27 outubro 2010

Na sala de espera

Fui ao médico. Sentada na sala de espera do consultório aguardava a minha vez de ser atendida. Na mesma sala de espera havia um senhor de cabelos já brancos e uma mulher vestindo calça jeans, moletom e tênis. O senhor, se não me engano, foi consultar-se com a endocrinologista – algo relacionado com diabetes. Já a mulher foi até ali para uma sessão de acupuntura. Estávamos os três em silêncio (não puxo conversa em salas de espera). Providencialmente, como há em todas as salas de espera, naquela também havia revistas. O senhor de cabelos brancos lia uma edição antiga da Veja e a mulher de moletom folheava uma revista Caras. Eu não peguei nenhuma revista. Fiquei adiantando as leituras da faculdade. Não havia ainda me livrado da primeira página quando ouvi um barulho de papel sendo rasgado. Olhei para a mulher de moletom enquanto ela, bem lentamente, rasgava uma página da revista. Com a página já solta ela a dobrou no meio, e no meio novamente e guardou-a no bolso. Eu fiquei ali, olhando para aquela cena e pensando que aquilo era uma tremenda falta de educação. Não pelo valor da revista velha, que é com certeza quase nenhum, e nem pelas outras pessoas que não poderão ler aquela página pois certamente, ainda que pudessem, dificilmente o fariam. Foi simplesmente uma falta de educação. Ainda que não tenham valor, aquelas revistas estavam ali porque alguém se preocupou em deixá-las acessíveis para aqueles que quisessem lê-las. É um bem de uso comum e como tal deve ser usado, conservado e disponibilizado para o próximo. A mulher do moletom poderia, já que pareceu gostar tanto da tal página, ter ido até a recepcionista e perguntado se podia ficar com aquela página ou até com a revista inteira. Com certeza não haveria nenhum problema nisso.  Será que estou exagerando, afinal era só uma revista velha?


Sinto que não. O que me fez pensar foi a atitude totalmente desprovida de cuidado e atenção com uma coisa que, apesar  de não ser de ninguém, é de todos. Ela rasgou aquela folha com um descaso que fazia tempo eu não notava em alguém. Foi  um pequeno ato egoísta, um quase imperceptível ato egoísta, concordo. 

Mas tudo começa pequeno, não é verdade?

Um comentário:

Camila disse...

Às vezes eu vejo coisas que me deixam indignada também. Por exemplo, pessoas que jogam papel de bala ou doce pelo vidro do carro. Elas devem pensar que só um papelzinho não faz diferença, mas todos sabem que de papel em papel é que as enchentes acontecem.

Se pararmos para pensar, são esses pequenos atos egoístas que fazem a diferença, negativamente falando.