho recém-nascido, que na hora certa de mamar dorme e que à noite, quando devia estar dormindo, chora com fome, não consegue estar bem sexy quando o marido chega, para cumprir um dos papéis considerados obrigatórios na trajetória de uma mulher moderna: a de amante .

Aliás, nem a de companheira. Quem vai conseguir trocar uma idéia sobre a poluição da Baía de Guanabara se saiu do trabalho e passou no supermercado rapidinho para comprar uma massa e um molho já pronto para resolver o jantar, e ainda por cima está deprimida porque não teve tempo de fazer uma escova?

Mas as revistas femininas estão aí, querendo convencer as mulheres - e os maridos - de que um peixinho com ervas no forno com uma batatinha cozida al dente, acompanhado por uma salada e um vinhozinho branco é facílimo de fazer - sem esquecer as flores e as velas acesas, claro, e com isso o casamento continuar tendo aquele toque de glamour fun-da-men-tal para que dure por muitos e muitos anos.

Ah, quanta mentira!

Outra grande, diz respeito à mulher que trabalha; não à que faz de conta que trabalha, mas à que trabalha mesmo. No começo, ela até tenta se vestir no capricho, usar sapato de salto e estar sempre maquiada; mas cedo se vão as ilusões. Entre em qualquer local de trabalho pelas 4 da tarde e vai ver um bando de mulheres maltratadas, com o cabelo horrendo, a cara lavada, e sem um pingo do glamour - aquele - das executivas da Madison.

Dizem que o trabalho enobrece, o que pode até ser verdade. Mas ele também envelhece, destrói e enruga a pele, e quando se percebe a guerra já está perdida.

Não adianta: uma mulher glamourosa e pronta a fazer todos os charmes - aqueles que enlouquecem os homens - precisa, fundamentalmente, de duas coisas: tempo e dinheiro.

Tempo para hidratar os cabelos, lembrar de tomar seus 37 radicais livres, tempo para ir à hidroginástica, para ter uma massagista tailandesa e um acupunturista que a relaxe; tempo para fazer musculação, alongamento, comprar uma sandália nova para o verão, fazer as unhas, depilação; e dinheiro para tudo isso e ainda para pagar uma excelente empregada - o que também custa dinheiro.

É muito interessante a imagem da mulher que depois do expediente vai ao toalete - um toalete cuja luz é insuportavelmente branca e fria, retoca a maquiagem, coloca os brincos, põe a meia preta que está na bolsa desde de manhã e vai, alegremente, para uma happy hour.

Aliás, se as empresas trocassem a iluminação de seus elevadores e de seus banheiros por lâmpadas âmbar, os índices de produtividade iriam ao infinito; não há auto-estima feminina que resista quando elas se olham nos espelhos desses recintos.

Felizes são as mulheres que têm cinco minutos - só cinco - para decidir a roupa que vão usar no trabalho. Na luta contra o relógio, o uniforme termina sendo preto ou bege para que tudo combine sem que um só minuto seja perdido.

Mas tem as outras, com filhos já crescidos. Essas, quando chegam em casa, têm que conversar com as crianças, perguntar como foi o dia na escola, procurar entender por que elas estão agressivas, por que o rendimento escolar está baixo.

E ainda tem as outras que, com ou sem filhos, ainda têm um namorado que apronta, e sem o qual elas acham que não conseguem viver .
Segundo um conhecedor da alma humana, só existem três coisas sem as quais não se pode viver: ar, água e pão.

Convenhamos que é difícil ser uma mulher de verdade; impossível, eu diria.
Parabéns para quem consegue fingir tudo isso.... "

Danuza Leão

21 novembro 2007

Quanto vale ou é por quilo?

Ontem, Dia da Consciência Negra, assisti ao filme "Quanto vale ou é por quilo?".




Foto retirada do site oficial do filme

O filme é uma livre adaptação do conto "Pai contra Mãe" de Machado de Assis, entremeado com pequenas crônicas de Nireu Cavalcanti sobre a escravidão, extraída dos autos do Arquivo Nacional do Rio de Janeiro e se passa em duas linhas temporais: no século XVIII com a escravidão explícita e o comércio de escravos e nos tempos atuais com a exclusão social e seu sinônimo velado.

