26 maio 2008

The Number 23

Perturbador. Esta é a primeira palavra que me vem à cabeça ao lembrar do filme. As perguntas que o personagem principal faz são as mesmas que fazemos. Pode um livro comprado ao acaso em uma loja de usados ter como personagem principal a própria pessoa que o lê? As semelhanças existem mesmo ou são apenas fruto de uma mente sugestionável? Walter Sparrow (Jim Carey) ganha de presente de sua esposa um livro intitulado The number 23. De autoria desconhecida, a princípio o livro parece não ser mais do que um romance policial onde o personagem principal e narrador é o detetive Fingerling. À medida que Sparrow avança na leitura começa a perceber que existem muitas semelhanças entre a história contada no livro e sua própria vida. Essas semelhanças parecem ser óbvias somente para ele pois sua esposa Agatha não compartilha da mesma opinião. Para ela estas semelhanças não são mais do que simples coincidências.

O detetive Fingerling é um personagem obscuro e solitário com uma queda por mulheres tão belas quanto perturbadas. A obscuridade aumenta quando o detetive encontra a loira suicida que se diz perseguida pelo número 23. Tal número estaria em todos os lugares. Qualquer simples soma de datas, qualquer medida de tempo ou espaço, qualquer cálculo resultaria no número 23. Após este encontro, Fingerling começa também a ficar obcecado pelo número como se fosse uma espécie de maldição passada de uma pessoa a outra. Para qualquer lugar que olhe, para onde quer que vá o número 23 se faz presente. Sparrow acompanha avidamente a narrativa e, capitulo após capitulo fica mais envolvido com a história tendo a certeza de que o livro foi escrito especialmente para ele. O número maldito então começa a persegui-lo : ele está no número da sua casa, na idade da sua esposa, na data do seu casamento e em qualquer outra situação em que se consiga fazer uma simples conta de adição. Não bastasse a onipresença do número, o livro faz brotar em Sparrow tendências homicidas. Porém, está faltando o capítulo mais importante de todos: o capítulo 23. Sparrow se vê em total desespero quando descobre que o livro está incompleto e decide ir atrás de seu autor. Nessa busca por aquele que parece conhecer seu passado melhor do que ninguém ele se depara com um assassino que jura inocência e um corpo que nunca foi encontrado. Nada parece fazer sentido mas tudo converge para um final que mostra que a realidade e a ficção estão mais próximas do que ele poderia imaginar.

11 maio 2008

Mãe

Como uma filha que se preza é claro que eu dei trabalho para minha mãe. É verdade que bem menos que outras filhas e filhos que conheço, mas dei. Mas o que seriam das mães sem filhos para cuidar, brigar e socorrer? Pensar na minha mãe é lembrar que ela...

...encapava com um capricho invejável meus cadernos e livros.

...passou dias e dias fazendo dezenas de mini-pompons brancos de lã só para compor os gorrinhos de Papai Noel que toda minha turma usou para dançar na escola.

...comprava, cortava e costurava pessoalmente o tecido para todos os meus vestidos de caipira.

...nas minhas festas de aniversário sempre fazia praticamente sozinha o bolo, o brigadeiro, o beijinho, o pastelzinho, a coxinha e tudo o mais que lhe desse na telha. E olha que era comida para um batalhão.

...às vezes reclamava mas sempre acabava cedendo e fazia os bolinhos de chuva que eu tanto gostava.

...passava dias e dias ao meu lado sempre que eu tinha uma crise de bronquite, me dando remédio, medindo minha febre e tentando me alimentar. Numa das piores crises, quando o médico disse que eu teria que ser internada ela foi categórica: Minha filha não vai ficar aqui. Eu cuidarei dela em casa. E nenhum médico ou enfermeira teria feito um trabalho melhor.

...sempre foi a primeira a acordar e a última a dormir porque afinal de contas, alguém tinha que tomar conta de tudo.

...ficou furiosa quando fiquei grávida, fúria essa que durou exatos 30 segundos. Após isso amou e ama meu filho a cada dia como seu próprio.

...me acompanhou na maioria das consultas e exames durante o pré natal e só não entrou na sala de parto porque não deixaram.

