22 janeiro 2010

Filosofia de restaurante a quilo


Quem trabalha fora o dia inteiro fatalmente terá que almoçar em um restaurante a quilo – os famosos self-service. Dos mais simples aos mais sofisticados todos são unânimes em um aspecto: a grande quantidade de opções. Em um só prato você poderá dispor lado a lado as culinárias brasileira, francesa, italiana, espanhola, árabe, chinesa, japonesa e ucraniana. É praticamente a volta ao mundo em menos de 20 garfadas. Por um lado isso é bom pois dá o poder de escolha: num dia podemos almoçar somente sushi e sashimi, já no outro é possível desenhar no prato um verdadeiro mapa múndi. Mas existe uma desvantagem. Imaginem a seguinte cena: a pessoa chega ao restaurante, pega seu prato e se coloca no início daquele interminável buffet, começa a andar e escolher quais tipos de comida farão parte do seu almoço. Pega um pouco disso, um pouco daquilo, uma salada, um pedaço de carne e acha que já é suficiente Mas, um pouco adiante há um pedaço de empadão de frango com uma aparência bem apetitosa e ainda uma farofa que merece ser degustada. Então, apesar de já ter no prato risoto, batatas assadas, bife à parmegiana e um pouquinho de talharim ao molho branco (só para provar), não será justo deixar o empadão e a farofa fora da festa e assim lá vão eles para a mesa. Isso sem falar na sobremesa. Só quando nos sentamos à mesa e encaramos nosso prato é que nos damos conta que exageramos, tanto na quantidade quanto na variedade.

A vida parece um longo e interminável buffet de restaurante a quilo. Com o passar do tempo mais e mais opções vão surgindo. De bandas de rock à roteiros de viagens, nada é pouco ou comedido; tudo é muito e grandioso. Acho que todos concordamos que a vida é curta e sendo assim deve ser bem aproveitada. O problema é que por ser “bem aproveitada” entende-se “fazer-tudo-ao-mesmo-tempo-agora”. Ler o máximo de livros que conseguir, assistir a todos os lançamentos de filmes nos cinemas mas sem esquecer dos clássicos, acompanhar todas as séries e novelas na tv, ir a todo e qualquer novo ou velho restaurante que recomendarem, viajar para todos os “100 lugares que você deve conhecer antes de morrer” (mesmo que você tenha apenas um mês de férias por ano), comparecer a todos os aniversários sem esquecer dos presentes, fazer cursos de fotografia, teatro, artesanato, culinária, floricultura, maquiagem definitiva e etiqueta social, ter aulas de kung-fu, natação, boxe, piano, bandolin, equitação e trabalhos manuais sem esquecer de reservar meia hora por dia para a meditação. E todas essas coisas são apenas os acompanhamentos pois ainda há o arroz com feijão: trabalho, família, amigos, amores e desamores.

Quando crianças somos apresentados a este grande banquete mas ainda não nos servimos sozinhos. Sempre há um adulto ajudando a escolher e, na maioria das vezes, decidindo qual o melhor alimento. Mas, à medida que nos tornamos independentes, as escolhas ficam por nossa conta.

O problema é que somos gulosos, comemos com os olhos, queremos provar de tudo. Fazemos tal mistura em nosso prato que no final não conseguimos identificar o gosto de nenhum alimento. A vida torna-se uma verdadeira bagunça. Iniciamos várias coisas mas não conseguimos continuar com todas elas. Umas porque não são tão gostosas como pensávamos e outras porque tornaram-se indigestas. No final ficamos com um prato cheio de sobras.

Mas como resistir ao pecado da gula?

Tudo é uma questão de escolha. Ao invés de seguir uma dieta recheada de festas, comida e bebida por que não optar por uma mais ligth? Você não vai morrer se ficar sem comer brigadeiro. A satisfação de iniciar e terminar um projeto e vê-lo bem feito é bem maior do que estar em vários outros mas não conseguir chegar ao fim da metade deles.

Tem dias que tudo o que quero é comer um bom feijão com arroz e ovo frito.


*foto Flickr - Galeria de Qlis

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