A escravidão existiu por que os brancos realmente achavam os negros seres inferiores que só serviam para desempenhar as tarefas mais pesadas?

Não. A escravidão existiu porque também já existiam pessoas sem caráter e o dinheiro falava mais alto. Alguma diferença com os dias atuais? Pessoas sem caráter continuam existindo e aumentaram, na mesma proporção em que aumentou a população do Brasil. O dinheiro fala mais alto que nunca. Quem são os escravos de hoje? É só olhar ao redor, ou quem sabe no espelho.




Foto retirada do site oficial do filme

20 novembro 2007

Like a fish out of water


Para aqueles que como eu não suportam frescura, choradeira e reclamação é melhor parar a leitura por aqui pois aí vem o Momento Diarinho (até os mais duros corações passam por isso).

Desde que me conheço por gente existem momentos em que me sinto totalmente fora d´água. Nunca fui de falar muito. Provavelmente quando eu era criança muitos deviam achar que eu era muda. Mas como de criança tudo se perdôa, consegui sobreviver sem muitos traumas. Tinha as minhas amiguinhas na escola, brincávamos juntas, ficávamos de mal para o resto de nossas vidas e cinco minutos depois já fazíamos as pazes. Eu era feliz! Muda mas feliz.

Quando eu tinha dez anos e ia passar da quarta para a quinta série, meus pais cometeram aquilo que para uma criança é o pior dos pesadelos: eles mudaram de cidade. Basta dizer que eu fui um dia para a aula e nos três seguintes fiquei em casa, de cama, devido a uma crise de bronquite de fundo emocional. Se fiquei amiga de umas duas meninas foi muito. O restante da sala me odiava. Pelo menos eu descobri a leitura. Passava a hora do recreio inteira enfiada na biblioteca. Eu era infeliz! Nerd e infeliz.

Esse tormento durou um ano. No ano seguinte nós mudamos de casa (só de casa, desta vez continuei na mesma cidade) e eu de escola. Para mim não fazia muita diferença mudar de um lugar onde todos me odiavam para outro onde não notavam a minha existência. Até que desta vez foi um pouco melhor. Conheci uma menina chamada Kellen que tornou-se uma grande companheira e no condomínio onde eu morava todos se conheciam e eu passava as tardes me divertindo. Eu era feliz! Em parte feliz.

Após três anos e meio eu estava na metade da oitava série e adivinhem o que aconteceu? Mudança. Voltamos para São Paulo. Uma coisa ruim é ser transferida de uma escola para outra e iniciar o ano letivo com um monte de gente que você não conhece. Já uma tragédia é quando você é transferido de uma escola para outra na metade do ano. Chorei, chorei e chorei quando fui fazer a matrícula na nova escola e bati o pé dizendo que não voltaria a estudar. Preferia trabalhar a colocar meus pés naquela escola. Enfim, como pré-adolescente não tem vontade própria tive que freqüentar as aulas. O meu consolo é que seriam menos de seis meses. Eu era infeliz! Conformada e infeliz.

No ano seguinte estava eu em uma nova escola. Desta vez não foi por causa de nenhuma mudança. Eu já estava no segundo-grau (atual ensino médio) e entrei em uma escola técnica. Tinha aulas das 7:15 da manhã até as 4:15 da tarde. Pode parecer muito cansativo para alguns mas para mim era o paraíso. Hoje olho para trás e digo com certeza que foi a melhor época da minha vida. As amizades que fiz lá, e que não foram poucas, estarão para sempre guardadas no meu coração e na minha memória. Eu era feliz! Extremamente feliz!

Terminado o curso cada um teve que seguir seu rumo e o meu, por motivo de força maior, foi uma breve escala no interior de São Paulo (onde o peixinho aqui quase morreu de tanto ficar fora d´água) e depois para Curitiba. Foram sete anos com notícias esporádicas e até sem nenhuma notícia dos meus queridos amigos que ficaram lá longe. Teve uma época em que eu me sentia tão sozinha e com tanta saudade que eu chegava a sonhar com a turma toda. Quando acordava sentia uma sensação de vazio imensa. Fiz algumas amizades onde trabalhei, com uma pelo menos tenho contato de tempos em tempos. Onde trabalho atualmente tenho aquelas pessoas queridas também, que sentam junto para dar risada

