Hoje consegui terminar mais um livro daqueles que tenho na estante a espera de leitura : O clube do filme de David Gilmore. Este livro foi uma indicação do professor Paulo Venturelli (quando uma pessoa trabalha a anos com leitura e tem uma biblioteca com 16 mil livros, sua indicação merece um pouco de atenção).
O livro conta a história de David Gilmore, um crítico de cinema desempregado que, diante do fracasso escolare do filho adolescente Jesse, toma uma decisão surpreendente: o filho poderia largar a escola, ficar sem fazer absolutamente nada desde que assistisse com o pai a três filmes por semana. Esta seria toda a educação que ele teria.
Essa foi uma atitude ao mesmo tempo corajosa e irresponsável. Como o fato aconteceu em Toronto, no Canadá não sei se lá a educação é vista e transmitida da mesma forma que é aqui, no Brasil, mas, para um jovem de 15 anos repleto de saúde simplesmente detestar ir à escola, creio que lá também deve existir aquela sucessão de fórmulas que você decora para uma prova e depois nunca mais usa.
A maioria das pessoas acharia esta atitude uma loucura principalmente porque a idéia de educação está totalmente colada à idéia de escola como se somente lá, entre aquelas paredes, pudéssemos receber educação (em muitos casos é somente lá que temos um pouco de educação, mas longe de ser o suficiente). Ontem mesmo discutíamos em aula se o ensino de gramática é realmente necessário. Quanto do que você decorou nas aulas de português realmente foi útil depois da prova? Quanto de tudo aquilo que diziam os livros didáticos você ainda lembra? E não é somente em relação à gramática que isso acontece. Matemática, geografia, química, física, boa parte do que "aprendemos" não fará diferença para nossa educação.
David fez uma aposta alta, se tivesse sucesso poderia estreitar sua relação com o filho em uma época difícil, a adolescência, tempo em que o que a maioria dos jovens quer é manter uma distância segura dos pais, além de oferecer algo mais do que a mentalização repetitiva dos bancos escolares.
Mas, se nada desse certo só lhe restaria um filho jovem e fracassado e toda a culpa por este fracasso seria atribuída ao pai.
Quantos pais teriam a mesma coragem e quantos deles estariam dispostos e se sentiriam capazes de assumir, sozinhos, a educação dos próprios filhos?
"Lembro minha última entrevista com David Cronenberg, durante a qual comentei, com um pouco de melancolia, que educar filhos era uma sequência de despedidas, um adeus após o outro – às fraldas, aos agasalhos de neve, depois às próprias crianças. ‘Eles passam a vida partindo’, eu falei, e Cronenberg, que também tem filhos adultos, me interrompeu: ‘Sim, mas será que eles realmente partem?’"