...continuou e continua fazendo tudo isso para todos os filhos e até para aqueles que não são.

...merece que todos os seus dias sejam um Feliz Dia das Mães.

10 maio 2008

Lá vem o Chaves

Quando eu tinha uns 7 ou 8 anos minha professora um dia disse: Minhas filhas assistem aquele tal de Chaves todos os dias. Não sei como não se cansam pois é tão repetitivo. Adivinha o que está passando na TV neste exato momento? Pois é. Duas décadas depois ele continua no ar. O primeiro episódio do Chaves foi exibido no dia 20 de junho de 1971, no México. Nesta época, o Chaves era um quadro do programa “Chespirito”. Chaves estreou no Brasil no programa do Bozo, (exibido no SBT) em 1984 com apenas 13 episódios comprados. Devido ao sucesso, compraram mais lotes de programas em 1986, 1988 e 1991. Conta a lenda que Silvio Santos, ao comprar alguns programas da rede de TV mexicana também teve que incluir no pacote o programa do Chaves. Silvio a contragosto tentou encaixá-lo na grade de programação em um horário menos evidente mas logo o seriado foi descoberto e virou mania entre os telespectadores e já chegou até a ser exibido no horário nobre. Também há relatos de que a Globo tentou comprar o programa. É claro que não era para exibí-lo e sim diminuir a concorrência. Ainda bem que não conseguiu. Apesar de levar o nome da atração, o personagem Chaves não está entre meus preferidos. Primeiro vem o Seu Madruga – considerado por alguns o primeiro grande punk – e depois vêm o Kiko e a Chiquinha. Os episódios que eu mais gosto são aqueles ambientados em Acapulco quando a vila toda tira férias e vai para um hotel. Infelizmente esses não passam tanto quanto alguns outros. Mas como eu até hoje continuo assistindo os mesmos episódios com as mesmas histórias e as tão conhecidas falas Ninguém tem paciência comigo ou Cale-se, cale-se, cale-se, você me deixa louco ? Simplesmente não sei a resposta. Talvez os personagens bem marcados e estereotipados ou piadas prontas de riso fácil que sempre funcionam. Não discutirei aqui se é ou não um bom programa. Se acrescenta algo àqueles que assistem também não importa. O fato é que Chaves possui uma legião de fãs (alguns até bem fiéis) e comigo funciona e cumpre seu papel que é o de me fazer rir. Funciona bem mais que certos programas de certas loiras que deveriam estar aposentadas mas não abrem mão de aparecer na telinha.

08 maio 2008

Paredes frias

Ontem no final da tarde estava indo em direção à Universidade. Leram bem? U-ni-ver-si-da-de, lugar que agrega estudiosos, doutores, mestres, pesquisadores e até um Magnífico Reitor. Melhor ainda, a Universidade não é só Universidade, ela é também Federal. Como soa bem, Universidade Federal do Paraná. Aquela, com seu prédio histórico e pomposo de colunas sólidas e imponentes. Meca do conhecimento, sonho de milhares e realidade para poucos. Estava direcionando meus passos para aquele local quando, como num passe de mágica tudo perdeu o sentido, tudo ficou pequeno, insignificante. Ali na esquina, a poucos metros do centro do saber e vejam só, ao lado do Teatro Guaíra – palco da cultura refinada e de espetáculos tão bons quanto dispendiosos e elitistas – estava uma família de catadores de papel. Esses com os quais esbarramos a todo momento pelas ruas da cidade. Eram pai, mãe e filho. O menino, com no máximo quatro anos, estava sentado em uma espécie de cestinha que seu pai instalara na frente do carrinho. Ele estava feliz, sorria e conversava, provavelmente com um amigo imaginário tão pobre e carente quanto ele. Com certeza nem ele nem seus pais se davam conta de que estavam entre dois dos maiores símbolos da cidade, duas instituições tradicionais onde filhos de boas famílias têm o privilégio de adentrar. Quero estar errada mas este privilégio talvez nunca se estenda àquele menino. Ele nunca irá acompanhar uma palestra com um importante mestre nem ocupará uma confortável poltrona para prestigiar uma apresentação da Orquestra Sinfônica. Mas ele ainda voltará muitas vezes à mesma esquina, tantas que um dia aprenderá o caminho e não precisará do pai para acompanhá-lo. Poderá juntar suas próprias caixas de papelão. Diante desta quase constatação, toda a arte e conhecimento protegidos por aquelas edificações perdeu o sentido e a universidade e o teatro não eram mais do que um amontoado de paredes frias. Paredes que ao mesmo tempo em que preservam a sabedoria também mantém distante dela aqueles que a deveriam possuir.

