Estou a um passo. O simples movimento de levar um pé a frente do outro e pronto, o passo está dado. Mas é tão difícil. Dar este passo significa entrar no desconhecido, deixar a segurança para trás e lançar-me numa aventura que não sei onde vai chegar. Olho para os lados e vejo as pessoas simplesmente atirando-se para frente. Não consigo descobrir se o que elas têm é menos medo ou mais coragem do que eu. Esta é a última semana de uma moça aqui do trabalho. Quando ela me disse que ia sair, logo pensei “deve ter encontrado um emprego melhor e principalmente estável, afinal, ela não é mais da turma dos vinte e tantos e além disso tem dois filhos para criar”. Mas não, ela não encontrou um “emprego estável” pelo menos para os padrões de hoje. Ela e o marido vão mudar de estado, vão viver na praia às custas de um negócio próprio. Que maravilha eu pensei, e que coragem! Maldita coragem que me falta, sempre me faltou. Sabe pessoas com os dois pés atrás? Eu sou uma delas em muitas situações.
Meus avós paternos nasceram no Ceará, casaram por lá e mesmo antes do primeiro filho nascer desceram o mapa com destino à São Paulo. Só tinham um ao outro. Parece pouco mas foi o suficiente para construir uma casa e dar uma vida decente a três filhos. Meus avós maternos também, tinham a mesma coragem e o dobro de filhos. Após uma geada que destruiu a lavoura de café, deixaram para trás a enxada e subiram o mapa até São Paulo. Minha mãe, com dezoito anos, e com um irmão mais novo a tiracolo foi na frente e sem conhecer ninguém conseguiu emprego e uma casa para a família morar. Meus avós deram-me, através de seus genes, muitas das minhas características (menos os olhos azuis do meu avô paterno, droga!), mas cadê o gene da coragem? Será que houve algum problema na hora da divisão celular e, ao invés de um par de genes da coragem e outro do medo eu fiquei com dois pares de genes do medo?
Às vezes parece tão difícil para um bebê dar seu primeiro passo. Ele tem medo, duvida que vá conseguir, tenta ficar em pé mas cai. Tenta novamente e, meio desequilibrado, dá seu primeiro passo. Depois disso não pára mais, é só uma questão de tempo para que queira conquistar o mundo.
E após todos esses anos aqui estou eu, indecisa, com medo de seguir em frente porque, diferente da minha primeira vez, agora não há ninguém do outro lado da sala me esperando de braços abertos.
3 comentários:
Amor,
Assisti ao filme do improvável cantor de ópera no meu treinamento e acabei meu esquecendo de comentar contigo. Fico feliz que tenha assistido e tenha se emocionado tanto quanto eu.
Sobre dar o próximo passo, minha história recente fala por si só, e não teria conseguido sem você ao meu lado. Fico feliz por saber que você está pensando nisso, e torço todos os dias para que pelo menos um dos teus pés perca o medo, e se atire rumo ao desconhecido. Estarei por perto, para incentivá-lo na jornada e também para ouvi-la, caso alguma parte do trajeto esteja causando ansiedade excessiva.
Eu sou uma medrosa assumida e fico adiando o primeiro passo para amanhã, para depois de amanhã e assim vai. Eu preciso de um empurrãozinho para ver se pego no tranco.
Mas, como diz o Jeff, "NSA, na hora sai". Quando chegar a hora, você vai conseguir. =)
Lilian disse...
O momento em que respiramos pela primeira vez no mundo é a grande marca de nossas vidas. O medo aí já se estabelece porque somos seres frágeis e dependentes de um outro para continuarmos a viver. Mas, é aí que mora a raiz de todo o resto que viermos a ser... Porém, medo se supera com amor, afetos bons, que nos possibilitam também a amar mais e melhor.
O desconhecido pode nos apavorar, mas a experiência do novo pode nos sustentar.
Como cristã, creio num Deus manso e humilde, num Deus misericordioso e bom. ELE é o único que sabe porque estamos nesta vida, neste tempo, nesta situação. Sem nos esquecermos que somos livres para fazer as nossas escolhas.
Fé não se ensina, assim como coragem não se compra. Vive-se.
Postar um comentário