Alguns anos se passaram do dia em que eu terminei meu curso técnico até o dia em que eu voltei a ter aulas, desta vez na faculdade. Novamente, não conheço muita gente. Continuo não falando muito e isso por vezes é mal interpretado. O que eu tenho raiva às vezes é de quem pega no meu pé por esta característica. Por que não vão encher o saco de quem fala demais? (ops! nível de agressividade subindo) Acho que posso dizer que tenho amigos no mundo acadêmico (só para ficar mais chique), pelo menos eu os considero assim. Mas continuo sentindo-me um peixinho numa bacia rasa. Talvez falte cuidado da minha parte, mais dedicação. Como qualquer outra relação humana a amizade deve ser cuidada, deve ter atenção. Eu poderia dizer que isso não é fácil nos dias de hoje e todo aquele papo que envolve mais tecnologia e menos tempo, mas isso não vai diminuir o vazio que sinto. Vontade de compartilhar segredos, de dar conselhos inúteis e rir de coisas bobas. Quero falar, quero gritar que me sinto sozinha, que preciso de companhia, que muitas vezes sinto meu coração apertado mas meu pedido de ajuda morre na garganta. E continuo muda.


13 novembro 2007

Horóscopo



Não sei vocês mas eu nunca dei trela para aquela coisa que vem publicada nos jornais e principalmente nas revistas femininas: o tal de Horóscopo. Será que ainda hoje existe alguém que não sai de casa sem antes ficar sabendo o que os astros lhe reservam? Lembro que quando era criança e minha mãe ouvia aqueles programas da rádio AM sempre tinha o horóscopo do dia. Entrava então a voz de uma mulher junto com uma musiquinha de fundo para dizer num tom meio misterioso o que a amiga capricorniana devia ou não fazer naquele dia. Que cor de calcinha usar, o que comer, quem evitar, se devia ou não jogar no bicho, etc. O engraçado é que aquela "previsão" servia para todas as pessoas daquele signo. Agora imaginem quantas pessoas do mesmo signo existem? Tem também aquelas previsões que não dizem nada com nada. Olha o que o meu horóscopo de hoje me diz:


"Um ideal que inspire, um conhecimento ou viagem que lhe transforme e regras que devem ser transcendidas, eis algumas das manifestações da atual energia astrológica. Ela sinaliza aos piscianos que é tempo de conscientização e de transformação."


Disse tudo e não disse nada. O bom é que assim eu não posso chamar a astróloga (não sei se é esse o nome que se dá a quem escreve horóscopos) de mentirosa. Veja quantas possibilidades ela me deu. E quem é que não precisa de conscientização e transformação? No final, se nada disso se cumprir (?), a culpa vai ser minha que não segui o conselho dos astros.
Hoje recebi um email com algo semelhante a um horóscopo só que ao invés do signo você tem suas características reveladas através do dia do seu nascimento.




Dia 26 – Dia da Justiça


- A justiça na sua mais pura expressão, a perseverança e a moderação são as principais características do nativo deste dia. Tem, também, grande capacidade de discernimento, competência e organização, jamais desistindo dos seus objetivos e ideais, mesmo em algumas ocasiões parecendo indeciso, não sabendo muito bem o que quer.

Então meu erro já começa agora. Se esse dia é o dia da justiça estou fazendo o curso errado. Deveria fazer Direito. Organização definitivamente não é meu forte. Mas concordo que sou indecisa.

- Tem personalidade marcante e certo ar de superioridade, que com certeza lhe garantem certas inimizades e algumas perturbações. Quando é contrariado, torna-se agressivo e mal humorado.

Ar de superioridade? Não, sou tímida e míope e até hoje não ataquei ninguém.

- O nativo deste dia é normalmente um ser solitário, de certa forma incompreendido, parecendo frio e calculista; na realidade, é uma extraordinária alma humana, sempre pronto a ajudar os fracos, os amigos e aqueles que necessitam de ajuda humanitária.

Concordo com o ser solitário e incompreendido mas frio e calculista nem tanto, hahahahaha (risada malígna). Gosto de ajudar os outros, tanto que já comprei uma caneta da Casa de Recuperação Manassés mas não sou tão extraordinária assim pois não contribui com o Criança Esperança.

