21 janeiro 2009

Donde

Este aqui saiu daqui.



Donde saiu este homem? Não peço que me digam onde nasceu, quem foram os seus pais, que estudos fez, que projecto de vida desenhou para si e para a sua família. Tudo isso mais ou menos o sabemos, tenho aí a sua autobiografia, livro sério e sincero, além de inteligentemente escrito. Quando pergunto donde saiu Barack Obama estou a manifestar a minha perplexidade por este tempo que vivemos, cínico, desesperançado, sombrio, terrível em mil dos seus aspectos, ter gerado uma pessoa (é um homem, podia ser uma mulher) que levanta a voz para falar de valores, de responsabilidade pessoal e colectiva, de respeito pelo trabalho, também pela memória daqueles que nos antecederam na vida. Estes conceitos que alguma vez foram o cimento da melhor convivência humana sofreram por muito tempo o desprezo dos poderosos, esses mesmos que, a partir de hoje (tenham-no por certo), vão vestir à pressa o novo figurino e clamar em todos os tons: "Eu também, eu também." Barack Obama, no seu discurso, deu-nos razões (as razões) para que não nos deixemos enganar. O mundo pode ser melhor do que isto a que parecemos ter sido condenados. No fundo, o que Obama nos veio dizer é que outro mundo é possível. Muitos de nós já o vinhamos dizendo há muito. Talvez a ocasião seja boa para que tentemos pôr-nos de acordo sobre o modo e a maneira. Para começar.

Sabedoria pré-adolescente

Era uma conversa corriqueira em que minha mãe brincava com meu irmão dizendo: "Não quero saber de cunhada tão cedo pois você é muito novo para casar." Eis que de um canto da sala surge o seguinte diálogo:

meu filho: "Mas tem é que casar cedo mesmo."

eu: "Por quê?"

meu filho: "Porque se alguém casa tarde e depois de dez anos se separa já vai estar *muito velho para casar novamente. Agora, se você casar bem cedo quando se separar ainda vai estar novo e será mais fácil casar de novo."


* na verdade aqui ele usou a palavra "acabado" ao invés de "muito velho". Qual imagem as crianças têm de pessoas com mais de quarenta?

15 janeiro 2009

O filho eterno

Livro comprado, autógrafo devidamente registrado mas nada de conseguir chegar à última página. Confesso que minha capacidade de leitura já foi bem melhor. Mas enfim cheguei ao fim de O Filho Eterno de Cristovão Tezza, ganhador, entre outros prêmios, do Jabuti na categoria melhor romance.

A história de um pai e seu filho com síndrome de Down. Talvez apenas por essa minúscula descrição poderia-se pensar em uma historia de doação, coragem e amor incondicional. Tomará um choque quem assim pensar. Temos um pai sem nome e seu filho Felipe, um filho incompleto, um filho que não satisfaz a idéia de filho criada pelo pai, e esse pai claramente se recusa a aceitar um filho pela metade.  Mas será que o correto, ou antes,  será uma reação humana normal um pai aceitar pacificamente que seu filho nunca será aquilo que todos os filhos devem ser? O filho nunca crescerá, será uma eterna criança, sempre dependente em algum aspecto. Qual pai ou mãe não sonha com um filho perfeito, que nasça forte e se desenvolva bem? Pensar o contrario disso é hipocrisia, afinal o importante não é nascer com saúde? Definitivamente para o pai de Felipe, aquela criança que ele carrega nos braços não condiz com a idéia de "nascer com saúde". Mas a criança alí está e precisa ser cuidada. O pai passa a aplicar no filho algumas terapias para que ele se desenvolva e lá no íntimo sonha que as repetidas sessões criem uma criança normal. Isso não vai acontecer, o pai sabe, mas a aceitação dessa realidade que será "eterna" leva tempo. Entre as lembranças de sua juventude e o inconformismo com sua medíocre vida presente o homem vai abandonando a ideia de criar um filho perfeito e transforma-se no pai que Felipe precisa. 

Esta é uma historia de doação, coragem e amor incondicional, mas não nos moldes folhetinescos e é aí que ela se faz tão verdadeira.