Flickr Fábio Ferreira

07 maio 2008

Faça um pedido

Noite gelada, céu limpo, azul escuro, sem nuvens. Infelizmente sem muitas estrelas. As luzes das ruas, das casas e dos prédios ofuscam a beleza do céu noturno. Caminhava para casa despreocupadamente quando, ao voltar meus olhos para o horizonte, vi uma estrela cadente. Sim, vi uma estrela cadente e minha noite ficou menos gelada. A última vez que avistei uma não tinha mais que sete anos e contemplava o céu a partir de outro lugar. A emoção no entanto foi a mesma, até duvidei do que vira, tão rápida foi a estrela. Foi como fogos de artifício em dia de São João. A estrela estava lá e de repente, correu o céu e desapareceu no horizonte. Foi tudo tão inesperado que levei uns bons segundos para fazer meu pedido. Mas fiz. Espero que ela me atenda.



Flickr Galeria Mr Geoff

Crianças

Outro dia eu estava na aula de inglês em um daqueles famosos exercícios de conversação quando a seguinte questão foi levantada: qual sua facilidade em interagir com crianças? A minha, se não for zero está bem próxima disso. Foi com certo alívio que percebi que não era a única da turma a não ter muita facilidade no trato com esses pequenos seres. Não vale incluir aí crianças com as quais você já convive, como por exemplo seu filho, um irmão mais novo ou o pentelho do filho da vizinha que mora mais na sua casa do que na dele. Têm que ser crianças com as quais você raramente tem contato ou até aquelas que você encontra por acaso, numa fila de supermercado. Eu gosto de crianças, mais precisamente eu gosto de ver crianças (desde que não estejam chorando) brincando, pulando, falando, rindo ou até mesmo dormindo. Acho que são fofas, inocentes e sinceras. Quem não se derrete ao menos um pouquinho quando vê um bebê sorrindo? Mas o grande problema está em passar da observação à ação. Existem pessoas que já nascem com um dom para lidar com os baixinhos. Um exemplo: se eu chegar para uma garotinha de uns quatro anos e disser oi ela certamente ficará muda, isso se não sair correndo*. Já as tais pessoas com dom, falam exatamente a mesma coisa e depois de alguns minutos já são convidadas a brincar de esconde-esconde. A verdade é que nós, que não temos o dom da comunicação infantil, não temos a mínima idéia de como lidar com as crianças. Se são bebês e você tenta fazê-los rir eles choram. Se são um pouco maiores e você tenta conversar parece que perderam a língua. Mas que tipo de conversa pode ser travada com um garoto de 4 anos? Você faz as perguntas básicas: nome, idade, se estuda, se tem irmãos; depois disso a conversa morre. Já as pessoas com aquele jeitinho especial podem ficar horas e horas jogando conversa fora que não se tornam chatas aos olhos dos pequeninos. Um depoimento curioso foi o de um colega da turma. Ele declarou em alto e bom som que não pretende se casar (pois a conversa também girava em torno do casamento) e de crianças ele simplesmente queria distância. Cada um com suas preferências. Existem aqueles que levam o maior jeito com crianças, outros que preferem cachorros e até mesmo uns doidos que conversam com samambaias. Fazer o quê.


* eu certamente devo ter sido o trauma de muitos adultos que, como eu, não tinham muita facilidade em manter comunicação com crianças. As pessoas vinham falar comigo e era sempre a mesma sequência: desconfiança, emudecimento, proteção atrás da saia da mãe e finalmente fuga desesperada.

06 maio 2008

Dia de descanso?


Feriado, entre outras coisas, foi feito para descansar certo?