- Nasceu para mandar. É muito organizado, justo, de aspecto intelectual, com grande cultura e senso de responsabilidade. É também elegante no vestir e despreza o modernismo, preferindo o convencional.

Nasci para mandar? Alguém precisa contar isso para o meu chefe. Organizada de novo? Já disse que não. O aspecto intelectual é por causa do óculos. Elegância é antes de tudo uma questão financeira então, estou devendo neste aspecto.

- Frustrações e decepções podem lhe causar problemas biliares, dores de cabeça, reumatismo e problemas de circulação sanguínea.

Estava demorando para aparecer a parte ruim.

09 novembro 2007

Transitares

Está acontecendo esta semana em Curitiba a Curitiba Literária – o festival da literatura. Acontecem shows, peças de teatro, leitura de poemas, debates, entrevistas e feira do livro. Tudo voltado para a literatura. Como esta semana ainda não apareci na faculdade (e olha que hoje já é sexta- feira) aproveitei para participar de algumas coisas. Uma delas foi o Paiol Literário com o escritor Luiz Vilela. A outra aconteceu ontem no Sesc da Esquina: Transitares, mesa-redonda com os escritores e compositores Tony Bellotto, Arnaldo Antunes e Kledir Ramil.

O que é Transitares? Segundo o programa “este encontro propõe o debate da escrita como ponte entre a produção e a composição musical e o diálogo possível entre os dois universos.”

Embora não tenha lido ainda nenhum livro do Tony Bellotto ou do Arnaldo Antunes e nenhuma crônica do Kledir (àqueles que se perguntam quem é esse Kledir, eu respondo : o nome Kleiton e Kledir lhes diz algo?) resolvi comparecer afinal como fã dos Titãs, não é sempre que teria a oportunidade de vê-los de perto (e de graça).

Cada um falou sobre música, literatura, escrita, composição e como artes distintas como música e literatura podem se misturar e apresentar bons resultados. Já que os três convidados são escritores e compositores falou-se muito da possibilidade de poder transitar entre uma arte e outra. Um romance pode ser adaptado para o cinema, um poema pode se transformar em música e a letra de uma canção pode também ser ao mesmo tempo uma poesia.

Apesar de ser recorrente a adaptação de livros para o cinema, um filme dificilmente (para não dizer nunca) conseguirá transmitir tudo aquilo que a obra original transmite ou fará isso de forma diferente. Um filme é feito de imagens, sons, movimento e cores, ele já é entregue assim. Já num livro você é quem cria todos esses itens e pode percebê-los de formas distintas.

Bellotto disse que quando compõe, quando cria uma letra para uma música, pode até estar fazendo isso sozinho mas faz pensando no grupo, na coletividade: qual é a hora para a bateria, em que parte da canção ficaria melhor um solo de guitarra. E o retorno dessa criação é imediata pois em um show é possível ver e sentir a reação do público. Porém a escrita é um exercício solitário, é apenas o autor e suas idéias e o retorno desse trabalho pode ser bem lento.

Arnaldo Antunes sempre trabalhou paralelamente com a música e a literatura. Para ele artes plásticas, música, literatura e cinema são artes distintas mas que podem sim se misturar desde que seja uma mistura bem feita. Uma poesia, por exemplo, pode virar uma canção desde que essa transição entre uma arte e outra seja feita com competência.

Por tudo que ouvi, tanto no Transitares quanto no Paiol Literário, valeu a pena perder algumas aulas. Posso até já ter aprendido algumas dessas coisas durante as aulas mas ver e ouvir esses assuntos “direto da fonte” me deu uma nova visão do que são essas artes, em especial a literatura. Recomendo a todos que quando tiverem oportunidade semelhante, aproveitem.

