Quando eu era criança morava longe da minha tia e só nos encontrávamos duas vezes por ano. Para todo o resto do tempo em que ficávamos longe a saudade era diminuída através de cartas. Minha mãe escrevia para meus avós todos os meses e, assim que eu aprendi a escrever, ela incentivou-me a também escrever para minha tia. Como muitas vezes eu não fazia ideia do que botar no papel era minha mãe que ditava algumas frases para me ajudar, mas o importante naquela época não era exatamente o conteúdo da carta e sim o fato de alguém de longe reservar um tempo da sua vida para pensar no outro. Receber uma carta no meu nome era uma alegria imensa.
Depois da tia vieram as amigas de escola e os namorados, e as cartinhas continuavam ali, mostrando para alguém querido que mesmo longe eu não o esquecia. Até que veio a Internet. Chegaram os e-mails, o MSN, Orkut, Skype, Twitter e todas as suas variações. Através dessas ferramentas reencontrei velhos amigos e fiz novos e agora posso falar com eles sempre que quiser. Posso? Com exceção dos atuais colegas da faculdade raramente escrevo para alguém e raramente alguém me escreve. Quando abro meu e-mail pela manhã sempre encontro umas cinco novas mensagens: são os clubes de desconto, as atualizações dos sites que leio e um recado da professora para a próxima aula, esses nunca esquecem de mim. Já nem me lembro (se é que existiu) a última vez em que alguém escreveu para mim simplesmente para perguntar como eu estava ou para contar uma novidade. É claro que hoje tudo o que eu quiser saber posso encontrar no Twitter mas, e podem me chamar de antiquada, ainda que mensagens no Twitter e no Facebook sejam escritas especialmente para mim fica aquela sensação de coisa impessoal, instantânea.
Tenho minha parcela de culpa. Achei que com o advento de tantas novas ferramentas eu conseguiria ficar mais próxima dos amigos e da família. Isso não aconteceu. Por ter quase sempre a garantia de acesso a tal pessoa a qualquer hora do dia, simplesmente esquecemos de uma coisa fundamental: usar tal acesso. Confesso, por preguiça e pressa muitas vezes deixei de responder algumas mensagens e também enviei mensagens que nunca tiveram resposta. Vez ou outra no Orkut ou no Facebook vou “visitar” algum amigo. Abro seu álbum de fotos para acompanhar as novidades, olho tudo com interesse e depois vou embora. É assim que todo mundo faz certo? Errado. Faltou alguma coisa. Faltou dizer “gostei do seu cabelo novo” “que legal a sua viagem, você se divertiu bastante?” “nossa, como seu filho está lindo” “quanto tempo não te vejo, senti sua falta”. Não vale comentário em foto ou escrever no Twitter. Se não pode ser olho no olho e se por carta dá muito trabalho, que seja pelo menos por e-mail, direcionado somente para mim. Não precisa colocar nenhum anexo, não precisa ser extenso. Uma frase bem escrita basta. Sinto falta de escrever e sinto mais ainda quando ninguém me escreve.
Da próxima vez que receber um e-mail meu leia com carinho e, antes de apagá-lo, considere a possibilidade de respondê-lo. Lembre-se somente de que isso é importante para nós.