Meu namorado está de férias do trabalho e para não ficar somente com tempo ocioso tem se dedicado a decorar todos os horários de todas as séries do Warner Channel e da Sony, além de acompanhá-las, é claro. Também tem investido grande parte do seu tempo em acompanhar e cuidar da sua aldeia em um jogo on-line chamado Tribal Wars porque afinal, quer coisa pior do que ter sua aldeia atacada?

Eu por minha vez continuo trabalhando das 8:00 às 17:00 e estudando das 18:30 às 22:00, nos intervalos que me restam eu aproveito para dormir e me alimentar.

Pois bem, quarta-feira à noite, véspera de feriado, na casa do namorado:

Ele: Você pretende ir cedo para sua casa amanhã?
Eu: Não sei ainda. Por quê?
Ele: Você podia me ajudar a arrumar o apartamento.
Eu: Ah, não! Amanhã é feriado e eu quero descansar. E além do mais você está de férias, eu não. Quero aproveitar para descansar um pouco amanhã.
Ele: Tá certo, amanhã é feriado.
Eu: Isso!
Ele: Pode ser no final de semana então?


P.S.: Minha cara metade pede que eu esclareça aos meus leitores que, após este diálogo, ele caiu em si e prontificou-se a arrumar sozinho o apartamento e tentará conciliar a limpeza com os intervalos do Smallville.

05 maio 2008

Cochilo

Li certa vez em um livro que, dependendo do horário em que a pessoa nasce, existem, durante o dia certos horários ou melhor, partes do dia (que se não me falha a memória tinham a duração aproximada de duas horas cada) que podem deixá-la mais ou menos ativa ou favorecer esta ou aquela atividade específica. A explicação do livro pareceu-me complicada demais e como nem mesmo lembro seu nome, deixarei as explicações técnicas de lado. Mas um fato é certo, comigo acontece alguma coisa parecida. Existem horários do meu dia em que simplesmente eu deveria estar em casa dormindo ao invés de trabalhando e tentando me manter acordada. Parece que simplesmente meu nível de energia desce lá no pé. Um desses horários é depois do almoço. Sei que compartilho desta mesma situação com muitas e muitas pessoas e tenho certeza que certos estão os espanhóis em fazerem a siesta* todas as tardes. Hoje mesmo eu almocei e fui tentar ler um texto para a faculdade. Nada feito, quase dormi em cima da mesa. Para minha sorte, depois de uma hora de sonolência aguda voltei ao normal. Outro horário duro de encarar é lá pelas oito da noite. Se estiver na faculdade até que agüento bem (a não ser que o professor tenha aquela voz de cantiga de ninar) mas se estiver em casa, a situação complica. Quantas e quantas vezes eu resolvi descansar um pouco no sofá acordei às 10 da noite? Mas se eu conseguir me manter desperta neste horário, lá pelas nove aquela moleza já foi embora.

Agora um fato curioso é o seguinte: não consigo dormir até mais tarde. Mesmo que eu vá a uma festa e chegue em casa de madrugada dificilmente continuarei dormindo após as 9 da manhã. Mesmo quando era criança e podia dormir até tarde isso não acontecia. Seis horas da madrugada eu já estava de pé. Hoje não é tão fácil acordar tão cedo, mas mesmo assim não sofro para levantar às 6 (às vezes até antes) como tantas outras pessoas que conheço. Durante a manhã sinto-me muito mais disposta e por isso mesmo tento fazer a maioria das coisas durante este período. Acho que o livro devia ter um pouquinho de razão. Só não sei se os períodos em que me sinto mais ou menos disposta têm a ver com o horário em que nasci ou então com os hábitos que tive desde pequena. Mas de uma coisa eu tenho certeza, deveríamos instituir também aqui no Brasil nossa siesta.

Flickr Galeria de jose_miguel

*certo estava meu avô. Depois de aposentado continuou trabalhando como zelador em um prédio só que ele é que determinava a hora em que ia trabalhar. Lembro que ele vinha almoçar às 11:30 e ao meio dia ia tirar um cochilo. Depois de um pequeno cochilo de 2 horas e meia ele voltava ao trabalho totalmente disposto.