07 novembro 2007

Paiol Literário

No último post (e lá se vão alguns meses) eu comentei sobre o jornal literário Rascunho e sobre o Paiol Literário. Ontem eu tive a oportunidade de ir até o teatro Paiol e conhecer de perto o escritor Luiz Vilela. Na verdade fui descobrir a existência de Vilela este ano quando tive que fazer um trabalho de Teoria da Literatura para a faculdade e o tema era o Modo Dramático. Traduzindo: em teoria da literatura estudamos os vários recursos usados pelo autor para escrever um livro. Ele pode narrar a história em terceira pessoa, pode criar um narrador protagonista (como o Bentinho em Dom Casmurro), pode fazer a história ser contada por mais de um personagem e muitas outras formas. Entender o modo dramático é bem simples, basta lembrar das peças de teatro onde a história se conta predominantemente através dos diálogos. O difícil é achar uma obra de ficção, que não seja uma peça mas que seja quase toda em forma de diálogos. Para minha sorte existe o Luiz Vilela. Seus contos são recheados de diálogos e sua novela mais recente, Bóris e Dóris é toda construída em cima da conversa de um casal. Com esse livro e alguns outros contos de outros autores conseguimos (sim, porque não posso deixar de fora meu grupo de trabalho, ainda mais porque a Cris de vez em quando lê este blog) apresentar nosso trabalho e conseguir uma boa nota. Resumindo: eu não podia deixar de comparecer ao Paiol Literário desse mês.

Cheguei lá por volta das sete e quarenta da noite e como o início estava marcado para as oito horas, achei que eu estava no horário. Mas como não estamos em Londres, a palestra começou após as oito e vinte. Parte desse atraso (não sei é assim sempre) foi causado pela equipe de TV que iria filmar o evento. A produtora procurava por voluntários que estivessem dispostos a ler trechos de contos do autor (sem cachê, é claro, tudo pela arte) enquanto eram filmados. Não sei se vocês já foram ao Paiol mas ele é um teatro no mínimo “aconchegante”, mas sem deixar de ser charmoso. Ele é quase uma mini arena onde a platéia se distribui em volta do pequeno palco. E era um tal de iluminação pra cá, câmera pra lá e microfone na lapela que eu não via a hora da “entrevista” começar.

Entra então o convidado da noite, tranqüilo, sossegado, mineiro. Falou sobre como e porque começou a escrever. Contou que desde sempre se viu rodeado de livros, tantos que até no galinheiro tinha alguns. Fez sua estréia aos treze anos de idade e não parou mais. Quando criança gostava de inventar histórias com seus brinquedos. Depois de grande continua brincando, só que de inventar livros. Lembrou com carinho de um professor que teve e que o motivou a continuar escrevendo quando ainda estava no colégio. Disse que uma das técnicas que usa ( se é que eu posso chamar assim) é a de ler em voz alta tudo o que escreve para ver se está bom. Outra é que quando escreve um conto e começa a ler e reler muito e a achar que não está bom o suficiente joga-o numa gaveta e espera o tempo passar. Vilela também falou sobre seu novo livro intitulado Redenção que será lançado no ano que vem. Mas não falou só sobre literatura. Contou também um pouco sobre sua cidade: Ituiutaba que apesar de ter recebido durante muito tempo o título de “uma cidadezinha do interior de Minas”, hoje já é igual a qualquer “cidade grande”. Reclamou da violência que lá existe, tráfico de drogas, roubos, como há em outros lugares.

Um ponto a meu favor foi que descobri que os grandes escritores também não conseguem ler tudo o que “deveriam” ler. Vilela conta que atualmente dedica-se a ler aqueles livros, muitos deles clássicos, que foram ficando para trás. Diz ele: “se eu não ler agora, não leio nunca mais”. Ufa! Não sou só eu que leio menos do que deveria/gostaria. Também falou sobre a situação que temos hoje: muita informação para pouco tempo disponível. Um dos momentos engraçados foi quando Vilela revelou que chega a desconfiar que os livros copulam à noite pois não para de aparecer livro em sua casa.

Assistir a esta palestra me deu vontade de escrever. Acho que porque Vilela fala de um jeito tão gostoso da arte de escrever...Mas isso não quer dizer que não exija trabalho e dedicação. Não sei por que mas sempre tive a idéia de que o livro simplesmente “nasce”. Um belo dia o escritor está sossegado, então tem uma revelação e a história simplesmente se materializa. Tudo bem que isso pode acontecer porém ele me mostrou que por trás do livro pronto e editado existe um grande trabalho. É claro que eu não poderia perder a oportunidade de sair de lá com meu livro autografado. Espero que seja o primeiro de muitos. Para terminar a noite o entrevistador agradeceu a presença de todos e disse : “Peço agora que Vilela se despeça com algumas palavras.” E Vilela: “Boa noite”.